Título: Aumenta a participação dos Estados do Norte e Nordeste no PIB brasileiro
Autor: Santos, Chico
Fonte: Valor Econômico, 17/11/2006, Brasil, p. A3

O quadro revelado pelos números do Produto Interno Bruto (PIB) dos Estados em 2004 - crescimento das participações do Norte e do Nordeste no bolo da economia nacional, em detrimento do Sul e do Sudeste - tende a se repetir nos anos de 2005 e de 2006, impulsionado pelo consumo doméstico. O economista-chefe da consultoria Gouvêa de Souza (GS&MD), Maurício Moura, disse que esse consumo é estimulado por um "efeito renda" baseado em três vertentes: intensificação das transferências do Bolsa Família, aumento do salário mínimo neste ano e deflação nos preços dos alimentos.

De acordo com números divulgados ontem pelo IBGE, o crescimento acima da média nacional (4,9%) em Estados como Amazonas (11,5%), Bahia (9,6%), Pará (6,6%) e Maranhão (5,2%), fez com que as participações das regiões Norte e Nordeste passassem, respectivamente, de 5% para 5,3% e de 13,8% para 14,1% da economia nacional de 2003 para 2004.

As duas regiões mais ricas, Sudeste e Sul, perderam participação. A primeira passou de 55,2% para 54,9% do total, e a segunda, de 18,6% para 18,2%. O Centro-Oeste ficou estável em 7,5%.

"Minha expectativa é que o quadro de 2004 (aumento de participação das regiões mais pobres) mantenha-se em 2005 e se intensifique em 2006", disse Moura. Ele ressaltou que, além dos fatores ligados diretamente à disponibilidade de renda, também a expansão da oferta de crédito, que vem ocorrendo desde o ano passado, favorece mais as famílias de baixa renda, aspecto favorável à maior expansão do Norte e Nordeste.

Os números setoriais do IBGE corroboram as expectativas do economista. Na indústria, a produção do país cresceu 3,09% em 2005. No Amazonas, a alta foi de 11,78%, e na Bahia, de 4,25%. Em 2006 (janeiro a julho), a indústria do Amazonas caiu 2,3%, mas a do Pará cresceu 14,8%. No Nordeste, Bahia, Pernambuco e Ceará cresceram bem acima da média.

No comércio varejista, os Estados do Norte e do Nordeste têm crescimento bem superior à média nacional, de 4,84% em 2005, e de 5,3% de janeiro a agosto deste ano. A GS&MD prevê que o comércio feche 2006 com crescimento de 4,45% no país, ante 11,2% no Norte e 9,8% no Nordeste.

As perspectivas são boas para uma sociedade regionalmente desigual como a brasileira, mas Moura alerta que elas não têm sustentabilidade no tempo. A expansão do Bolsa Família tem limite (segundo dados de maio deste ano, o Nordeste concentrava metade das 9,2 milhões de famílias beneficiadas pelo programa), o salário mínimo não deve crescer em 2007 na mesma proporção que em 2006 (16,6%) e a disponibilidade de crédito começa a bater no teto do aumento da inadimplência. "Crédito e consumo não sustentam a curva de crescimento a médio e longo prazos. O que o Nordeste precisa é de investimentos", diz Moura.

O coordenador de contas regionais do IBGE, Frederico Cunha, é cauteloso. Ele disse que é possível atribuir parte do crescimento do Norte e Nordeste em 2004 ao consumo, impulsionado pelas transferências de renda, mas avalia que há aspectos da produção influenciando ainda mais. O Amazonas, que liderou o crescimento por Estados e alcançou a melhor participação no bolo nacional (2,03% do total), tem 55% da economia baseada na indústria (Zona Franca de Manaus) que cresceu em 17% em 2004.

A Bahia, a maior economia do Nordeste, elevou a participação no PIB brasileiro de 4,7% para 4,9% do total com crescimento da indústria de transformação de 16% e da agropecuária, de 11,8%. Mas o comércio também cresceu 8%. O Maranhão é o Estado nordestino com maior crescimento acumulado desde 1985 (91%) e, como o Piauí, que cresceu 4,6% em 2004, tem na agroindústria da soja importante propulsor da economia.

Embora permaneçam como os dois Estados mais pobres do país, o PIB per capita de Maranhão e Piauí nunca esteve tão próximo da média nacional (R$ 9.729). O do Piauí fechou 2004 em R$ 2.892, e o do Maranhão, em R$ 2.748. Ambos estão na casa de 30% da média, muito pouco, mas em 2003 os números eram, respectivamente, R$ 2.485 e R$ 2.354, na casa de 20% da média. A participação do Maranhão na economia brasileira passou de 0,7% em 1985 para 0,9% em 2004. No mesmo período, a do Piauí passou de 0,4% para 0,5%.

Na ponta dos Estados mais ricos, São Paulo perdeu quase um ponto percentual de participação (de 31,8% para 30,9%), embora tenha registrado a sexta maior taxa de crescimento (6,4%) entre as 27 unidades da federação. Mesmo crescendo 1,9%, muito abaixo da média, o Rio aumentou a participação de 12,2% para 12,6%, graças aos preços favoráveis do petróleo, sua mais importante indústria.