Título: Itagiba diz ter pedido demissão
Autor: Santos, Chico
Fonte: Valor Econômico, 04/06/2008, Política, p. A8

O deputado federal Marcelo Itagiba (PMDB-RJ) pediu, em fevereiro de 2006, a demissão de Álvaro Lins da chefia de Polícia Civil do Rio de Janeiro à então governadora Rosinha Matheus (PMDB). Na ocasião, o pemedebista diz que já havia indícios - colhidos em sindicância interna e investigações prévias da Polícia Federal - do envolvimento de Lins com as máfias de caça-níqueis.

O ofício de Itagiba pedindo a demissão de Álvaro Lins foi enviado a Rosinha no dia 2 de fevereiro de 2006. Na ocasião, Itagiba era secretário de Segurança do Estado e sugeria o nome de Elizabeth Botelho para a vaga. Lins hoje é deputado estadual e foi preso na semana passada pela Polícia Federal em operação que investiga os caça-níqueis no Rio de Janeiro. Ele foi solto depois de deliberação da Assembléia Legislativa .

Rosinha, no entanto, optou por manter Lins no cargo. Segundo Itagiba, a governadora argumentou que havia poucas provas contra o chefe de polícia e ele estava "no grupo" político de seu marido, Anthony Garotinho, há muito tempo. Itagiba permaneceu na secretaria mesmo tendo como subalterno um suspeito de envolvimento com a máfia.

"Ou eu saía, me omitia e deixava o espírito criminoso reinar no governo ou continuava no cargo e continuava monitorando as investigações", justifica o deputado. Na Câmara, há uma avaliação de que a prisão de Lins poderia complicar a situação política de Itagiba, já que o deputado não pediu a demissão do então chefe de polícia. "Isso não é verdade. Foi feito o pedido de substituição", afirma. "E se eu tivesse deixado o meu posto e denunciado o esquema naquela ocasião, as investigações talvez não tivessem prosperado", completa.

No Rio, há informações de que Itagiba e Lins fizeram campanha casada nas eleições de 2006, quando o ex-secretário foi eleito deputado federal e o ex-chefe da Civil conquistou uma vaga como estadual. "De fato, houve várias pessoas que desejavam votar em pessoas ligadas em segurança pública e acabaram optando pelos nossos nomes", diz Itagiba.

Na região de Jacarepaguá, sobretudo, os dois faziam campanhas juntos, mas o deputado nega. "Não fizemos. Cada um pedia voto para si. No fundo, no fundo, o Álvaro Lins fez campanha mais colada ao (Geraldo) Pudim (deputado federal pelo mesmo partido de Itagiba, o PMDB)", diz, ao citar o deputado federal mais ligado a Garotinho no Congresso.