Título: Companhias de TI passam a liderar ranking de fusões
Autor: Borges , André
Fonte: Valor Econômico, 01/07/2008, Empresas, p. B2

Fernando Parra tem nas mãos uma lista com o nome de sete empresas, cada uma delas estudada e selecionada por um time de caçadores de bons negócios, uma equipe que não transitava pelos corredores da DTS até início do ano passado. "Nossas aquisições sempre aconteceram meio que por acaso, mas agora isso mudou", diz Parra. "Hoje temos gente que é paga só para encontrar oportunidades, e isso tem funcionado."

Nos últimos 12 meses, a DTS, que presta serviços de consultoria e desenvolvimento de software, fez três aquisições. Parra, que controla a empresa desde sua fundação, em 1983, desembolsou cerca de R$ 12 milhões pelas operações da Wasys, da TI Consulting e - há duas semanas - da Union. É um trio de nomes pouco populares entre os grandes fornecedores de tecnologia da informação (TI), mas que, segundo Parra, será crucial para multiplicar seus contratos no setor financeiro. A empresa, que fechou 2007 com vendas de R$ 250 milhões e 3 mil funcionários, quer atingir R$ 350 milhões e contratar mil pessoas neste ano. "Se tudo der certo, mais duas empresas serão absorvidas até dezembro."

A DTS é o caso típico de um movimento de consolidação que tomou conta da indústria de tecnologia da informação nos últimos anos, fazendo desse pulverizado mercado um dos motores do processo de fusões e aquisições no país. Uma pesquisa realizada pela consultoria KPMG mostra que, se somadas todas as negociações fechadas desde o início do Plano Real, em 1994, até o primeiro semestre deste ano, o mercado de TI é o vice-líder na corrida das fusões e aquisições, com um total de 394 transações no período. Em uma lista que avalia mais de 40 áreas de atividade, o setor só fica atrás da indústria de alimentos, bebidas e fumo, que fechou 505 operações no mesmo intervalo.

No ano passado, as empresas de TI mantiveram a segunda posição no ranking, com 56 negociações concluídas. Segundo Luís Motta, sócio da área de fusões e aquisições da KPMG, o setor deverá bater recorde neste ano. "A indústria de TI assumiu a liderança no primeiro semestre, com 39 transações no período, contra 28 acordos do setor de alimentos", diz. "É um crescimento forte, 70% superior ao volume do primeiro semestre de 2007."

O combustível que alimenta essa máquina de juntar empresas é composto por milhares de operações de pequeno e médio porte. Segundo a Associação Brasileira das Empresas de Software (Abes), há cerca 8 mil empresas em atividade no país, considerando apenas aquelas ligadas à prestação de serviços e desenvolvimento de software, sem contar os fabricantes de equipamentos.

A união de operações é a saída que a maior parte desses empresários têm buscado para levar seus negócios adiante. Ao aglutinar estruturas e clientes, essas empresas se fortalecem para desafiar rivais de grande porte e, paralelamente, manter os contratos em suas mãos.

Foi o que fez o grupo de executivos da Virtus, que em março fundiram sete pequenas empresas nacionais - Automatos, Dedalus, Intelekto, Biosalc, Trellis, Visionaire e Volans. No mês seguinte, a Tech4b foi o oitavo nome a aderir ao grupo. Segundo André Fonseca, fundador da Automatos e presidente da Virtus, a nona aquisição acontecerá em breve. A previsão é chegar a dez companhias até o fim do ano, levando o grupo a um faturamento de R$ 100 milhões, com 750 empregados e carteira de mil clientes.

A idéia da fusão, diz Fonseca, começou com uma discussão sobre o contexto geral do setor de software. "As barreiras de mercado na década de 1990 impulsionaram a fragmentação do setor, e as empresas viram-se limitadas a trabalhar para atender a certos nichos", afirma.

A Virtus nasceu sob a bandeira de ampliar sua oferta de produtos, além de atender ao desejo dos consumidores, que querem lidar com um número cada vez menor de fornecedores. Não existe um bloco com maior controle sobre o grupo. Todas as empresas tem participação semelhante. "Temos uma composição equilibrada, com o intuito de evitar a discussão de poder."

Os executivos da companhia seguem um caminho parecido com o tomado pelo grupo Vertax, resultado da fusão de quatro empresas de Brasília. Os sócios da Conecta, Contrix, Novintec e Ipslon, que se uniram em 2006, fecharam o ano passado com receita de R$ 60 milhões. Marcio Mattos, executivo responsável pela expansão dos negócios da empresa, diz que a Vertax analisa três possibilidades de aquisição neste momento, uma delas aguardada para os próximos dias.

As apostas dessas empresas indicam que a consolidação do mercado de TI não tem sido puxada exclusivamente pelas companhias que se capitalizaram com a abertura de capital em bolsa. "Essa é realmente uma leitura que podemos fazer", comenta Luís Motta, da KPMG. "O mercado tem se mexido, independentemente de abrir ou não abrir o capital."

As fabricantes de sistemas de gestão Datasul e Totvs protagonizam o movimento na bolsa. Desde que aderiu ao mercado de capitais, em junho de 2006, a Datasul fez dez aquisições, duas delas anunciadas em um intervalo de apenas dois dias. A Totvs - resultado da compra da Logocenter pela Microsiga -, que estreou na bolsa três meses antes da Datasul, absorveu a RM Sistemas e, no fim do ano passado, fez mais duas aquisições (Midbyte Informática e BCS).

A despeito da união de algumas companhias de grande porte - caso da Tivit, que no ano passado comprou a Telefutura e a Softway, resultando numa empresa com 25 mil funcionários e receita de R$ 750 milhões -, as operações de fusão na área de TI têm exigido perspicácia dos executivos para pinçar o negócio certo em um emaranhado de empresas. A complexidade das operações foi o que levou quatro executivos à decisão de largar seus empregos em empresas de TI para montar, em 2004, a Cypress Associates, assessoria financeira especializada em processos de fusões, aquisições e preparação para lançar ações no mercado. "Acompanhamos negociações de qualquer indústria, mas TI está forte", diz Fábio Matsui, sócio da companhia. "Estamos trabalhando com quatro transações no setor."