Título: Chamado real contra o crime
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Fonte: Correio Braziliense, 04/01/2011, Opiniao, p. 16

Um dos compromissos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao assumir o primeiro mandato, em 2003, era costurar com os estados um sistema integrado de segurança pública. Oito anos depois, o ministro da Justiça da presidente Dilma Rousseff, José Eduardo Cardozo, retoma a ideia do pacto federativo para o combate ao crime organizado, ao consumo de drogas e à violência no país. Vai mais longe, ao incluir os países vizinhos, cuja parceria considera necessária para maior controle das fronteiras.

Não se duvida da importância da proposta, mas o romantismo que a cerca precisa ser dissipado. Deputado por dois mandatos e procurador da capital paulista, Cardozo está à altura da missão, somando experiência política e expertise no combate à bandidagem. Mas a tarefa, urgente, é por demais complexa e o entendimento pretendido, difícil de se efetivar já, neste momento de posses e ocupação de espaços políticos.

O ministro cita o êxito da união de forças na desocupação de territórios dominados pelo tráfico no Rio de Janeiro. O sucesso da operação é inconstestável, mas deve-se ressaltar que localizado. Mais e principalmente: o resultado não foi completo. Por maiores que tenham sido as baixas das quadrilhas, elas sobrevivem. Ganhou-se importante batalha, não a guerra.

As fontes de recursos do crime organizado ¿ embora as apreensões de grandes somas no Complexo do Alemão ¿ não estão em morros e favelas. Tampouco se encontram nesses locais as autoridades corrompidas sem as quais a instituição criminosa não se mantém, como bem lembrou o próprio Cardozo. Mais eficiente do que um embate armado com os soldados do crime, portanto, é a asfixia financeira das organizações.

Essa é uma luta a se travar no campo da inteligência, da investigação silenciosa, que independe da concretização do pacto com estados e municípios. E que deve ser permanente, sem trégua. Outra frente, nas fronteiras, carece de maior aporte de recursos financeiros, materiais e de pessoal, mas igualmente apartada da costura do amplo acordo.

A propósito, a Copa do Mundo (2014) e as Olimpíadas (2016) são desafios e ao mesmo tempo oportunidades ímpares de reforço do aparato de segurança. Importa que as ações comecem já e tenham resultados efetivos, de modo a ganharem a confiança da população. Nesse diapasão, governadores e prefeitos aderirão voluntariamente, respondendo não a um chamado para um sonho comum mas a uma realidade para a qual a população estará atenta.