Título: Análise do desempenho do setor bancário versus setor produtivo
Autor: Pandeló , Domingos
Fonte: Valor Econômico, 11/02/2008, Opinião, p. A8

O que se pretende aqui é avaliar o desempenho das instituições e empresas consideradas, com base na rentabilidade do patrimônio líquido (ROE), obtido pela divisão do lucro líquido pelo patrimônio líquido, bem como na rentabilidade dos ativos (ROA), aqui obtido pela divisão do lucro líquido pelo ativo total. Embora essa não seja a fórmula clássica de cálculo do ROA, optou-se por trabalhar dessa forma por maior comodidade, bem como em função de não haver maiores restrições conceituais, em função das análises pretendidas. Uma maior dificuldade, em termos de comparação talvez exista com o ROE, uma vez que as instituições financeiras estão sujeitas a limites de capital em função do Acordo da Basiléia (patrimônio líquido), de modo que a sua estrutura de capital não é voluntária, mas sim determinada em função da normatização vigente.

Uma das limitações do artigo está no fato de só se avaliar um período, mais especificamente, o desempenho dos bancos e empresas em 2006. Essa limitação será resolvida em breve, pois o presente artigo é apenas parte de uma pesquisa bem mais ampla, que envolve um período de treze anos. Uma outra limitação refere-se ao fato de se trabalhar com cerca de 50 instituições financeiras e igual número de empresas. As 50 maiores instituições financeiras representam quase que a totalidade do setor bancário, o mesmo não deve ocorrer com o setor produtivo - aqui entendido como as indústrias, o comércio e a área de serviços, além do setor agrícola, aqui representado por algumas grandes indústrias do setor agro-exportador, ou de insumos.

Numa segunda parte do artigo serão analisados, ou comparados, alguns números dos 10 maiores bancos do mercado brasileiro, em relação as 50 maiores empresas. O critério para a escolha dos bancos foi o total dos ativos, conforme disposto no site do Banco Central do Brasil (www.bcb.gov.br), já a seleção das empresas foi realizada pelo critério estabelecido pela edição do Valor 1000 (agosto de 2007) que foi a receita operacional. A princípio, a escolha de critérios diferentes não é por si só um problema, embora fosse muito mais interessante que o critério trabalhado fosse o mesmo. Nesse sentido, o critério adotado pelo Valor 1000 é mais interessante, pois favorece a eficiência na utilização dos ativos para a geração de receitas, ou seja: mais importante do que ter um ativo maior é a eficiência com a qual a empresa utiliza seus ativos para a geração de receita.

A análise dos bancos acabou ficando com 48 instituições em função de algumas mudanças ocorridas no setor ao longo de 2006, com a incorporação de instituições financeiras.

Optou-se por trabalhar com a mediana, em vez da média aritmética, para evitar-se a maior influência de determinados outliers, os quais não foram retirados da amostra para evitar distorções, uma vez que um resultado muito ruim, ou muito bom, pode ser - e normalmente é - função de mudanças nas condições competitivas da empresa.

Da análise da tabela 1, percebe-se que a taxa de retorno sobre o patrimônio líquido dos bancos e das empresas não é tão distante, embora os bancos apresentassem um ROE médio acima do setor produtivo. A análise do ROA, remete a um resultado inverso, com o setor produtivo apresentando uma eficiência muito superior ao setor financeiro na utilização dos ativos para a geração de receita. Antes de se avançar nas análises, um ponto precisa ser destacado. O desvio-padrão dos retornos observados para o setor produtivo se apresentou, de forma sistemática, independentemente do período considerado, significativamente maior do que o do setor bancário. Tal aspecto permite uma conclusão preliminar, no sentido de que o setor bancário apresenta resultados mais consistentes e estáveis, na média. O setor produtivo, por sua vez, está sujeito a uma maior dispersão dentre os setores, bem como a uma maior oscilação dos resultados em função de mudanças conjunturais, carregando consigo maiores riscos - risco aqui entendido como volatilidade dos retornos.

A análise do desempenho dos dez maiores bancos, comparativamente às dez maiores empresas acentua a diferença de rentabilidade do patrimônio entre os setores, embora a rentabilidade operacional não apresente variações significativas. A análise da tabela 2, onde são apresentados os desvios-padrões dos retornos é muito ilustrativa, no sentido de evidenciar alguns aspectos de risco dos setores.

O presente artigo, de certa forma mostra que os resultados das instituições financeiras, em termos de rentabilidade, podem ser considerados compatíveis com os observados pelas maiores empresas. As diferenças em termos de rentabilidade (ROE) não são tão grandes como se imagina no senso comum. Já no que se refere à eficiência operacional (ROA), o setor produtivo apresentou resultados mais elevados, na média. O que chama a atenção é que a variabilidade dos retornos, qualquer que seja o índice considerado, se mostrou maior no setor produtivo.