Título: Argentina encara o frio com oferta de energia no limite
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Fonte: Valor Econômico, 30/04/2008, Internacional, p. A17

A dois meses da chegada do inverno, a Argentina está novamente operando no limite de sua capacidade energética. O país segue sua marcha de expansão da atividade econômica superior a 8% anuais, a demanda por energia aumentou 5,5%, mas a capacidade instalada de geração energética cresceu menos de 1%, diz Georgina Benedetti, especialista em energia e sistemas energéticos da consultoria internacional Frost & Sullivan.

A expectativa para 2008, diz Benedetti, é que a demanda atingirá 19,1 mil MW, para uma geração de 20 mil MW, 20% abaixo da margem de segurança determinada pelos padrões internacionais para garantir o abastecimento em caso de um acidente ou um fenômeno climático que retire alguma geradora de operação.

No ano passado, a Argentina registrou um déficit energético de 2,2 mil MW para abastecer seu consumo interno, segundo cálculos da Fundação para o Desenvolvimento Elétrico (Fundelec). A maior parte (cerca de mil MW) foi compensada pela importação do Brasil. O restante veio do Paraguai e do Uruguai.

O pico da falta de energia aconteceu no auge do inverno, em julho, quando o governo forçou as empresas a um racionamento para poupar energia e evitar cortes no fornecimento às residências.

Para Benedetti, a Argentina chegou a essa situação limite por vários motivos combinados ao forte crescimento econômico. "Congelamento de tarifas, escasso investimento no sistema elétrico, falta de gás natural e excesso de confiança na integração energética com os países vizinhos", afirmou. Para complicar o quadro, o sistema hidrelétrico está operando com apenas 50% de sua capacidade devido à falta de chuvas na região da Patagônia, onde estão as maiores hidrelétricas.

O problema energético na Argentina não se limita à eletricidade. No caso de gás e petróleo, é ainda mais grave, porque o país está produzindo hoje menos do que em 2007. Georgina lembra que a Argentina tem um acordo com a Bolívia para assegurar 20% de seu consumo de gás, começando com 5 milhões de m3 em 2006, subindo a 7,7 milhões em 2007. Mas, no ano passado, a Bolívia mandou apenas 3 milhões de m3 e já indicou mais uma redução para 2008. O governo argentino ainda tentou compensar a queda do gás boliviano pedindo mais gás ao Brasil, mas o governo brasileiro respondeu que não poderia atender ao pedido. "Houve excesso de confiança" nos países vizinhos, diz Georgina.

Para ela, uma das soluções para a Argentina seria, entre outras providências, usar mais energia nuclear e hidrelétrica. "O que o governo está fazendo é reduzir o consumo energético, mas haveria que revisar as tarifas para incentivar a eficiência e maiores investimentos em geração".

Alguns projetos estão em andamento, como a central General Belgrano em Campana, província de Buenos Aires, que inaugurou uma primeira turbina em 18 de março, capaz de gerar 250 MW, e outras duas estão programadas para serem inauguradas em junho e em dezembro ou janeiro de 2009. Há também uma usina termoelétrica em San Martín, que que tem previsão de conclusão até maio de 2009. "Há vários outros projetos em carteira, mas a maioria está atrasada na licitação ou na implementação".