Título: Ação do BC reduziu o risco sistêmico
Autor: Lucia Rebouças
Fonte: Gazeta Mercantil, 24/11/2004, Finanças & Mercados, p. B1

A possibilidade de os pequenos e médios bancos serem contaminados pela crise do Banco Santos foi substancialmente reduzida pela ação do Banco Central - que liberou o setor do depósito compulsório até R$ 300 milhões (sobre depósitos a prazo) - informou, o diretor sênior da Fitch Rating, Rafael Guedes.

Segundo Guedes, na semana passada houve uma retirada preocupante de recursos desses bancos - os números são sigilosos -, mas a ação rápida e precisa do BC foi importantíssima para o sistema, além de mostrar que a autoridade monetária está vigilante.

"Os fundamentos dos pequenos e médios bancos continuam sólidos. Os problemas existentes no Banco Santos são pontuais e não são encontrados em nenhuma outra instituição", afirma. Mas Guedes alerta: como o investidor vai reagir é imponderável e, se houver um movimento irracional, não há banco que resista, por maior e mais sólido que seja."A tensão, a volatilidade e o estresse que o mercado financeiro brasileiro enfrentou na semana passada justificam a preocupação de que o sentimento e comportamento dos investidores possam sobrepor-se aos fundamentos de crédito neste momento", disse.

Também na avaliação do presidente da EFC Engenheiros Financeiros e Consultores, Carlos Coradi, o BC afastou a iminência de um risco sistêmico, que se delineava na semana passada. Ele acredita, porém, que uma ponta de risco ainda existe. Tudo depende de como vão se comportar os resgates em fundos por eles administrados e ainda os resgates e renovações de seus CDBs.

Pleito antigo

Conforme Coradi, a Associação Brasileira de Bancos (ABBC) pleiteava a redução do compulsório há meses. O pleito tinha como base estudos realizados por várias consultorias, mostrando que os bancos pequenos e médios não possuem agências e têm baixo volume de captação de depósitos à vista. Por isso, ficam dependentes dos depósitos a prazo e, consequentemente, sofrem mais com o repasse de depósitos compulsórios.

A Fitch Rating foi a primeira agência classificadora de risco a atentar para os problemas do Santos. Desde a intervenção no banco, a agência está analisando o potencial impacto em todos os seus ratings, particularmente no segmento de bancos pequenos e médios.

Em comunicado divulgado, ontem, a Fitch informou que seu monitoramento nestas instituições demonstra que elas têm mantido um colchão de liquidez entre 13% e 110% de seu patrimônio ou de 4% a 70% de sua captação a prazo. Adicionalmente, grande parte desses bancos ficou mais rigorosa para concessão de novos créditos. Aliado ao curto prazo dos créditos que já possuem, isso beneficia o caixa das instituições.

Questões delicadas

Na opinião da Fitch, uma preocupação que não tem sido mencionada e devidamente percebida pelo mercado é o fato de que as empresas que possuíam limite de crédito no Santos terão que rapidamente obter novas linhas com terceiros.

Outra questão delicada é que, no nicho de atuação do Santos, é comum os devedores serem ao mesmo tempo depositantes, nos bancos que concedem as linhas ou em suas coligadas. Como a lei brasileira não prevê a compensação de dívidas de uma empresa com os depósitos/haveres desta mesma empresa junto à instituição bancária (netting), elas precisarão obter novos recursos em outros bancos e não poderão contar com seu colchão de liquidez, aplicado no banco sob intervenção.kicker: Fundamentos dos pequenos e médios bancos continuam sólidos, segundo a Agência Fitch