Título: Acordos salariais sobrevivem à crise em 2008, aponta Dieese
Autor: Saito,Ana Carolina
Fonte: Gazeta Mercantil, 12/03/2009, Brasil, p. A11

São Paulo, 13 de Março de 2009 - A crise financeira internacional não afetou as negociações salariais em 2008. Para este, no entanto, os sindicatos preveem dificuldades em obter aumentos acima da inflação. Além disso, a discussão de alternativas para manutenção do emprego passam a ocupar maior espaço nas mesas de negociação entre trabalhadores e empresas.

No ano passado, de um total de 706 categorias, 77,6% obtiveram reajustes acima da inflação, segundo o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese). O resultado é um pouco pior que o apurado em 2007, quando 87,7% dos acordos salariais foram firmados com ganho real. "A crise não afetou as negociações em 2008. Até porque muitas categorias já haviam fechado acordos antes dos agravamento da crise no final do ano passado", afirmou o coordenador de Relações Sindicais do Dieese, José Silvestre Prado de Oliveira. Segundo ele, o que explica o resultado de 2008 é a alta da inflação, pressionada no período pelo aumento dos preços das commodities.

Mesmo com a queda no percentual de categorias com reajustes acima da inflação em relação a 2007, o desempenho é o terceiro melhor da série iniciada pelo Dieese em 1996. Mas, na avaliação de Silvestre, é "muito provável" que ocorra uma piora neste ano. "Vai depender do aprofundamento da crise", diz.

Os trabalhadores da indústria de calçados de Franca e região, no interior paulista, já enfrentam, no entanto, as dificuldades para negociar na crise. Com data-base em fevereiro, eles ainda não fecharam o acordo para o reajuste deste ano. "As negociações, por enquanto, estão suspensas", disse Paulo Afonso Ribeiro, presidente do Sindicato dos Sapateiros, que representa 25 mil trabalhadores.

A categoria pede aumento de 16,5%, o que representaria um ganho real de 5% mais outros 5% de produtividade. Os representantes da indústria calçadista oferece 6,5%, percentual pouco acima da inflação, segundo o sindicato. No ano passado, os trabalhadores do setor conquistaram reajuste de 7%, com ganho real de cerca de 1,27%. Ribeiro admite que não será possível chegar ao percentual proposto, mas espera melhora na oferta dos empresários. "Os empresários estão também forçando a redução da jornada de trabalho e querem impor banco de horas", acrescentou.

Para Silvestre, um fator que pode amenizar os efeitos da crise sobre as negociações salariais é o atual cenário de inflação. Com a desaceleração da economia, a tendência é de uma alta menor nos preços neste ano.

Embora a maior parte das categorias tenham conquistado aumentos superiores ao Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) nos últimos anos, os ganhos reais ficaram aquém do crescimento econômico no período. No ano passado, quando o Produto Interno Bruto (PIB) avançou 5,1%, entre as negociações que resultaram em reajustes superiores à inflação, apenas duas, que representa 0,4% do total, garantiram ganhos de mais de 5%. Em 2007, o número acordos chegou a 10, ou 1,6% dos acordos.

A maioria dos reajustes acima da inflação se concentra na faixa de 0,01% e 2%. Segundo o Dieese, 45% das categorias conseguiram ganhos reais de 0,01% e 1% no ano passado, contra 39% em 2007, e 37%, entre 1,01% e 2%.

"Mesmo nos momentos bons, perdemos a corrida com o PIB. Co m cenário traçado para 2009, é um sinal de que vamos enfrentar dificuldades", comenta o vice-presidente da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), Nivaldo Santana. "O movimento sindical dança conforme a música. Para esse próximo período de negociação, ele também precisa intervir de forma mais geral, lutando por mudança na política econômica", disse, defendendo a redução da taxa de juros e a ampliação dos investimentos.

Ente os setores da economia, a indústria foi a que apresentou maior percentual de categorias com reajustes superiores à inflação, 87%, no ano passado. No comércio, 85% das negociações garantiram ganho real. No caso, dos trabalhadores do setor de serviços, esse percentual cai para 61%.

(Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 11)(Ana Carolina Saito)