Título: Ações de bancos são as preferidas de maio
Autor: Fariello , Danilo
Fonte: Valor Econômico, 05/05/2008, EU & Investimento, p. D3

Desde que aflorou a crise do "subprime" no mercado imobiliário dos EUA, no segundo semestre do ano passado, os analistas brasileiros voltaram a maior parte de suas apostas para o mercado interno. Depois de algum período sem ver o retorno esperado, agora, com a conquista do "investment grade", as corretoras que fazem parte da Carteira Valor tentam descobrir quais desses papéis terão melhor desempenho no prazo de um mês. O destaque na Carteira Valor de maio está o setor bancário. São dez as indicações entre as 50 possíveis, numa crença de que os bancos serão os primeiros a refletir as benesses do grau de investimento em seus papéis.

Na sexta-feira, muitas ações já dispararam, levando o Índice Bovespa (Ibovespa) a subir 2,21% no dia, depois da alta de 6,33% da quarta-feira. Mas a crença no bom desempenho das empresas com foco no mercado local ou que dependem mais diretamente do avanço do PIB brasileiro continua.

Toda vez que ocorre alguma alteração no risco do país, os bancos são sempre os primeiros a reagir, diz Fabio Anderaos, da Itaú Corretora, que tem duas indicações no setor. "Os bancos saltam à frente com os novos parâmetros da economia", comenta. O custo financeiro pesa bastante para os bancos, que passavam por um momento ruim em termos de captações no exterior, lembra Vladimir do Nascimento Pinto, estrategista do Unibanco.

Ainda que o custo de financiamento externo fosse mais crítico para bancos menores, recém-chegados à bolsa de valores, os participantes da Carteira Valor preferiram indicar para maio apenas ações dos maiores bancos do país. Têm recomendações entre as dez participantes da carteira Banco do Brasil, Bradesco, Unibanco, Itaú e Itaúsa (holding que controla o Itaú). Os bancos menores correm mais riscos de liquidez, têm concentração de atuação em poucos setores e podem sofrer com processos de consolidação, diz Pedro Galdi, analista da corretora do banco ABN Amro Real.

Assim como o rating soberano do país, alguns bancos também alçaram o grau de investimento na semana passada, lembra Ricardo Tadeu Martins, da Planner Corretora. Entre aqueles com ações negociadas na Bovespa estão Unibanco e BB. Bradesco e Itaú já possuíam o "investment grade", mas também tiveram suas notas de risco melhoradas pela Standard & Poor's na semana passada.

Segundo analistas, pesou favoravelmente aos bancos nas recomendação para a Carteira Valor a elevação da taxa básica de juros a 11,75% ao ano em abril, que tende a favorecer as posições dos bancos em tesouraria. Mesmo com o aumento do juro, espera-se ainda crescimento do volume de crédito imobiliário concedido pelos bancos e, portanto, maior receita por conta disso, comenta Martins, da Planner Corretora.

Assim como os bancos, também poderão levar a melhor neste mês, por motivos similares, as empresas do setor imobiliário e aquelas com forte atuação no mercado interno. São 14 as recomendações para empresas com atuação em algum desses nichos. Entre as preferidas, ALL, AmBev e Randon Participações. "Destacamos empresas com vertente local bastante intensa, algumas das quais sofreram muito no começo do ano", diz Pinto, do Unibanco, que indica as ações ordinária (ON, com direito a voto) da Eternit e a preferencial (PN, sem voto), da Lojas Americanas.

Com a crise persistindo lá fora, o perfil de aplicações se volta mais para o mercado interno, com empresas de energia, logística e construção, explica Martins, da Planner. "Tudo aquilo que o mercado detonou de janeiro para cá agora é visto como papel com bom potencial de recuperação." Papéis de consumo, como Perdigão e AmBev, devem ser os grandes privilegiados dessa onda de otimismo, prevê Galdi.

No entanto, escaldados pelo bom desempenho do mercado de commodities nos últimos meses ante o setor interno, que andou a trotes curtos, as corretoras participantes da Carteira Valor mantiveram suas recomendações nessas empresas, notadamente Petrobras, Vale e a siderúrgica Usiminas. A estatal do petróleo continua como a líder em recomendações, com nove indicações. Apenas a Link descarta a Petrobras. Em seguida, na liderança aparecem Vale e Usiminas, com cinco cada.

Mas, antes de embarcar na euforia do mercado após a elevação da nota de risco do Brasil, o investidor precisa ter cuidado com o mercado atual. Em geral, as ações subiram muito nos últimos dias, diz Eduardo Kondo, da Corretora Concórdia. Usiminas PNA, por exemplo, ação com cinco recomendações para a Carteira Valor, subiu mais de 10% na quarta-feira e, depois de bater o pico de alta de outros 5,1% na sexta-feira, fechou o pregão com queda de 0,9%, cotada a R$ 80,40.

Outras ações também tiveram forte valorização nos últimos dias, principalmente depois do "investment grade". O próprio Ibovespa chegou a superar 70 mil pontos na sexta-feira para fechar com alta mais modesta, a 69.366 pontos. "Ficou muito mais difícil achar um papel que poderá subir muito mais", diz Kondo. Mas mais oscilação, mesmo que inicialmente positiva, significa risco maior. O problema é que o Brasil nunca viveu nessa situação, portanto, fica difícil medir, a priori, qual será o exato impacto do grau de investimento para as empresas. "Problema bom", reconhece Kondo.

Nos próximos dias, as corretoras deverão refazer suas análises das empresas, cálculo chamado "valuation", para tentar identificar exatamente qual seria o preço justo para cada papel, nessa nova realidade. Da mesma forma, muitas instituições já reviram ou deverão reavaliar o teto do Ibovespa (ver pág. D5).

Em abril, a Carteira Valor subiu 13,89%, acima da variação do Ibovespa, de 11,32%. No ano, o índice das ações mais líquidas da bolsa, com alta de 6,23%, ainda supera a variação da seleção do Valor até abril, de apenas 0,68%.

Na sexta-feira, duas corretoras, Itaú e Unibanco, alteraram suas recomendações. A Itaú colocou Cyrela ON no lugar de Petrobras PN e a Unibanco, Bradesco PN no lugar de Usiminas PNA. A Carteira Valor, porém, já havia sido calculada, por isso as sugestões dadas na quarta-feira foram mantidas.