Título: Leilão de linhas do Madeira será feito no fim de setembro
Autor: Capela , Maurício
Fonte: Valor Econômico, 06/06/2008, Empresas, p. B6

O governo federal pretende realizar o leilão de linhas de transmissão do rio Madeira em 30 de setembro deste ano. Quem garante é Mauricio Tolmasquim, presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), companhia do Ministério de Minas e Energia. "Para esta data ser cumprida, o edital precisará estar à disposição 30 dias antes", afirma Tolmasquim ao Valor.

O presidente da EPE contou que os cerca de 2,45 mil quilômetros de linhas de transmissão do complexo do rio Madeira serão vendidos em lotes, que deverão separar as linhas e as conversoras de energia. Tolmasquim assegurou também que, para ficar com o lote, o vencedor precisará dar o maior deságio em relação ao preço-teto estabelecido. "O valor está em discussão e por ora não há decisão alguma", conta o presidente da EPE.

Mas não é apenas o formato e a provável data que já tiveram alguma definição. O presidente da EPE afirmou que a tecnologia também já foi estabelecida pelo governo federal. Segundo Tolmasquim, o ganhador de cada lote poderá escolher entre construir o seu trecho usando a chamada corrente contínua ou a corrente híbrida, que combina a tecnologia contínua e a alternada.

"Decidimos dar esse direito ao vencedor do lote. E excluímos a (corrente) alternada por ser uma tecnologia mais exclusivista", conta o presidente da EPE. A linha de transmissão que traz a energia gerada pela hidrelétrica de Itaipu utiliza a corrente contínua.

Fontes do setor já estimavam que o governo federal deveria optar pela corrente contínua e pela tecnologia híbrida. Segundo conhecedores do sistema de transporte de energia, a corrente contínua tem perdas menores de megawatts. Há, inclusive, quem garanta que a contínua tem metade das perdas em comparação à alternada.

Último leilão do complexo do rio Madeira, o processo de venda das linhas de transmissão ainda precisará deixar uma série de obstáculos para trás. O Valor apurou que a escolha por setembro deste ano não é obra do acaso. É um pedido do Ministério de Minas e Energia, que inclusive recomendou à Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) que estruture o edital para essa época.

Mas a Aneel precisará correr contra o tempo para colocar a venda das linhas de pé nesse prazo. Mesmo restando pouco mais de 90 dias para que o desejo vire realidade, tirar o leilão do papel implica em preparar toda a documentação em pouco mais de um mês e ainda dar publicidade às regras com antecedência superior a 30 dias.

A expectativa entre os membros do governo federal é que o leilão das linhas seja tão disputado quanto os pregões das duas hidrelétricas do Madeira: Jirau e Santo Antônio. Elas foram vendidas respectivamente em maio deste ano e em dezembro de 2007. O deságio nesses processos de licitação variou entre 22% e 35% em relação ao preço-teto estabelecido. Juntas, as duas hidrelétricas terão uma capacidade instalada próxima de 6,5 mil megawatts (MW).

O presidente da EPE, no entanto, evita fazer comentários sobre valores. Mas o mercado estima que colocar esses 2,45 mil quilômetros em funcionamento poderá custar entre US$ 1,7 bilhão e US$ 4 bilhões.

Os últimos leilões de linhas de transmissão realizados no Brasil têm mostrado forte competição, com uma grande participação de construtoras da Espanha. De acordo com analistas do setor, as espanholas, impulsionadas por benefícios fiscais no seu país de origem e pelo acesso à linhas de financiamento com juros mais baixos, costumam dar lances que resultam em deságios superiores a 20%.

O presidente da EPE e qualquer outro membro do governo evita falar sobre participantes, mas muito provavelmente as linhas de transmissão do Madeira deverão atrair grupos espanhóis, italianos, sul-americanos e brasileiros. Portanto, é até natural imaginar que as espanholas Elecnor, Cobra, Isolux, Abengoa e Cymi marquem presença. A brasileira Alusa também deverá participar da licitação, assim como a colombiana ISA, que no Brasil controla a Cia. de Transmissão de Energia Elétrica Paulista (CTEEP). Atualmente, cerca de 6% do faturamento das linhas de transmissão no Brasil está nas mãos de construtoras brasileiras e do exterior.