Título: Abertura pode aumentar negócios com Cuba
Autor: Landim, Raquel
Fonte: Valor Econômico, 22/02/2008, Brasil, p. A7

Marisa Cauduro/Valor Dario Chemerinski, da Gomes da Costa: "Exportadores têm uma bela oportunidade de mostrar o potencial do Brasil" Nos próximos dias, chega ao porto de Havana o primeiro contêiner de sardinha e atum enlatados da Gomes da Costa. Depois de um ano de negociações, que exigiram atenção redobrada para as garantias de pagamento, a empresa brasileira fechou um contrato com o maior importador de alimentos de Cuba para vender um contêiner por mês ao país.

Dario Chemerinski, gerente de exportação, está otimista com as perspectivas para a economia cubana após a renúncia de Fidel Castro, que permaneceu 49 anos no poder. Ele acredita que o país pode vir a representar 10% das exportações da Gomes da Costa. "O comércio com Cuba vai crescer e os exportadores têm uma bela oportunidade de mostrar o potencial do Brasil", diz.

A maioria dos empresários brasileiro não acredita em mudanças bruscas na economia cubana, que está sendo conduzida por Raúl Castro, irmão de Fidel, desde que o ditador ficou doente há mais de um ano. No entanto, as companhias estão atentas e buscam se posicionar para atender esse mercado conforme a abertura econômica progredir.

As exportações do Brasil para a ilha comunista são pouco expressivas, mas crescem em ritmo forte, subindo de US$ 94,6 milhões em 2000 para US$ 324 milhões no ano passado. Apesar da queda de 5,8% em 2007, as vendas do Brasil para a Cuba cresceram 90% em 2004, 86% em 2005 e 40% em 2006. A queda dos preços do açúcar prejudicou o desempenho do ano passado. Cuba, que já foi importante exportador, hoje compra açúcar do Brasil. Em janeiro deste ano, as exportações para os cubanos cresceram 80% em relação a igual período de 2007.

"São 11 milhões de pessoas educadas e desabastecidas. É um mercado potencialmente forte", diz Thomaz Zanotto, diretor-adjunto do Departamento de Comércio Exterior da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). Ele afirma que as exportações para Cuba não deslancham porque os importadores atrasam pagamentos e enfrentam dificuldades para obter garantias de crédito, devido ao embargo dos Estados Unidos.

Graças à ajuda do presidente da Venezuela, Hugo Chávez, que fornece petróleo em troca de serviços médicos, o Produto Interno Bruto (PIB) de Cuba subiu 11,8% em 2005, 12,5% em 2006, e 7% no ano passado. Esse desempenho também funciona como um chamariz para as empresas. Ainda assim o comércio de Cuba com o mundo é muito pequeno. Em 2006, o país importou US$ 8,9 bilhões e exportou US$ 2,6 bilhões - valor cinco vezes menor que as exportações da Petrobras.

"Cuba é um paradigma. Os preços dos produtos importados são caríssimos no ponto de venda, mas mesmo assim vende bem", diz Marcelo Haefliger, gerente de exportação da gaúcha Multimóveis, que exporta para a ilha caribenha há quatro anos. No ano passado, os embarques de móveis da empresa para o país atingiram US$ 450 mil, alta de 50% em relação a 2006. Cuba está entre os quatro maiores mercados da fabricante de móveis. Haefliger conta que a entrada dos produtos é burocrática e pode levar até 40 dias. Várias permissões são concedidas de uma só vez, mas os embarques são feitos ao longo dos meses.

Com a contínua valorização do real, o câmbio se tornou um desestímulo à exportação. Mas no caso de Cuba se transforma em vantagem. Por ideologia política e também por questões práticas (é mais fácil obter cartas de crédito junto a bancos europeus), o governo cubano e os poucos importadores privados pagam suas contas em euros. Em 2007, o real se valorizou 21% ante o dólar, mas apenas 8% ante o euro, o que tornou as trocas na moeda européia mais atrativas para os exportadores brasileiros.

"O comércio em euros é bom porque atualmente torna o negócio mais previsível e melhora os resultados", diz Foad Shaikhzadeh, presidente da Furukawa. A empresa de origem japonesa está no Brasil há 30 anos e fabrica cabos telefônicos, óticos e redes de cabeamento estruturado para computadores em empresas.

O executivo conta que a filial brasileira exporta para Cuba há dois anos através de um representante no Panamá. "É difícil acessar os canais de vendas locais e Cuba não é parte do sistema financeiro internacional", diz Shaikhzadeh, ao explicar a necessidade de um intermediário no negócio. Ele afirma que a maior parte do risco fica por conta do agente panamenho.

A Furukawa começou a exportar para Cuba em 2006, um volume representativo, mas em 2007, as vendas recuaram um pouco. Na avaliação de Shaikhzadeh, a instabilidade política levou o governo a adiar gastos em infra-estrutura, afetando as vendas da empresa. A expectativa é de uma normalização dos volumes embarcados este ano. "Existe uma demanda potencial muito boa em Cuba se houver investimento local", diz o executivo.