Título: Ações à venda somam R$ 3 bilhões
Autor: Altamiro Silva Júnior
Fonte: Gazeta Mercantil, 08/09/2004, Finanças & Mercados, p. B-1

Total supera captações do primeiro semestre; Grendene, Braskem, CPFL e Weg fazem oferta. Com o fim das férias de verão nos Estados Unidos e Europa, o mercado acionário volta a ficar aquecido. Quatro novos lançamentos de ações prometem movimentar, no mínimo, R$ 3 bilhões este semestre. Grendene, CPFL Energia, e Braskem já registraram o pedido para a oferta pública na Comissão de Valores Mobiliários (CVM). A Weg concluiu na sexta-feira uma operação que rendeu R$ 319 milhões. Os R$ 3 bilhões já superam os R$ 2,7 bilhões captados nos quatro lançamento realizados no primeiro semestre - Companhia de Concessões Rodoviárias (CCR), América Latina Logística (ALL), Natura e Gol.

Outras empresas, como Magazine Luiza, Zoomp, e os laboratórios Delboni Auriemo, também planejam abrir o capital.

Para Alexandre Póvoa, sócio-diretor da Modal Asset Management, com a retomada do crescimento da economia, é natural que as empresas busquem recursos. "O mercado é bom e ainda há espaço para novos lançamento de ações", diz. O que preocupa, segundo ele, é que, com a volta destas operações, muitos investidores estão comprando os papéis apenas com objetivo de especulação.

A CPFL Energia divulgou na segunda-feira os detalhes de sua oferta pública. A empresa deve fazer uma das maiores ofertas de ações dos últimos anos, que pode superar R$ 1 bilhão. Ela pretende fazer uma operação mista, com a emissão de 39,6 milhões de ações ordinárias (mercado primário) e a venda de 7,9 milhões de papéis já existentes (mercado secundário). A estimativa da empresa é que os papéis sejam vendidas por um preço entre R$ 17,00 e R$ 20,00 na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa).

A CPFL também vai vender American Depositary Shares (ADS) na Bolsa de Nova York (Nyse). A estréia da CPFL na Bovespa e na Nyse deve acontecer no final de setembro.

Para as pessoas físicas, serão destinados 20% da oferta global. A novidade desta operação é que pequenos investidores no exterior também poderão comprar os papéis. Nas operações que já aconteceram este ano, a venda lá fora ficou restrita aos investidores institucionais (como os fundos de pensão). O período de reserva dos papéis vai do dia 14 ao dia 17. O investimento mínimo é de R$ 1 mil e o máximo, de R$ 300 mil.

A CPFL Energia é uma holding controlada pela VBC Energia (Votorantim, Bradespar e Camargo Corrêa). Os outros sócios são a 521 Participações (Previ, fundo de pensão do Banco do Brasil) e a Bonaire Participações (Funcesp, Sistel, Petros e Sabesprev). A oferta pública de ações está sendo coordenada pela Merrill Lynch e pelo Banco Pactual. A companhia vai listar as ações no Novo Mercado, segmento da Bovespa para companhias transparentes e que oferecem melhor tratamento ao minoritário.

Outra novata na Bovespa é a Grendene. A fabricante de calçados (que tem as marcas Melissa e Rider) deve estrear na bolsa em outubro e pretende vender R$ 900 milhões de ações ON no mercado secundário (papéis que pertencem à família Bartelle, dona da empresa). A venda se dará apenas no Brasil, mas os bancos coordenadores farão um esforço de colocação das ações no exterior para grandes investidores, semelhante à operação da Natura. Segundo analistas do mercado, o total que será vendido corresponde a 25% do capital da empresa. As ações também serão listadas no Novo Mercado.

Já a operação da petroquímica Braskem terá a emissão de R$ 900 milhões em ações preferenciais, na Bovespa e na Nyse. Para as pessoas físicas no mercado local, serão reservados 10% do total. Seguindo o padrão das outras ofertas, os pequenos investidores poderão comprar no mínimo R$ 1 mil e no máximo R$ 300 mil, e os clubes de investimento, até R$ 600 mil. O período de reserva vai do dia 8 ao dia 21. Segundo um analista de um banco que participa da operação, a captação vai melhorar a situação financeira da Braskem, que tem uma dívida de R$ 6,7 bilhões. A relação dívida/ebtida vai passar de para 2,5 (antes, era maior que 4).

As empresas que oferecem boas práticas de governança corporativa são as mais recomendadas pelos analistas. O relatório mensal do Banco Fator, assinado pelos analistas Lia Takahashi e Vladimir Caramaschi, sugere aos clientes do banco atenção às novas operações, principalmente para as companhias mais transparentes.

No primeiro semestre, as vendas de ações da CCR, ALL, Natura e da Gol movimentaram R$ 2,7 bilhões. Em todas elas, a demanda pelas ações superou a oferta - na Natura, chegou a ser dez vezes maior. Em todo o ano de 2003, foram movimentados R$ 2,7 bilhões, em operações no mercado primário e secundário. Não houve naquele ano, porém, nenhuma abertura de capital. A Natura, em maio, quebrou um jejum de dois anos sem novas empresas na Bovespa. Antes dela, a última companhia a abrir o capital foi a CCR, em fevereiro de 2002.