Título: Cidades planejadas atraem empresas
Autor: )(Nyssio Ferreira Luz
Fonte: Gazeta Mercantil, 14/10/2004, Opinião, p. A-3

É preciso estruturar ações que levem ao desenvolvimento regional. Em um país de grandes dimensões e muitos bolsões de pobreza, faz-se necessário estruturar ações que levem ao desenvolvimento regional.

Uma saída que oferece bons resultados é a estruturação das competências por regiões. São ações simples que dependem da participação da população, organizada pelas entidades de classe, pelas associações civis representadas e pelo governo.

A união desses três setores pode levar ao surgimento de uma entidade regional que aglutine as competências a fim de colocar em prática planos de desenvolvimento regional.

A idéia é que essa entidade diagnostique potencialidades e debilidades locais e faça com que as cidades participantes trabalhem unidas.

Assim, uma cidade com vocação eminentemente turística muitas vezes carece de produtos básicos ou boas instituições educacionais, enquanto a cidade vizinha - eventualmente sem nenhum atrativo turístico - possui boas escolas.

A proposta é levantar esses pontos positivos e/ou negativos para que essas cidades possam se desenvolver em conjunto, fazendo com que a competição deixe de existir e levando o desenvolvimento a toda a região.

E, a partir do levantamento desses dados, é possível produzir índices relativos à região, como, por exemplo, o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), que deve ser apresentado regularmente à população para que leve a sociedade a tomar consciência de sua realidade, passando a cobrar ações de forma mais positiva. Esse posicionamento atuante induz a que as ações políticas sejam de longo prazo, pois estarão embasadas em desejos e necessidades de uma sociedade mais presente.

Os índices regionais também facilitam a negociação com empresas interessadas em interagir com a sociedade e que, necessariamente, estão na dependência dos dados de desenvolvimento local para se interessarem pela realização de investimentos.

Quando uma cidade ou região tem sua estratégia de desenvolvimento lastreada em logística territorial - portanto mais dinâmica -, aproveitando de modo mais racional e eficiente seu espaço físico, torna-se automaticamente alvo de interesse. O resultado é a migração de empresas para lá , sem a necessidade de uma política absurda de incentivos fiscais. Os empreendedores adquirem mais segurança em efetuar investimentos e a comunidade se compromete com resultados de médio e longo prazos.

Hoje, o que vemos é uma verdadeira guerra fiscal, resultado da falta de planejamento logístico. Os governos cedem áreas e oferecem incentivos nem sempre suficientes, porque a região não atende todas as condições que a fábrica precisa para se instalar.

Com isso, essas cidades acabam por colher resultados bastante negativos a médio e longo prazos. Ou as cidades passam a ter problemas de caixa para sustentar o desenvolvimento provocado pela migração desordenada de empresas que geram problemas tais como desgaste das vias de acesso, aumento dos gastos com segurança e falta de capacidade para atender áreas básicas como saneamento, moradia e educação, ou as próprias empresas percebem que os incentivos já não são o diferencial competitivo que necessitam e simplesmente mudam-se para outras plagas.

Enfim, regiões planejadas conseguem gerar competências locais fundamentadas em políticas públicas bem elaboradas e de efeito, que permitem uma geração de diferenciais competitivos, sem precisar exagerar nos incentivos fiscais.

kicker: Políticas públicas bem elaboradas permitem a geração de diferenciais competitivos