Título: Arco Metropolitano do Rio sai do papel
Autor: Grabois, Ana Paula; Góes, Francisco
Fonte: Valor Econômico, 24/01/2008, Especial, p. A12

Silvia Costanti/Valor Vicente Loureiro, subsecretário de Obras: "o Arco vai aquecer a economia" O Arco Metropolitano do Rio de Janeiro, uma das maiores obras rodoviárias do país, com investimentos previstos de cerca de R$ 1,4 bilhão, deve finalmente sair do papel. Na segunda-feira, 17 empresas devem disputar em licitação a construção dos primeiros quatro lotes do arco, um dos grandes projetos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). A obra exigirá a desapropriação de 1,1 mil propriedades urbanas e rurais concentradas em três dos oito municípios cortados pelo arco, onde vivem 2,2 milhões de pessoas.

Há risco de a desapropriação atrasar as obras, previstas para começarem em março e terminarem entre o fim de 2009 e o início de 2010. Idealizada há mais de 30 anos, a estrada irá integrar a Baixada Fluminense ao porto de Itaguaí, no Sul do Estado. O arco promete melhorar o tráfego de cargas entre os Estados do Sudeste, reduzir custos de transporte e atrair investimentos de empresas de logística e comércio exterior.

Grandes redes de varejo também devem obter ganhos, como a Casas Bahia. A rede inaugurou, em 2007, um centro de distribuição com 180 mil metros quadrados de área construída em Duque de Caxias, na região metropolitana, com investimentos de R$ 120 milhões. O local foi escolhido pelas facilidades de transporte e de escoamento de mercadorias.

Também serão beneficiados o Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj) e a Companhia Siderúrgica do Atlântico (CSA), ambos em fase de instalação, com investimentos conjuntos previstos de US$ 12,7 bilhões.

Entre as empresas de logística que operam na região e deverão ter ganhos com a obra estão a Gefco, operadora logística da PSA Peugeot Citroën, a Sepetiba Tecon, terminal de contêineres do porto de Itaguaí, e a Fox Cargo do Brasil. "A perspectiva é de ampliar os negócios", diz Simon Sousa, responsável pelo departamento de importação da Fox Cargo. A empresa faz contratos de exportação de matérias-primas e importa máquinas pelo porto de Itaguaí.

O arco também poderá ajudar a ferrovia MRS Logística nas operações que combinam o uso do trem com o caminhão. Julio Fontana Neto, presidente da MRS, disse que a empresa está em negociações avançadas para instalar, em parceria com um operador logístico, terminal para carga geral na localidade de Rocha Sobrinho, em Duque de Caxias, onde a empresa já tem um pátio para manobras. O terminal poderia receber produtos siderúrgicos destinados aos mercados do Rio e da Baixada. Já o terminal de carga geral da empresa no Arará, no porto do Rio, ficaria focado na exportação.

O trecho a ser licitado na segunda-feira tem cerca de 72 quilômetros de extensão e será construído do zero. A nova estrada vai se ligar, em uma ponta, ao porto de Itaguaí e, na outra, à BR-116 (rodovia Rio-Teresópolis) e à BR-493, que contorna a Baía de Guanabara e dá acesso a Itaboraí, sede do Comperj. No total, o arco terá 119 quilômetros de extensão, incluindo a construção do trecho novo, a duplicação da BR-493, com custo estimado de cerca de R$ 320 milhões, e a união desta estrada com os 22 quilômetros da BR-116, já sob concessão da CRT.

A implantação do novo trecho de 72 quilômetros está orçada em R$ 928 milhões, dos quais R$ 700 milhões bancados pelo governo federal e o restante, pelo Estado do Rio. Tanto a construção quanto a manutenção da rodovia ficarão sob controle estatal sem concessão ao setor privado. De acordo com a Casa Civil, o dinheiro federal para o projeto está livre de cortes orçamentários por fazer parte do Plano Piloto de Investimentos (PPI), o que exclui os recursos do cálculo do superávit primário.

Mas, segundo o Valor apurou, o orçamento da União para 2008 só prevê R$ 120 milhões para a obra. No total, apenas 31,4% dos recursos federais para o projeto estão garantidos até agora, considerando outros R$ 100 milhões comprometidos com o projeto em 2007. O orçamento ainda terá de ser aprovado no Congresso.

Na licitação de segunda-feira, as empresas interessadas na construção dos quatro primeiros lotes da estrada terão que entregar as propostas em envelopes fechados. Ganhará quem oferecer menor preço pelo serviço. Cada lote tem extensão entre 14,5 quilômetros e 19,9 quilômetros e exigirá, em média, investimentos de cerca de R$ 200 milhões. O governo do Estado não divulgou os nomes das empreiteiras classificadas na licitação.

Vicente Loureiro, subsecretário de Obras do Estado do Rio, resumiu os benefícios potenciais do projeto: "O arco integrará a Baixada e vai aquecer a economia por favorecer a atividade de logística. Certamente o arco vai demandar novos negócios", afirmou. Entre as empresas de logística, há expectativa de que o arco ajude a reduzir custos de operação e resulte em maior eficiência.

Uma carga que hoje vem por caminhão de Minas Gerais para o porto de Itaguaí pela BR-040 (Rio-Juiz de Fora) precisa passar pela congestionada Avenida Brasil, principal via de acesso à capital. Com o arco, a Avenida Brasil poderá ser evitada e haverá ganho de tempo no frete, reduzindo custos..

Davi Emery Cade, diretor-superintendente do Sepetiba Tecon, disse que um dos trunfos do arco será o acesso direto às rodovias BR-040, por onde trafega grande parte da carga entre Rio e Minas, e BR-116 (Dutra), principal via de ligação com São Paulo. O arco também faz a conexão com a BR-101, ao Sul e ao Norte do Rio de Janeiro.

Cade prevê que a instalação de novas empresas na região próxima ao porto será facilitada pela construção do arco e permitirá aproveitar terrenos hoje disponíveis. O executivo disse que as empresas de navegação, clientes do terminal, demonstram muito interesse na construção do arco porque a obra deve trazer mais eficiência ao transporte da área de influência do Vale do Paraíba.

Julio Bueno, secretário de Desenvolvimento do Estado, disse que o governo estuda conceder incentivos fiscais para estimular a instalação de "tradings companies" na retroárea do porto de Itaguaí, como já fazem os governos do Espírito Santo e Santa Catarina, comparou. "Temos de nos tornar menos assimétricos na tributação", disse Bueno. Ele aposta no crescimento do número de centros de distribuição e armazéns, além da expansão dos pólos siderúrgico e petroquímico com a chegada de mais fornecedores.

Vizinha ao porto de Itaguaí, a CSA prevê que o arco vai facilitar a logística rodoviária de materiais e serviços de Minas e São Paulo destinados à empresa. Com o arco, os fornecedores da CSA não precisarão mais cruzar a cidade do Rio de Janeiro para chegar à usina, cujo início de operação está previsto para 2009. A empresa informou que existe ainda a possibilidade de utilização de modais combinados (ferrovia e rodovia) para o transporte de calcário e escória.

A CSA, uma parceria entre ThyssenKrupp e Vale com investimentos de 3 bilhões de euros, estará ligada ao arco via a BR-101 Sul (Rio-Santos), que está sendo duplicada em trecho de cerca de 26 quilômetros entre a localidade de Itacuruçá e a Avenida Brasil. A obra, a cargo do governo federal, custará R$ 143 milhões, funcionará como apoio ao arco e inclui viaduto para facilitar a entrada dos caminhões ao porto de Itaguaí, cujo acesso hoje se dá em condições precárias.