Título: Inadimplência da pessoa física sobe pelo segundo mês seguido
Autor: Ribeiro, Alex
Fonte: Valor Econômico, 25/06/2008, Finanças, p. C1

A taxa de inadimplência no crédito bancário a pessoas físicas aumentou em maio pelo segundo mês seguido, mostram estatísticas divulgadas ontem pelo Banco Central. As operações com atraso acima de 90 dias subiram de 7,1% para 7,3% do estoque de operações de crédito contratadas com pessoas físicas, entre abril e maio. Em março, a inadimplência era de 6,9%.

O aumento da inadimplência acontece em um contexto de aperto na política monetária, que deverá desacelerar a economia e aumentar a taxa de desemprego, e num ambiente de alta da inflação, que corrói a renda da população. "Evidentemente, temos que acompanhar esse aumento de inadimplência", disse o chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes. "Mas é uma alta bastante comedida, considerando a expansão de crédito ocorrida nos últimos anos." Segundo ele, os bancos têm sistemas de avaliação de risco conservadores e consistentes.

O aumento da inadimplência é mais expressivo em alguns segmentos que tiveram forte expansão de volumes contratados nos últimos anos. É o caso dos financiamentos para a aquisição de veículos, cujo índice de atraso está aumentando desde o início do ano. De dezembro de 2007 a maio último, a taxa de inadimplência subiu de 3% para 3,7%. É o percentual mais alto na série estatística do BC, que começa em junho de 2000.

Outra linha de crédito que registrou aumento relevante na inadimplência são os financiamentos para a aquisição de bens duráveis, exceto veículos. A inadimplência passou de 12,4% para 13,2% entre dezembro de 2007 e maio último. É o percentual mais alto desde agosto de 2002, quando a inadimplência era de 13,7%. No começo do ano passado, a inadimplência nessa modalidade de financiamentos também subiu. Passou de 11,2% para 12,4% entre dezembro de 2006 e maio de 2007 e, nos meses seguintes, seguiu em alta, atingido um pico de 12,9% no ano. A partir de então, recuou. No crédito pessoal, houve apenas uma oscilação na taxa de inadimplência, que passou de 5,1% para 5,2% entre abril e maio. O índice de maio, de 5,2%, é menor do que os 5,3% observados em dezembro de 2007. No cheque especial, a taxa subiu de 8,3% para 8,9% entre maio e abril.

Os dados divulgados ontem pelo BC também mostram ligeira deterioração no crédito imobiliário. Neste acaso, não há estatísticas disponíveis sobre atrasos superiores a 90 dias. Mas é possível ter idéia da qualidade da carteira a partir da evolução da classificação de risco das operações. Os bancos devem classificar as operações em nove níveis de risco, que começam pela nota AA, a menos arriscada, seguem pela nota A e sobem até a nota H, nos quais são incluídos empréstimos tidos como praticamente perdidos. Em maio, os empréstimos classificados com a nota E, entre os quais se incluem operações com atraso entre 91 e 120 dias, subiram de 0,8% da carteira habitacional para 1%. Os empréstimos classificados com nota F, entre os quais se incluem operações com atraso entre 121 e 150 dias, também passaram de 0,8% para 1%.

A piora se concentrou nos bancos públicos e naqueles com controle estrangeiro, com políticas mais agressivas no crédito imobiliário. Nos públicos, os créditos com nota E subiram de 0,7% para 0,9% da carteira habitacional, e as operações com nota F, de 0,9% para 1,3%. Nos de controle estrangeiro, as operações com nota E subiram de 0,9% para 1,6%. No crédito a empresas, a inadimplência ficou estável em 1,8% em maio.