Título: Ações para dias de chuva
Autor: Cotias, Adriana
Fonte: Valor Econômico, 02/08/2007, EU & Investimentos, p. D1

Se o clima no mercado de ações promete mais tempestade do que bonança, não custa nada o investidor se resguardar em papéis mais parrudos, ligados à economia tradicional e de longa data no pregão. É esse o espírito das indicações para a Carteira Valor de agosto. As ações preferenciais (PN, sem direito a voto) da Petrobras , em segundo plano nos meses anteriores, voltaram ao topo da lista, com cinco recomendações, seguidas por Lojas Americanas PN, com quatro, e, Gerdau PN, com três.

Em julho, o portfólio das dez mais resistiu à virada dos mercados globais e esboçou uma alta de 0,43%, em comparação à queda de 0,39% do Ibovespa. Vale do Rio Doce PNA (+9,26%), Lojas Americanas PN (+8,51%) e a ação ordinária (ON, com voto) do Banco do Brasil (+6,13%) amorteceram o tombo, enquanto Embraer ON (-13,32%) sofreu junto com as empresas aéreas as conseqüências do acidente com o avião da TAM, jogando a média para baixo. No acumulado do ano, a Carteira Valor mantém larga vantagem, ganhando 34,08%, ante 21,83% do índice. Em 12 meses, a seleção sobe 66,90%, contrastando com os 46,13% atingidos pelo Ibovespa.

Sem que o impacto da crise das hipotecas americanas de alto risco ("subprime") tenha sido de todo dimensionado, o Ibovespa pode passar por novas correções em agosto, pois não se sabe se o aperto no crédito global, sinalizado nas aquisições financiadas, se estenderá para outras linhas corporativas. "São questões que não se resolvem do dia para noite, o que pressupõe que o mercado será guiado pelos fluxos internacionais, que se movem em bloco e não diferenciam fundamentos", diz o chefe de análise da Bradesco Corretora, Carlos Firetti. "Do ponto de vista conjuntural, o cenário não mudou e a economia está mais inclinada a crescer do que a desacelerar."

A ênfase das recomendações da corretora é toda dada ao mercado interno, com a inclusão das ações ON da Dasa e da Lojas Renner, além das units (recibos de ações) do Unibanco. Após concretizar grande parte das aquisições planejadas, a empresa de diagnósticos ganhou escala, abrangência geográfica e pode ter seu valor reconhecido, assinala Firetti. A Renner tem conseguido elevar suas vendas (no conceito mesmas lojas) e veio com resultados surpreendentes no segundo trimestre.

Renner também é uma das apostas do Banif Banco de Investimento. Com o frio rigoroso no Sul, onde a varejista concentra a sua distribuição, a expectativa é de que o desempenho no terceiro trimestre seja igualmente promissor, assinala o analista Roger Oey. Tirando a novata de pregão Klabin Segall ON, as demais escolhas são de pesos pesados: Gerdau PN, Braskem PNA e Petrobras PN.

Com o barril do petróleo beirando os US$ 80,00 e a expectativa de que a a estatal coloque em operação novos campos de produção, o papel pode começar a tirar o atraso. É claro que, em dias ruins, a ação, tradicional investimento dos estrangeiros, pode ratear com a saída desse capital, ressalva Oey, para quem o cenário não é de todo adverso. "Os fundamentos das empresas brasileiras são bons e a recuperação tende a ser mais rápida do que em outros mercados."

Numa seleção que inclui CPFL Energia ON, Klabin PN, Itaú PN e Usiminas PNA, o chefe de análise da Concórdia, Eduardo Kondo, guiou-se por boas projeções de resultados para o terceiro trimestre. "Companhias com resultados fortes ganham poder de defesa em tempos difíceis", diz. "Se há dúvidas se a economia global vai desacelerar, melhor é ficar com aquelas com histórico de geração de caixa e de rentabilidade consistentes."

É o caso da CPFL, também boa pagadora de dividendos e com preço alvo de R$ 56,30 e potencial de alta de 55%. Itaú, um dos bancos de grande porte mais rentáveis do país, se beneficia da expansão do crédito em linhas até então pouco exploradas pelo setor, como o financiamento imobiliário, além de ter revelado valores ainda não estimados pelos analistas em negócios acessórios, como Redecard e Serasa. O resultado da Klabin, por sua vez, surpreendeu no segundo trimestre, diante da ampliação das vendas de papelão ondulado. "E o aumento da capacidade que virá com a inauguração da nova fábrica, em outubro, ainda não se refletiu nas ações", afirma Kondo.