Título: ALL investirá até R$ 700 milhões em 2008
Autor: Ribeiro , Ivo
Fonte: Valor Econômico, 25/02/2008, Empresas, p. B6

A ALL - América Latina Logística, com operação no Brasil e Argentina numa malha de 21 mil km de trilhos, fará neste ano seu maior programa de investimentos. Está previsto desembolso de até R$ 700 milhões. A maior parte desse valor será destinada às ferrovias no Brasil. O dinheiro será usado para reforçar a frota de locomotivas, que já passa de mil máquinas, para reforma e recuperação de vagões antigos e aquisição de novos e na modernização das linhas, principalmente de trechos da antiga Brasil Ferrovias, adquirida em maio de 2006.

A oferta de cargas cresce a cada ano e a perspectiva para 2008 é ainda mais promissora, avalia a concessionária. "A ferrovia precisa crescer junto para atender essa demanda de transporte", diz Bernardo Hees, presidente da ALL, sediada em Curitiba (PR). Neste ano, a previsão é que a carga a ser transporta pela ALL suba entre 12% e 14% sobre o volume de 2007, com maior ganho de participação no porto de Santos.

No passado, os números que serão publicados até o fim do mês deverão mostrar uma expansão acima de 10% no volume transportado. A ALL praticamente dobrou de tamanho desde a aquisição dos ativos do grupo Brasil Ferrovias, numa operação de troca de ações e assunção de dívidas. O total transportado já bate na casa de 40 milhões de toneladas anuais, com peso forte de grãos.

Ao absorver os trilhos da Ferronorte (em Mato Grosso do Sul e Mato Grosso), interligada à Ferroban (em São Paulo) e Novoeste (São Paulo e Mato Grosso do Sul), a ALL obteve acesso ao porto de Santos. Essa malha carrega cargas do Centro-Oeste e São Paulo. O volume nas três linhas, à medida que são eliminados problemas herdados, cresce gradativamente. De menos de 10 milhões de toneladas em 2005, já caminha para um patamar de 15 milhões.

Além da incorporação de pelo menos 50 novas locomotivas à frota, a ALL encomendou 250 vagões-tanque para transporte de combustível e álcool nos trilhos da Ferroban e Ferronorte fez a importação de 30 mil toneladas de trilhos para renovação de 500 km de linhas da Ferroban. "Ainda havia muitos trilhos dos anos 40 e 50 do século passado, sem condições para operações num ritmo intenso de transporte que vamos ter", diz Hees. Apenas em álcool, informou o executivo, o objetivo é triplicar a carga neste ano, com cargas de São Paulo e do Mato Grosso do Sul.

Hees explica que em mais dois anos, dentro do plano de aquisição, a malha que foi incorporada da Brasil Ferrovias estará completamente integrada no padrão ALL, inclusive com todas locomotivas e vagões exibindo o vermelho que marca a ferrovia. A ALL abriu capital em 2004 e mais de 60% de suas ações estão pulverizadas na bolsa.

"Todos os indicadores operacionais já melhoraram. Na antiga Novoeste, o volume já duplicou, e no Mato Grosso e São Paulo estamos avançando com a conquista de novas cargas", diz. Apenas no acordo firmado com a Votorantim Celulose e Papel (VCP) serão investidos em torno de R$ 300 milhões num trecho de 450 km de Três Lagoas (MS) a Bauru (SP). Isso garantiu contrato de 20 anos para transportar 1,3 milhão de toneladas de celulose a ser produzida na nova fábrica da VCP em Três Lagoas a partir de 2009.

"Estamos negociando pelo menos mais três acordos nesse mesmo modelo", informa Hees, sem revelar detalhes. Outra aposta de incremento de cargas é a possível construção de um terminal portuário no litoral paulista pelo grupo do empresário Eike Batista. A ALL tem uma linha que passa ao lado, mas hoje está desativada. "É uma nova opção para várias cargas: minério, grãos, açúcar e álcool poderão embarcados por ali".

Hees lembra que, na parceria com seus grandes clientes, para cada real investido pela ALL eles também investem um. Isso envolve vagões dedicados, terminais portuários e adaptação de locais para carga e descarga. Neste ano está prevista, por exemplo, a restauração de 1300 vagões da chamada frota morta, herdada de Brasil Ferrovias, que ficarão dedicados a alguns clientes. "No total, os clientes deverão aportar ao redor de R$ 500 milhões".

Nas linhas adquiridas, que segundo Hees vêm reduzindo drasticamente seus índices de acidentes de trens com novos padrões de operação, a ALL está ampliando a participação em Santos - de 27% em 2006 para 38% no fim do ano passado no negócio de grãos.

A largada no transporte da safra de grãos, na ALL, ocorre todo ano em meados de fevereiro, na malha norte (região Centro-Oeste), e começo de março, no sistema sul - do Paraná para baixo. Durante quase quatro meses, desde novembro, a área de operações entra em estado de alerta geral. É o período de arrumação completa da casa para enfrentar o pico de transporte da safra de grãos (soja, milho, açúcar, entre outros), que vai passar sobre 13 mil km de trilhos.

De novembro a fevereiro, é feita a manutenção completa de trilhos, reforma de locomotivas e vagões, preparação de máquinas adquiridas, como um lote de 24 SD-40 importadas. Tudo isso ocorre enquanto a ferrovia está operando com mais de 60% da capacidade na entressafra. "A máquina não pode parar nenhum minuto", afirma Hees. Nesse período, oficinas de manutenção da frota e da via permanente e o centro de operações trabalharam a todo o vapor. E foram treinados 222 novos maquinistas para atender o "Plano de Alta", como a empresa define o plano de crescimento do novo ano.