Título: Cargill amplia produção para acompanhar demanda interna
Autor: Tenório,Roberto
Fonte: Gazeta Mercantil, 27/05/2009, Agronegócio, p. B9

São Paulo, 27 de Maio de 2009 - A Cargill anunciou que vai aumentar o processamento do complexo soja para atender o crescimento do consumo no Brasil. Mesmo com o plano de expansão, o foco de atuação de produtos como o óleo continuará no mercado interno, uma vez que o excesso de tributos e o protecionismo tributário aumentam a competitividade de concorrentes como Argentina e China, restringindo o crescimento no mercado internacional. Como parte desse plano, a empresa vai inaugurar hoje, em Primavera do Leste (MT), uma planta industrial com capacidade para 3 mil toneladas de soja por dia, produzindo 2,3 mil toneladas de farelo e 560 toneladas de óleo. No total, foram investidos R$ 210 milhões na unidade.

Além da questão mercadológica, o objetivo é explorar o Norte, onde a companhia não está presente, e melhorar a logística de suprimento de suas unidades instaladas em Rio Verde (GO) e Três Lagoas (MS). A partir de agora, a empresa contará com seis plantas em todo o País, somadas a Mairinque (SP), Uberlândia (MG), Três Lagoas (MS), Barreiras (BA) e Rio Verde (GO). "Nós sempre fomos fortes no Sudeste. A partir da instalação da unidade de Rio Verde, nossa participação no Norte melhorou. Por isso escolhemos Mato Grosso como base dessa fábrica, para fortalecer ainda mais nossa presença por lá", comentou José Luiz Glaser, diretor do complexo soja da Cargill no País.

A nova planta servirá para substituir Mairinque (SP), cuja produção foi interrompida por causa do avanço da cana-de-açúcar. "Nós trabalhávamos com 60% a 70% da soja de outros Estados. Após o desconto do ICMS, ficava inviável exportar qualquer coisa porque não ganhávamos nada". Atualmente, segundo disse, mesmo com o esmagamento interrompido na fábrica de São Paulo, a capacidade de refinamento é de mil toneladas de óleo por dia. "Não vamos desativar de vez porque em Ponta Grossa (PR), assim que demolimos, surgiu o programa de biodiesel, que poderia demandar óleo daquela unidade", completou.

Glaser descartou a entrada da empresa no mercado de combustível vegetal. "Primeiro porque não gosto da ideia de queimar comida e segundo porque só tem um comprador, que atua via leilão". Ele afirmou que o excesso de impostos dificulta cada vez mais a construção de novas instalações. Conforme disse, a empreitada em Primavera do Leste foi facilitada pelos subsídios governamentais. "Conseguimos mandar a carga de óleo para o Sul com custos inferiores aos fretes de São Paulo, destacou". Conforme explicou, o objetivo é manter a eficiência em grãos, farelo e óleo para abastecer o mercado doméstico. "O consumo de farelo é determinado pelo aumento de renda, que puxa a demanda por proteína. Já a procura por óleo, é o crescimento populacional que determina a procura".

O executivo afirmou ainda que o modelo tributário nacional restringe a competitividade com outros países. "Na Argentina, por exemplo, qualquer fábrica processa 16 mil toneladas por dia por causa dos incentivos". Além disso, afirmou que as políticas protecionistas para as indústrias chinesas, maiores compradores de soja em grão, impedem a venda de óleo ao país. "A única oportunidade seria na Europa, onde os custos para produzir são cada vez maiores. Porém, não conseguimos ser competitivos".

Para este ano, a expectativa é que os empréstimos aos produtores cresçam. Em 2008, foram gastos US$ 400 milhões em crédito aos produtores. Para este ano, esse número pode subir para até US$ 550 milhões. Glaser desmentiu a venda do porto de Santarém (PA), onde a empresa movimenta 1,1 milhão de toneladas de soja. No Guarujá (SP), onde 3 milhões de toneladas são embarcados, disse que a concessão para uso do porto foi prorrogada até agosto deste ano. "Acredito que será prorrogada por mais seis meses".

(Gazeta Mercantil/Finanças & Mercados - Pág. 9)(Roberto Tenório)