Título: Alimento e produto agrícola levam cesta básica a recorde
Autor: Bouças, Cibelle
Fonte: Valor Econômico, 06/02/2008, Brasil, p. A3

A inflação nos preços de produtos agrícolas e alimentos ainda comprometeu de forma mais significativa o orçamento das famílias em janeiro. De acordo com dados da Fundação Procon-SP, o preço da cesta básica na capital paulista subiu 2,43%, alcançando o recorde de R$ 264,87. O grupo de alimentos da cesta variou 2,58%, fechando o mês em R$ 216.

Para economistas ouvidos pelo Valor, ainda que haja expectativa de arrefecimento na inflação dos alimentos neste ano, a variação nesses itens ainda deverá superar os reajustes no rendimento salarial, comprometendo novamente os ganhos das famílias de baixa renda. Um estudo realizado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) revelou que, em 2007, as famílias com renda mensal de até 2,5 salários mínimos sofreram maior impacto que a média.

A inflação percebida por esse grupo foi de 5,87%, ante o Índice de Preços ao Consumidor (IPC) geral de 4,6%. Em anos anteriores, a inflação para famílias de baixa renda foi menor ou igual à média. A diferença, observa Salomão Quadros, coordenador de análises econômicas da FGV, deve-se ao fato de a alimentação ter peso de 39% para as famílias de baixa renda, ante 23% na média geral. A inflação do grupo alimentos ficou 0,46 ponto percentual acima da média, em 11,61%. "Neste ano os alimentos vão subir menos, mas ainda terão impacto maior nas famílias de baixa renda", afirmou.

Fábio Silveira, sócio da RC Consultores, estima para 2008 um crescimento na massa salarial de 6%, ante 6,3% em 2007, e o IPC agrícola entre 4% e 5%, ante 10,8% no ano passado. "Para o assalariado, não haverá recuperação da renda disponível porque o reajuste só ocorrerá em abril ou maio. O ganho ao longo do ano será menor, de 4,5%", avaliou Silveira. "O preço da cesta básica aumentou 20% o ano passado. Em 2008 tende a subir bem menos, mas até fevereiro produtos como tomate e feijão ainda vão pesar bastante na cesta", concordou Rafael Castro, economista da LCA Consultores. Ele projeta a inflação de alimentos próxima a 6% neste ano, e aumento na massa salarial de 5,9%.

Em janeiro, conforme dados do Procon-SP, o feijão carioquinha ainda foi o item que apresentou maior variação, de 19,32% no mês, seguido por óleo de soja (11,06%), leite em pó (10,7%), farinha de trigo (8,9%) e macarrão (4,8%). Fábio Silveira, da RC, observou que as variações já foram menos intensas que em dezembro e tendem a se arrefecer mais em fevereiro, dadas as oscilações verificadas no atacado.

O IPA, indicador da RC de preços agrícolas no atacado paulista, baseado em uma cesta de 14 produtos variou 0,1% em janeiro, já com queda nos preços de frango (12%), tomate (6,2%), feijão (4,3%), milho (2,6%), carne suína (1,3%), ovos (1,2%) e carne bovina (1,1%), resultado do aumento da oferta causa pela entrada do período de safra. As quedas, segundo ele, são incorporadas pelo varejo em até quatro semanas.

O Índice Geral de Preços de Mercado (IGP-M) também apontou arrefecimento nos preços agrícolas ao atacado, com alta de 2,31%, ante 5,59% em dezembro. No varejo, o IPC-S de 31 de janeiro subiu 0,97%, 0,01 ponto percentual abaixo do apurado na semana anterior. O grupo alimentação subiu 2,1% no período, abaixo dos 2,32% da semana anterior.