Título: Alimentação pressiona IPCA e reforça preocupações do BC
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 10/04/2008, Brasil, p. A3

A inflação medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) não desacelerou em março, como previam economistas e o próprio Banco Central. O indicador, calculado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e que é usado como referência para o regime de metas de inflação, apontou alta de 0,48% em março, apenas 0,01 ponto abaixo da leitura de fevereiro. Os economistas projetavam um índice próximo de 0,3%. A alta superior ao esperado veio de uma nova rodada de aumentos em preços de alimentos, mas também foi influenciada por vestuário e administrados, como combustíveis.

Em 12 meses, o IPCA acumula alta de 4,73%, acelerando na comparação com os 4,61% apurados nos 12 meses encerrados em fevereiro. O indicador é o maior verificado desde março de 2006 e superou a projeção do Banco Central para o período, de 4,6%. A coordenadora de índices de preços do IBGE, Eulina Nunes dos Santos, observou que o IPCA acumulado mantém trajetória ascendente desde outubro de 2007, quando estava em 4,12%. De acordo com a economista, para que o IPCA se mantenha dentro da meta de 4,5% no ano fechado, as próximas medições não podem superar 0,25% ao mês, na média.

Para analistas, o resultado do mês torna mais distante a expectativa de cumprimento da meta de inflação e reforça as previsões de elevação da taxa de juros (hoje de 11,25%) já na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom). Gian Barbosa, da Tendências Consultoria Integrada, espera elevação da taxa em 0,25 ponto percentual neste mês.

A avaliação do economista baseia-se em duas variáveis. O total de itens com aumento de preço está crescendo, o que é verificado nos chamados índice de dispersão ou de difusão. Além disso, o núcleo da inflação por média aparada, que exclui as maiores altas e as maiores quedas de preço para reduzir o efeito de oscilações sazonais, também está aumentando.

De acordo com o cálculo da consultoria, o núcleo da inflação passou de 0,36% em fevereiro para 0,41% em março. No trimestre, a média mensal ficou em 0,39%, acima do 0,38% do quarto trimestre de 2007, período de maior pressão inflacionária no ano passado. Nos trimestres anteriores, ele ficou em 0,27%. "Não dá para saber se a alta do núcleo é pontual ou uma tendência de nova aceleração, mas esse resultado deve provocar aumento das expectativas para 2008 e 2009", afirma Barbosa, que projeta para este ano um IPCA de 4,8% e de 4,5% para o ano seguinte.

Barbosa observou ainda que o índice de difusão aumentou, de 56,51% em fevereiro, para 58,59% em março, em função da valorização das cestas de alimentos e vestuário e elevação nos preços administrados de itens como gasolina, energia elétrica residencial e taxa de água e esgoto. O grupo alimentação registrou alta de 0,89% em março, ante 0,6% no mês anterior, tendo respondido por 0,2 ponto percentual do 0,48% medido pelo IPCA no mês. No acumulado de 12 meses, de acordo com cálculo da Rosenberg & Associados, a cesta registra alta de 11,22%, superior aos 10,28% verificados entre janeiro e dezembro de 2007.

Para Jankiel Santos, economista-chefe do BES Investimento do Brasil, as oscilações nos preços de alimentos não constituem a única ameaça às metas de inflação. Ele calcula que, excluindo-se alimentos, o índice de difusão passou de 54,2% em fevereiro para 61,8% em março. "Outros índices que estavam em deflação, como os administrados, subiram. Mas voltam porque alguns sofreram reajuste anual agora", afirma.

Ele cita o caso das tarifas de energia elétrica, que tiveram alta de 1,4% na média, com maiores variações em Brasília (3,61%), Rio de Janeiro (2,93%), São Paulo (2,72%) e Porto Alegre (1,17%), mas observou que em alguns Estados a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) já anunciou redução de preços a partir de abril - Mato Grosso (de 8,08%), Mato Grosso do Sul (7,18%) e Minas Gerais (12,24%). Também subiram as tarifas de água e de esgoto (1,43%).

Santos também pondera que os preços da cesta de serviços recuaram, de 5,5% no acumulado de 12 meses para 5,4%, um sinal de que não há inflação de demanda, pois o item é o mais sensível à pressões do mercado interno. "Na média, a inflação continua concentrada em alimentação, o que traz alguma tranqüilidade sobre as perspectivas futuras", afirma. Ele prevê elevação da taxa de juros pelo Banco Central em 0,75 ponto percentual.

Já o Índice Geral de Preços - Mercado (IGP-M) do primeiro decêndio de abril, apurado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) apontou pequena melhora, com alta de 0,33%. O IPA, que tinha sido de 0,8% ficou em 0,26%, com queda de 1,52% nos preços de produtos agrícolas. Já o IPA industrial subiu, ficando em 0,96%, tendo como principal fator de influência o novo reajuste do minério de ferro. O Índice de Preços ao Consumidor (IPC) ficou em 0,4%, ante 0,45% no IGP-DI. O INCC também ficou mais baixo, em 0,59%. (Colaborou Rafael Rosas, do Valor Online do Rio)