Título: Chile propõe à Bolívia criar anel energético andino
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Fonte: Valor Econômico, 01/08/2007, Internacional, p. A11

O Chile propôs à Bolívia um projeto de integração energética entre os dois países, junto com Equador, Peru e Colômbia, afirmou o ministro da Energia chileno, Marcelo Tokman, que esteve em La Paz reunindo-se com o ministro dos Hidrocarbonetos boliviano, Carlos Villegas e outras autoridades. O projeto suscita preocupação em diplomatas brasileiros consultados pelo Valor por alijar o Brasil dessa cadeia.

"Convidamos a Bolívia a participar. Eles concordaram em analisar e prometeram responder rapidamente", disse Tokman.

O Chile vem enfrentando uma escassez energética que ameaça seu crescimento econômico. Os envios de gás da Argentina vêm minguando, por que os argentinos passam eles mesmo por escassez energética. A possibilidade de compra da commodity da Bolívia, por sua vez, é improvável na atual conjuntura, pois a opinião pública boliviana é contra, a não ser que o Chile negocie uma saída para o mar - perdida pela Bolívia no Século XIX após um conflito militar com os chilenos.

Apesar de o vice-presidente boliviano, Alvaro Garcia Linera, ter dito no mês passado que o país precisa urgentemente atrair investimentos externos, o ministro Villegas retomou a retórica de auto-suficiência antes do encontro. Ele afirmou que a Bolívia tem fundos suficientes para cumprir os compromissos de fornecimento de gás natural para os mercados interno e externo. Além disso, o ministro disse ainda que não precisava de eventuais investimentos chilenos.

A idéia de uma "integração energética" andina poderia servir para viabilizar a compra de energia pelo Chile sem ferir os brios dos bolivianos. O ministro Villegas disse que o tema do gás natural "não foi objeto de análise", pois o encontro se concentrou nas propostas do Chile.

Por outro lado, um projeto de integração energética poderia servir para isolar o Brasil. "Seria um anel energético ao contrário", disse um diplomata brasileiro, referindo-se ao antigo plano de interligar com gasodutos Peru, Chile, Argentina e Brasil - plano levantado quando a Bolívia nacionalizou seu setor de energia e provocou temor dos investidores privados e dos consumidores externos de seu gás.

Nos próximos dois meses, os países envolvidos vão iniciar um estudo de factibilidade da interconexão, o qual pode levar cerca de dez meses para ficar pronto, disse o ministro Tokman.

Durante a reunião em La Paz, as autoridades chilenas também propuseram que a sua estatal energética, a Enap, e a equivalente boliviana, a Ende, analisem a possibilidade de um projeto de usina geotérmica na fronteira entre os dois países.

Hoje, o presidente da Bolívia, Evo Morales, vai a Lima se reunir com o peruano Alan García. As chancelarias dos dois países não disseram se o projeto de integração energética faria parte da pauta. A saída para o mar será debatida.