Título: É dada a largada para as eleições presidenciais
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 02/07/2008, É dada a largada para as eleições presidenciais, p. A12

As eleições são municipais, mas movem-nas, fundamentalmente, a eleição presidencial de 2010. Nesse início oficial de campanha, o que esteve em jogo para os principais partidos, mais do que os adversários externos, foram os ganhos dos grupos internos em disputa pela legenda do partido à Presidência da República.

São Paulo é o cenário por excelência dessa quase prévia eleitoral de 2010. A clara oposição de um grupo "kassabista" a Geraldo Alckmin no PSDB foi uma tentativa de neutralização do ex-governador pelo grupo mais próximo a José Serra, hoje o nome mais forte para disputar a Presidência pelo seu partido - da mesma forma como a auto-imposição de Alckmin como candidato a prefeito, contra o apoio dado pelos "serristas" a Gilberto Kassab (DEM), que disputa a reeleição, deixa em suspenso uma aliança eleitoral previamente costurada com o DEM e o PMDB quercista para a disputa ao Palácio do Planalto. No PT, a consagração da candidatura de Marta Suplicy à prefeitura a recoloca no páreo presidencial, da qual foi afastada pelo apoio do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff.

É inédito o fato de a candidatura de Geraldo Alckmin ter contado com a oposição militante de grupo de vereadores do partido. Nas disputas internas tucanas, o normal é que se simule a normalidade, enquanto uma guerra se desenrola nos bastidores. O ex-governador, no entanto, foi o motivador de um racha explícito e de uma declaração de apoio tímida e pouco convincente do governador José Serra. Para o público, o que fica são os gestos: no final de semana, quando começava oficialmente a campanha, Serra se ocupou em inaugurar obras com Kassab, enquanto Alckmin peregrinava sozinho pela capital paulista.

Alckmin e Serra foram adversários na disputa pela legenda do PSDB à Presidência da República em 2006 e, embora o partido tenha evitado um conflito público com a desistência de Serra, as feridas ficaram abertas. Alckmin ganhou no grito, mas ficou isolado durante a campanha - e se distanciou muito do candidato a aliado de sempre, o DEM. Após a derrota na disputa presidencial, o ex-governador não conseguiu entrar no seleto clube dos cardeais do partido - teve a sua pretensão de ocupar a presidência da agremiação abortada prontamente -, mas ficou com um espólio regional, lugar onde pode disputar poder interno. Se ganhar a prefeitura, terá condições de assumir algum papel na escolha do candidato de seu partido a presidente - ou poderá novamente bancar uma candidatura a presidente, ameaçar disputar uma convenção e, por força da repulsão que o partido tem de disputas públicas, ter novamente a legenda e ir para a campanha eleitoral mais uma vez sem liderar o seu próprio partido. A vitória do ex-governador na disputa pela prefeitura paulista, no entanto, hoje deve interessar muito pouco ao tucanato nacional. A reeleição de Kassab consagraria o apoio do DEM a Serra, na disputa presidencial, e consolidaria a aliança com o PMDB de Quércia.

Se a petista Marta Suplicy for eleita, sua posição como candidata a presidente sai muito fortalecida e ela pode superar a situação peculiar que enfrenta hoje, de ser a postulante à disputa pelo Planalto com maior apoio dentro do PT, e ao mesmo tempo a candidata número dois do presidente Lula, que continua apostando, pública e reservadamente, nas chances de sua ministra-chefe da Casa Civil. Dilma tem um frágil vínculo com a máquina partidária petista, enquanto Marta, ao longo dos anos, não apenas atuou internamente como conseguiu criar um espaço próprio de influência. O problema, no entanto, é que o partido precisa de um apoio efetivo de Lula a qualquer candidato à sua sucessão, para ter as mínimas chances de vitória e sabe disso. O PT venceu uma queda-de-braço com o Planalto, que desejava consagrar um candidato com maior visibilidade nacional de um dos partidos aliados, e impôs ao presidente Lula a idéia de uma postulação própria no primeiro turno. Não houve entendimento, todavia, em torno do nome. A eleição municipal é o mais novo cabo-de-guerra disputado pelo PT e por Lula em torno da sucessão presidencial.