Título: Acelera a queda dos preços agrícolas
Autor: Batista, Fabiana
Fonte: Gazeta Mercantil, 29/10/2008, Agronegócio, p. B12

São Paulo, 29 de Outubro de 2008 - Coincidência ou não, os preços de diversos produtos agrícolas já começaram a cair no atacado nos últimos sete dias. Analistas resistem em dizer que, em comum, o comportamento em baixa tem como explicação algum efeito da recessão nas economias mundiais, que promete diminuir o ritmo de consumo. Mas, é inevitável negar que a falta de crédito afeta neste momento fortemente alguns setores que, em alguns casos, estão liquidando estoques para levantar caixa. Depois das carnes de frango, bovina e suína, há registro de queda de preço em açúcar, álcool e leite. A tendência é que esse movimento provoque queda na inflação.

A falta de crédito no setor sucroalcooleiro está fazendo com que as usinas ofertem mais produto no mercado para fazer caixa, o que está provocando queda nos preços internos. "Além disso, os compradores, na expectativa de as cotações caírem ainda mais, estão comprando menos, praticamente da `mão para a boca¿, o que contribui para esse cenário baixista", diz Miguel Biegai, analista da Safras & Mercado.

Diferentemente do que comumente ocorre, os preços do açúcar subiram durante toda a safra, sobretudo com uma produção abaixo do esperado pelo setor. Em 1 de maio, dia em que oficialmente começa a moagem, a saca de 50 quilos do açúcar cristal em São Paulo, valia R$ 27,49. Entrou em valorização contínua ao longo dos meses seguintes até bater R$ 31,27 em 20 de outubro. No dia 27 tinha recuado para R$ 31,03, recuo de 0,76% em uma semana, segundo o último levantamento do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea/Esalq/USP).

Com o álcool a queda foi mais intensa. O anidro, em uma semana, recuou de R$ 0,9203 para R$ 0,8874, retração de 3,5% entre 13 e 20 de outubro, segundo o Cepea. No mesmo período, o álcool hidratado registrou a mesma queda, 3,5%.

"Mas isso não está ocorrendo só em São Paulo. No Paraná, as usinas também estão sem recursos para capital de giro e vendendo mais o produto para fazer caixa. O problema é que o comprador está mais retraído e, por isso, não conseguimos vender muito, ou seja, levantar um volume alto de recursos", lamenta Anísio Tormena, presidente do Sindicato da Indústria do Açúcar e do Álcool do Paraná.

"É possível que o pecuarista, que vinha segurando mais a venda de animais, tenha que agora liberar mais boi para venda, devido ao aperto de crédito", analisa Antônio Márcio Buainain, economista do Núcleo de Economia Agrícola e do Meio Ambiente do Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

Em meio à possibilidade de recessão e menor consumo, há setores que, neste momento de crise, se deram conta de que a produção cresceu mais do que a demanda e estão em alerta com a queda dos preços. É o caso do setor leiteiro, segundo explica Cristiane de Paula Turco, analista da Scot Consultoria. Os preços médios do litro do leite em outubro estão 5,9% mais baixos que os de setembro. "As exportações cresceram muito, os preços ficaram valorizados e o setor resolveu investir. Mas há quatro meses a sobra de produto pressiona o preços", diz Cristiane.

Em 2006, quando os preços do leite estavam em R$ 0,56 o litro (considerado baixo) a produção brasileira foi de 25,4 bilhões de litros. Em 2007, esse volume cresceu para 26,9 bilhões e os preços já apresentavam valores recordes (R$ 0,71 o litro). O resultado é que para este ano a produção de leite deve avançar para 29 bilhões de litros, expansão de 7,8%, segundo estimativa da Scot Consultoria. "O consumo interno, que absorve 96% da produção interna, continua estável, em 130 milhões e 140 milhões de litros", pondera Cristiane, da Scot Consultoria.

Descompasso entre oferta e demanda também vem ocorrendo com a produção de frango que foi expandida em 5,5% de setembro para outubro - de 360 milhões de frangos para 380 milhões. O resultado é que entre 20 e 27 de outubro, ou seja, em apenas sete dias, os preços caíram 2,8% (frango resfriado no atacado de São Paulo, segundo o Cepea/Esalq/USP).

Inflação

Para o economista Buainain, da Unicamp, é preciso ponderar ao afirmar que a queda nos preços dos alimentos está sendo causada pela crise no mercado mundial. "Cada mercado tem sua particularidade", pondera. Mas, é consenso que esses preços mais baixos devem empurrar para baixo os índices de inflação, sobretudo beneficiando as classes de menor renda, entre as quais o consumo de alimentos pela mais na cesta de compras.

(Gazeta Mercantil/Finanças & Mercados - Pág. 12)(Fabiana Batista)