Título: AL resistiria a uma queda nas commodities, diz estudo
Autor: Souza, Marcos de Moura e
Fonte: Valor Econômico, 17/07/2007, Internacional, p. A12

A América Latina pode superar sem abalos um correção nos mercados de commodities, segundo um estudo. Depois de atravessar um longo período de baixo crescimento e seguidas crises, os países da região vivem um novo momento graças a reformas estruturais realizadas nos últimos anos, que reduziram a vulnerabilidade a choques externos. Os altos preços das commodities foram um dos fatores que ajudaram a melhora da saúde financeira da região. Mas só uma improvável redução muito forte das cotações causaria um impacto sério nas economias locais.

Essa é a conclusão de um estudo do banco de investimentos Goldman Sachs sobre o peso das commodities nas economias latino-americanas. Segundo o estudo, o ciclo de alta dos preços das commodities registrado entre 2003 e 2006, ajudou a fortalecer de modo significativo as contas externas na região. A balança comercial melhorou em cerca 4 pontos percentuais do Produto Interno Bruto (PIB) entre 2001 e 2006. E a melhora no desempenho da balança de pagamento foi acompanhada de uma onda de pagamentos antecipados da dívida externa. "A América Latina realizou um tremendo ajuste estrutural. Agora, o que há por fazer é melhorar os níveis de crescimento e de investimento", disse ao Valor, o economista sênior para a América Latina do banco, Alberto Ramos, autor do estudo.

O cenário que o Goldman Sachs traça é de que os preços das commodities permaneçam elevados pelos próximos anos. Mas, mesmo se a bonança for interrompida, as economias latino-americanas terão condições para absorver o golpe, diz o estudo.

O banco fez uma projeção do impacto provocado por uma queda de 20% nos preços de todos os subgrupos das commodities (energia, metais industriais, metais preciosos, agricultura e gado). "Os resultados são encorajadores", afirma o estudo intitulado "América Latina: Mais do que Apenas uma Febre das Commodities", de Alberto Ramos.

As oito maiores economias da região sofreriam uma redução nos termos de troca de 5,6%. "Isso se traduziria em uma redução de US$ 52 bilhões de exportações e uma redução de US$ 11 bilhões nas importações. No geral, a balança comercial agregada continuaria registrando superávit, embora este encolhesse um terço, de US$ 120 bilhões (4,4% do PIB) para US$ 80 bilhões."

O estudo diz que o superávit em conta corrente cairia de 2% do PIB para 0,5%. "Em outras palavras, a perda direta dos ganhos externos seria de 1,5% do PIB (nada crítico para região que continua a crescer a cerca de 5%)." Este é um percentual, segundo banco, que não pode ser negligenciado, mas que é administrável. "E a conta corrente agregada ainda seria superavitária, uma variável que oferece um conforto significativo para os investidores na América Latina."

Venezuela, Chile, Equador e Peru seriam os mais afetados, uma vez que as commodities representam uma grande parcela do total das exportações desses países. Brasil e México seriam os menos atingidos, devido à base mais ampla (comparada com outros países da região) de exportações de outros produtos que não commodities. À exceção da Colômbia, todos os países com superávit comercial antes de uma eventual queda de 20% nas commodities continuariam superavitários.

Para o Goldman Sachs, só uma redução da ordem de 50% nas cotações das commodities seria capaz de provocar uma redução drástica do crescimento latino-americano. Mas esse cenário é descartado pelo banco.