Título: Alimentos mantêm inflação sob pressão
Autor: Salgado, Raquel
Fonte: Valor Econômico, 09/08/2007, Brasil, p. A5

O movimento de alta nos preços de alimentos verificado nos últimos meses não deve ser revertido tão cedo. Os aumentos ocorreram principalmente nas commodities agrícolas, porém, não ficaram restritos a elas e foram repassados ao resto da cadeia. Apesar das maiores elevações já terem acontecido neste ano, a demanda doméstica aquecida, que permitiu estes repasses, continuará colaborando para que os preços mantenham-se em patamares mais elevados.

Por conta dessa pressão, algumas consultorias revisaram suas projeções para a inflação tanto deste quanto do próximo ano. Ainda assim, a maioria acredita que o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) ficará dentro da meta estipulada pelo Banco Central - desde que a entidade passe a promover cortes menores nos juros.

Marcela Prada, economista da Tendências Consultoria Integrada, revisou de 3,4% para 3,7% a estimativa para este ano. A de 2008 foi de 3,8% para 4,1%. Estas mudanças foram acompanhadas de revisões também nos indicadores de nível de atividade. A expectativa de crescimento do Produto Interno Bruto (PIIB) de 2007 subiu de 4,3% para 4,8%, enquanto a do próximo ano ficou em 4,4%, acima dos 4,1% previstos antes. "Boa parte da pressão adicional vem dos alimentos, que já subiram muito e imprimiram um nível mais alto à inflação", diz.

O aumento destes preços não está concentrado apenas em alimentos da chamada lavoura curta, como hortaliças e verduras. Embora esses produtos lá acumulem elevação de 14,1% de janeiro a julho deste ano, segundo o IPCA, a alta também é verificada na cadeia de panificados (impactados pelo preço do trigo), carnes e aves e ovos.

Na avaliação de Tatiana Pinheiro, do ABN Amro, esses aumentos são derivados do choque de commodities, que estão subindo no mercado internacional. O problema é que este choque também aconteceu no ano passado e o repasse de preços não foi tão grande. Nos 12 meses terminados em julho de 2006, por exemplo, o grupo de panificados, que inclui massas, biscoitos e pães, acumulava queda de 1,34%. Em julho deste ano, ele já tem alta de 3,42%.

"Houve problemas de oferta. Mas a diferença é que agora os aumentos atingiram não só leite, trigo e milho, eles foram se espalhando pela cadeia e chegaram ao iogurte, ao requeijão, às massas", explica Tatiana. Para ela, isso só foi possível porque existe uma demanda forte capaz de aceitar os repasses. A economista espera um IPCA em 4% neste ano.

Em julho, o índice ficou em 0,24%, após subir 0,28% em junho. O recuo deveu-se à queda de 12,66% na tarifa de energia elétrica em São Paulo. A maior pressão veio dos alimentos, que subiram 1,27% por conta do leite e derivados, na maior alta do ano e na maior alta desde 2000 para um mês de julho.

Embora haja mais pressão sobre os alimentos, o câmbio ainda segue dando um bom alívio à inflação. Os bens duráveis, como eletroeletrônicos e eletrodomésticos, acumulam queda de 1,6% nos 12 meses terminados em julho deste ano. A importação barateia esses produtos. A ajuda do câmbio, porém, tem perdido intensidade. O grupo dos bens comercializáveis, aqueles que são exportados pelo país, acumulam alta de 4% nos 12 meses até julho, bem acima do 1,6% de julho de 2006. Quando se retiram os alimentos, a variação cai para 1,6%. Ainda assim é maior do que a do ano passado - 0,3%.