Título: AL dá sinais de retração, avalia FGV
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Fonte: Valor Econômico, 21/08/2008, Brasil, p. A3

Apesar de ainda mais robustas do que a dos países ricos, as economias do Brasil e da América Latina já entraram em fase de contração, aponta a Sondagem Econômica da América Latina, divulgada ontem pela Fundação Getúlio Vargas (FGV). O Índice de Clima Econômico da região cedeu de 4,9% em abril para 4,6% em julho, queda provocada especialmente por conta da piora das expectativas futuras.

O indicador que avalia as previsões quando ao cenário futuro sofreu "uma clara deterioração", segundo avaliação de Lia Vals, coordenadora da pesquisa. O índice passou de 4% em abril para 3,4% em julho na América Latina. No caso do Brasil, variou negativamente de 5,1% para 3,8% - bem abaixo da média dos últimos dez anos, de 6,4%.

Ainda sem sentir os efeitos da recessão norte-americana, detonada pela crise do "subprime", a avaliação em relação à situação presente da economia da América Latina se manteve inalterada, oscilando negativamente em apenas 0,1 ponto percentual de abril para julho - de 5,8% para 5,7%. Já no Brasil, passou de 7,9% para 7,2%, apresentando uma pequena retração.

Para Lia Vals, a América Latina e os demais países emergentes não sentem ainda com a mesma intensidade os efeitos da desaceleração da economia global, liderada pelos Estados Unidos, já que se beneficiam ainda dos preços recordes das commodities. Em todo o mundo, o Índice de Clima Econômico cedeu de 4,6% em abril para 4,1% em julho - abaixo da marca registrada na América Latina.

Mesmo assim, diz, a avaliação dos países latino-americanos já dá sinais de deterioração. "Até abril, a situação ainda era favorável. Agora, já estamos num cenário de contração, mas não é ainda um quadro recessivo como o apresentado pelos países ricos", diz a economista.

Segundo a pesquisadora, as expectativas de empresários e especialistas ouvidos pela Fundação Getúlio Vargas no Brasil estão melhores do que no resto da América Latina, mas os índices já sinalizam "uma clara piora". Os motivos, afirma, são o aumento da taxa de juros e especialmente o repique da inflação, fenômeno que afeta vários países emergentes.

"O que pesou muito no caso do Brasil foi a questão da inflação, que mexeu muito com as expectativas. No Brasil, há uma sensibilidade maior à inflação, até por sua história", afirma.

De acordo com a pesquisa, há um descompasso entre os desempenhos dos países ricos, mais afetados pela crise imobiliária nos Estados Unidos, e os países emergentes, apesar da alta da inflação.

Para compor a pesquisa, a FGV ouviu 116 especialistas na América Latina, que foram indagados sobre a situação atual da economia de seus países e as perspectivas futuras.