Título: Os atrativos da capitalização
Autor: Roberto Macedo
Fonte: Gazeta Mercantil, 16/09/2004, Opinião, p. A-2

Já ouvi gente dizendo que "títulos de capitalização oferecem baixo rendimento a investidores", ou mesmo especialistas de mercado afirmando que desaconselham a compra desses títulos, cujo maior atrativo são os sorteios. A primeira afirmativa está correta. A segunda só é válida na sua primeira parte se os especialistas de que trata vêem a capitalização apenas como investimento financeiro. Depois da vírgula, a afirmação é incompleta, pois a capitalização tem vários outros atrativos que, para muitas pessoas, podem ser mais importantes que os sorteios.

Antes de mencionar esses atrativos cabe distingui-la entre poupança e investimento. Poupar significa não consumir um rendimento, no todo ou em parte. Investimento é dar destino ao dinheiro poupado, visando um resultado econômico. Pode-se fazer as duas coisas ao mesmo tempo, isto é, poupar e investir. Por exemplo, ao receber mensalmente seu salário, muitas pessoas guardam parte (a poupança), destinando-a a um fundo de investimentos financeiros.

Ora, por definição a capitalização significa acumular um capital. Ou seja, é uma poupança. O que o poupador irá fazer depois com esse capital é outra história, pois poderá ser investido ou consumido. Para quem já tem um capital e está à procura de maximizar o rendimento dele, reconhecidamente há alternativas melhores do que a capitalização. Contudo, se não há poupança, o rendimento é secundário, e pode valer a pena sacrificá-lo para garantir a poupança.

Nessa linha, um dos atrativos da capitalização é que para muitas pessoas ela garante melhor a realização da poupança. Sabe-se que muita gente tem dificuldade de poupar, gastando todo o dinheiro. Nesse caso é preciso tornar a poupança obrigatória, como se fosse um "gasto" inadiável. Por exemplo, assumindo dívidas que significam investimento (como comprar uma casa) ou comprando títulos de capitalização. Com suas mensalidades, eles são um compromisso mais efetivo com a poupança, inclusive punindo o adquirente se não chegar ao final do plano, pois nesse caso o dinheiro não volta integralmente. Assim, estimula-se a levar o plano de capitalização ou de poupança até o final.

Uma variante desse atrativo serve às pessoas que têm dificuldades de programar uma poupança para determinados gastos, como os de fim de ano ou de uma viagem. Nesses casos, além de um compromisso efetivo com a poupança a capitalização abre a possibilidade de programar a última parcela para uma data um pouco anterior à realização de despesas como essas.

Além de incentivar o poupador a formar o seu capital, a capitalização é também alternativa para quem joga dinheiro fora apostando em loterias e outros jogos. Neles a probabilidade de ganhar é ínfima e, como regra geral, o dinheiro some. Na capitalização a pessoa também joga, a probabilidade de ganhar também é pequena, mas pelo menos o dinheiro retorna. É como se fosse um jogo de roleta no qual as fichas jogadas e perdidas não ficam com o crupiê. Nesse caso, a capitalização é até um bom investimento, se comparada ao jogo usual, no qual as pessoas investem pensando num resultado econômico que viria com o sorteio. Viria, mas em geral nunca vem.

A capitalização também se recomenda às pessoas para as quais o valor da mensalidade do título é insignificante diante da sua renda, o mesmo não acontecendo com o valor do resgate, que se torna substancial pelo efeito da acumulação. São pessoas que, aliás, costumam despender quantias até maiores que a mensalidade da capitalização em gastos freqüentemente supérfluos. Para elas a capitalização gera, no final do plano, um valor significante que pode ser investido ou gasto com maior cuidado.

Como se vê, tudo depende do perfil das pessoas. Em resumo, a capitalização tem um charme inquestionável para quem tem uma ou mais das seguintes características: dificuldades de poupar de outras formas; necessidade de programar recursos para objetivos e datas; apego ao jogo; gosta de chegar a uma soma valiosa juntando mensalmente um dinheirinho que, de outra forma, se perderia em despesas de pouca ou nenhuma relevância. Digo isso não somente por convicção, mas também por praticar a capitalização e dar-me por satisfeito com os seus resultados.

Concluo recomendando algumas cautelas aos capitalizadores: analisar a relação entre o valor a ser pago e o do resgate, pois nem todos os planos devolvem 100% mais a TR; exigir transparência (prefiro planos com extratos mensais onde há indicação dos títulos sorteados mais aviso de vencimento/resgate; gostaria também de um demonstrativo trimestral com todos os detalhes da capitalização); evitar o resgate antes do final do plano, pois leva a prejuízos, particularmente sérios no seu início; e não se esquecer de resgatar o plano imediatamente após a prestação final.

kicker: Embora com rendimento baixo, a capitalização pode criar o hábito de poupar