Título: Opção pelo ministro neutraliza críticas do PSDB
Autor: Rittner, Daniel
Fonte: Valor Econômico, 27/07/2007, Política, p. A11

O ministro Nelson Jobim foi escolhido para solucionar uma crise, mas sua nomeação para a Defesa deve render dividendos políticos para o governo. De imediato, segundo avaliação feita no PT e no PSDB, neutraliza as críticas dos tucanos, especialmente os de São Paulo, que vão hesitar em "bater duro" na gestão do apagão aéreo. Jobim tem ótimas relações com o PSDB e foi o ministro da Justiça de Fernando Henrique Cardoso.

O ministro da Defesa também é amigo do governador de São Paulo, José Serra (PSDB), com quem dividia um apartamento na época em que os dois foram eleitos deputados à Assembléia Nacional Constituinte. Assim que deixou o Palácio do Planalto, na noite de terça, Jobim telefonou para Serra e contou que aceitara o convite para a Defesa. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva havia pedido sigilo absoluto, pois queria ter uma conversa boa com o ministro a ser substituído, Waldir Pires.

Além de Serra e FHC, o novo ministro da Defesa também tem ótimo relacionamento com outros líderes importantes do PSDB, como o senador Tasso Jereissati, que é o presidente do partido, e o líder no Senado, Arthur Virgílio. Ficou evidente o tom mais moderado dos tucanos, em relação à nomeação de Jobim, sobretudo quando comparado ao discurso mais agressivo de seu parceiro de oposição, o Democratas.

Apesar do excelente relacionamento, é improvável que a nomeação de Jobim signifique uma aproximação entre o governo e o PSDB. Os tucanos, e Serra em particular, devem preservar a figura pessoal do ministro, mas têm claro que pela primeira vez, neste segundo mandato, a popularidade de Lula foi de fato afetada. Avaliação de um instituto de pesquisa feita a um ministro do governo informa que o impacto não deve ser tão grande assim: alguma coisa na casa dos três pontos.

Dois dos integrantes da operação de convencimento de Jobim contou ao Valor que em nenhum momento a componente política foi avaliada, no Palácio do Planalto. Jobim era o Plano A de Lula, que o chamou para solucionar uma crise. "É evidente que ele ajuda na relação política com todos, e não apenas com o PSDB, mas essa não é a razão dele ter sido convidado", diz um dos interlocutores de Lula e Jobim, durante as negociações da terça-feira.

Também não pesou para o convite o fato de Jobim ser do PMDB - a cúpula do partido ficou sabendo da escolha pelos jornais, nem foi comunicada por Lula. Quem avisou ao presidente do partido, deputado Michel Temer, de férias na Europa, foi o ex-deputado Moreira Franco, vice-presidente de Fundos de Governo e Loterias da Caixa Econômica Federal, depois que conseguiu confirmar a notícia com o Planalto, na quarta.

Jobim tem prestígio no PMDB, mas nenhuma influência na máquina partidária. Pode se credenciar a candidato a candidato a presidente ou a vice-presidente, se tiver um sucesso estrondoso na solução da crise do setor aéreo - o que nem tucanos nem pemedebistas acreditam, pois avaliam que a Defesa some do noticiário com o fim do apagão. Mas sem dúvida é outro nome ligado a José Serra num partido em que a ala que apoiou o tucano, em 2002, ganhou força: Temer comandou uma bem sucedida operação para o PMDB capturar o quinto ministério, Geddel Vieira Lima virou ministro da Integração Nacional e Henrique Alves, que chegou a ser escolhido vice de Serra, em 2002, é o líder na Câmara.

Com bom trânsito com o governador José Serra (PSDB), o líder do governo na Assembléia paulista, deputado Barros Munhoz, diz que a nomeação de Nelson Jobim não será suficiente para a oposição baixar o tom das críticas. O parlamentar elogiou o perfil 'dinâmico' de Jobim e o bom relacionamento do ministro com a oposição, mas diz que dificilmente conseguirá reverter a crise, tal a dimensão por ela atingida. "Não basta a nomeação de um ministro. A crise foi longe demais para que a mudança signifique um arrefecimento nas críticas", disse. "O único fato positivo que a nomeação de Jobim traz é que finalmente, depois de 10 meses e mais de 350 mortes, o presidente Lula fez alguma coisa. Ele é mais dinâmico, ativo e busca interlocutores. Não tem a passividade de Waldir Pires, que era insustentável para alguém que ocupa essa função", disse o parlamentar tucano. (Colaborou Cristiane Agostine, de São Paulo)