Título: Combate à fome no Haiti é prioridade
Autor: Sheila Machado
Fonte: Gazeta Mercantil, 04/11/2004, Internacional, p. A10

Os chanceleres da América Latina e do Caribe terminaram ontem a declaração provisória que os presidentes discutem hoje e assinam amanhã, quando acaba, no Rio de Janeiro, a Cúpula do Grupo do Rio. O documento vai defender uma maior cooperação da América Latina com o Haiti e uma reforma ampla na ONU, para que não seja incluída apenas a reforma do Conselho de Segurança, isso devido à importância da ampliação da democracia e da justiça social no continente.

"Neste sentido, as questões de combate à fome e a delicada situação social do Haiti são prioridade, já que todos os países estão envolvidos com estes temas, de maneira direita ou indireta. Além disso, o documento vai tratar ainda de projetos específicos de apoio à Nicarágua, Equador, Costa Rica, Venezuela e Bolívia, para que fortaleçam suas instituições democráticas e o combate à corrupção", disse o ministro de Relações Exteriores do Brasil, Celso Amorim.

O Equador pediu ao Grupo do Rio a criação de uma comissão de diálogo com a oposição ao presidente Lucio Gutiérrez, que cancelou ontem mesmo sua vinda ao Rio, pela crise política que pode desestabilizar o país. Segundo Amorim, pode ser criado um "Grupo de Amigos" do Equador, uma iniciativa de incentivo ao diálogo entre as forças discordantes na política, que funcionou na Venezuela de Hugo Chávez. "A defesa da democracia no Equador interessa a todos. A posição do grupo do Rio é a de não-intervenção, mas também não é a de indiferença", explicou Amorim.

O chanceler disse que a abertura de um diálogo maior com Cuba, como o Brasil quer propor, ainda não foi tratado. Possivelmente, o assunto será tema do encontro amanhã entre os presidentes, mas de modo informal, não deve constar na declaração final da cúpula, que será assinado por 18 autoridades.

Além das medidas contra a corrupção e a pobreza, outra preocupação dos Estados participantes é o aprofundamento da integração econômica entre os países latinos. O assunto também foi tratado na reunião dos chanceleres, no Copacabana Palace. "O interesse mais imediato é a integração entre o Mercosul e a Comunidade Andina. O comércio do Brasil com a América do Sul cresceu quase 60% em termos absolutos, só não cresceu mais do que a União Européia. É impossível que setores industriais estejam insatisfeitos", defendeu o ministro.

A proposta peruana de criação de "Mecanismos Financeiros Inovadores", para escorar a integração regional em um programa de desenvolvimento e redução de pobreza, também foi discutida. Mas Amorim fez mistério sobre este conteúdo na declaração que os presidentes deverão assinar: "Há avanços", limitou-se a afirmar.