Título: O 5° maior credor dos EUA
Autor: Cristino, Vânia
Fonte: Correio Braziliense, 02/03/2011, Economia, p. 13

O Brasil tornou-se o quinto maior financiador da dívida do governo dos Estados Unidos. Dados divulgados pelo Tesouro norte-americano mostram que, em dezembro do ano passado, o país detinha US$ 186,1 bilhões em títulos da nação mais rica do mundo, atrás apenas da China, com US$ 1,16 trilhão, do Japão (US$ 882,3 bilhões), do Reino Unido (US$ 272,1 bilhões) e dos países exportadores de petróleo, como a Arábia Saudita e a Venezuela ¿ esses, com investimentos de US$ 211,9 bilhões.

Somente em 2010, o Brasil aumentou os investimentos na dívida dos EUA em US$ 16,9 bilhões, apesar das baixíssimas taxas de juros pagas pelos papéis. A alegação do Banco Central, que administra os recursos oriundos das reservas internacionais do país, é a de que a compra de títulos do governo norte-americano é muito segura. Além disso, é preciso manter um colchão em dólares, uma vez que o grosso do endividamento brasileiro no exterior está na mesma moeda. É o que o mercado chama de hedge.

Pelos registros do BC, com as reservas internacionais do país na casa dos US$ 300 bilhões, mais da metade dos recursos hoje está financiando o governo dos Estados Unidos. ¿Trata-se de um importante seguro contra crises¿, disse o diretor de Administração do BC, Anthero Meirelles, na reunião da semana passada do Conselho Monetário Nacional (CMN). A afirmação foi uma resposta às críticas de uma corrente de economistas, que acha exagerado o custo das reservas, já que elas rendem, em média 2% ao ano, mas o Tesouro do Brasil paga 11,25% anuais para se financiar. No ano passado, o BC registrou prejuízos de R$ 26 bilhões com essa diferença de taxas.

¿Já vimos, no passado, o que aconteceu no país quando enfrentamos crises internacionais. O Brasil teve que puxar a taxa de juros para mais de 40% ao ano porque não tinha reservas suficientes para se defender¿, observou o diretor do BC. Ele garantiu que, mesmo com as queixas, a política de acumulação de reservas continuará a mesma. Desde janeiro último, a autoridade monetária comprou quase US$ 15 bilhões para reforçar o seguro anticrise.

Fatura da bolha Nos Estados Unidos, confortável com o financiamento da dívida de seu país, o secretário do Tesouro norte-americano, Timothy Geithner, admitiu que o mercado imobiliário local, responsável pela crise que levou o mundo à recessão em 2008 e 2009, ainda levará pelo menos dois anos para se recuperar. ¿A situação do mercado imobiliário continua difícil. Há muitos prejuízos a serem absorvidos pelo sistema. Portanto, será preciso um tempo para a recuperação¿, disse.

Mão amiga

Veja quais são os maiores financiadores da dívida norte-americana

Países - Total (Em US$ bilhões) China - 1.160,1 Japão - 882,3 Reino Unido - 272,1 Exportadores de petróleo - 211,9 Brasil - 186,1 Países do Caribe - 168,6 Taiwan - 155,1 Rússia - 151,0 Hong Kong - 134,2 Suíça - 107,0

Fonte: Tesouro dos Estados Unidos.

Indústria se recupera Nova York ¿ A indústria dos Estados Unidos registrou, em fevereiro, o maior crescimento em quase sete anos (desde maior de 2004), mas a taxa de inflação no setor também subiu. Segundo o Instituto de Gestão de Fornecimento, o índice de atividade das fábricas norte-americanas subiu de 60,8 para 61,4, superando previsões de 61,0. Qualquer número acima de 50 indica expansão no segmento.

Já a medida de preços pagos pela indústria subiu de 81,5 para 82,0, o 19° mês seguido de alta, indicando uma pressão por repasses aos consumidores tão logo a demanda se fortaleça. ¿Devemos continuar em um ambiente de crescimento forte da atividade industrial, pelo menos durante o curto prazo, mas não podemos ignorar o fato de os preços dos insumos estarem mais altos, sobretudo os de energia, que podem prejudicar um pouco o investimento¿, disse Tom Porcelli, economista-chefe para os EUA do RBC Capital Markets.

Preocupações com a inflação aumentaram em meio aos conflitos políticos no Oriente Médio e no Norte da África, que levaram os preços do petróleo ao maior nível em dois anos. A inflação nos preços da indústria também é visível em países como a Inglaterra e a Índia. O grande temor dos analistas é de que, em um quadro de reajustes disseminados de preços, os bancos centrais sejam obrigados a forçar a mão no aumento das taxas de juros, comprometendo o avanço da economia.

Inflação preocupa Bruxelas ¿ O Produto Interno Bruto (PIB) da Zona do Euro terá, em 2011, aumento maior do que o esperado, mesmo com toda a disparada dos preços do petróleo. Pelas projeções da Comissão Europeia, o salto na economia será de 1,6% (frente ao 1,5% anunciado anteriormente), graças, sobretudo, ao ímpeto da Alemanha, que avançará 2,4%. Já a Espanha continuará na lanterna, com incremento de apenas 0,8%, próxima da recessão. A região, integrada por 17 países desde a entrada da Estônia em 1º de janeiro, registrou, no ano passado, crescimento de 1,7%, consolidando sua saída da pior crise desde a Segunda Guerra Mundial. Em 2009, houve retração de 4,1%.

Se o petróleo não impedirá o avanço do PIB, dará trabalho para o Banco Central Europeu (BCE) para conter a inflação, devido à instabilidade no Oriente Médio. Ontem, o barril do óleo registrou a maior cotação de setembro de 2008 (veja matéria na página 11). A estimativa é de que os índices de preços ao consumidor fiquem em 2,2% (ante uma prévia de 1,8%). A previsão veio acompanhada da seguinte advertência: ¿tudo dependerá, em certa medida, da evolução política no Oriente Médio e na África do Norte¿. A inflação recomendada pelo BCE é de, no máximo, 2%.

Para a Comissão Europeia, se as tensões geopolíticas nas regiões produtoras de petróleo se ampliarem, não há como desconsiderar a interrupção no fornecimento de petróleo, alimentando a alta dos preços acima do calculado nas previsões.