Título: Apagões freiam linhas da Visteon na América Latina
Autor: Olmos, Marli
Fonte: Valor Econômico, 28/06/2007, Empresas, p. B8

Por pouco Hélio Contador, presidente da Visteon, uma das maiores autopeças do país, não cancelou a a cerimônia de inauguração de uma nova fábrica em Manaus (AM), hoje, diante da dificuldade para marcar vôos. Nessa empresa, não são os passageiros que sofrem com o caos aéreo, mas a produção. Mais de 60% dos itens importados chegam ao país de avião. Nos últimos dias, o atraso na chegada das peças paralisou as linhas de produção, segundo Contador.

Para fabricar equipamentos de áudio, uma das linhas de produtos, essa empresa americana depende de peças que vêm, sobretudo, da Ásia. São itens pequenos e de alto valor agregado. "Por isso não se justifica trazer o produto de navio", explica Contador. A Visteon utiliza os aeroportos de Guarulhos (SP), Campinas (SP) e Manaus (AM). "Chegamos a enfrentar problemas de paralisação das linhas de produção; felizmente isso não afetou os clientes porque contávamos com algum estoque para poder atendê-los", diz Contador.

Como toda a cadeia de fornecedores da indústria automobilística, a Visteon trabalha no modelo chamado "just-in-time", por meio do qual não se permitem estoques. As peças chegam na linha de montagem quase que no mesmo instante da produção do veículo. Às vezes, atraso de algumas horas pode parar uma linha.

A Visteon usa aviões para importar e também para exportar. Segundo Contador, a empresa chegou a ter de contratar frete especial - "que custa o dobro", diz o executivo - quando algum vôo da linha comercial falha.

Os problemas de infra-estrutura que afetam a Visteon não se limitam à desordem aérea. Com três fábricas na Argentina, o apagão energético do país vizinho obriga a empresa a desligar as linhas de produção nos horários de pico. Na Argentina a empresa produz equipamentos de climatização, como ar-condicionado, uma das áreas dentro da companhia que está muito próxima da capacidade.

As áreas de climatização e de acabamentos de interior em plástico (como painéis) estão com utilização de índices que variam de 80% a 100% da capacidade, tanto nas fábricas da Argentina como nas do Brasil, onde a empresa tem mais três unidades.

A limitação obriga a direção a se preparar para um novo ciclo de investimentos em ampliação industrial. "O primeiro em muitos anos", diz Contador. Mas o executivo está preocupado em ter que definir até o próximo ano programas de investimentos que devem ser aplicados entre 2009 e 2010 num momento em que os gargalos de infra-estrutura já não permitem a empresa trabalhar no mesmo ritmo.

"Não adianta ralhar apenas com o câmbio quando temos de enfrentar custos adicionais em razão dos problemas de infra-estrutura", afirma o executivo. Câmbio, aliás, é o que menos tem importunado a Visteon, que no passado foi uma grande exportadora. Nos tempos em que a empresa era atrelada à Ford, a subsidiária brasileira enviava mais de 90% da produção de rádios para outros países, principalmente Estados Unidos.

A construção de fábricas no México e em Portugal tirou a filial brasileira da posição de destaque no abastecimento global. Com uma receita anual de US$ 500 milhões, hoje somente 15% são obtidos com exportação. Já a importação representa 60% das compras da companhia.