Título: Aliados culpam omissão do Planalto e apetite petista por derrota de Delgado
Autor: Jayme, Thiago Vitale
Fonte: Valor Econômico, 08/12/2006, Política, p. A10

A base governista viveu um dia de ressaca ontem na Câmara, depois da derrota do candidato apoiado pelo Palácio do Planalto na disputa pela vaga de ministro do Tribunal de Contas da União. Na quarta-feira, Aroldo Cedraz (PFL-BA) derrotou Paulo Delgado (PT-MG) no plenário e ficou com o cargo.

Os partidos aliados culparam, por mais esta derrota, a já conhecida falta de capacidade de articulação do governo no Congresso Nacional. "O Palácio do Planalto não deu uma ligação sequer para ajudar na votação", reclamou um dos líderes da base governista.

Os líderes governistas identificaram que entre cem e 110 deputados dos partidos aliados traíram o governo na votação. "Esses parlamentares preferiram dar a vitória ao PFL", disse o líder do PT, Henrique Fontana (RS).

Alguns parlamentares de expressão ouvidos pelo Valor disseram que o lançamento da candidatura de Arlindo Chinaglia (PT-SP) à Presidência da Câmara na véspera da eleição para a vaga no TCU foi um erro.

A parcela do PMDB disposta a ter um candidato ao cargo máximo da Casa e aliados do presidente da Câmara, Aldo Rebelo (PCdoB-SP), teriam ficado irritados com o "fato consumado" encenado pelo PT, que empurrou goela abaixo da base governista um candidato a presidente da Câmara mesmo não tendo o direito regimental de fazê-lo, pois é a segunda bancada em número de deputados, e o direito à indicação cabe à primeira, o PMDB.

A traição, segundo parlamentares ligados ao Palácio do Planalto, teria vindo, entre outros, do PP, que votou em peso em Cedraz; de parte do PMDB, cujos integrantes estavam irritados com o movimento considerado "precipitado" na questão da eleição do presidente da Câmara; e do PTB ligado ao deputado Luiz Antônio Fleury (SP).

O ex-governador de São Paulo era pré-candidato ao TCU e abriu mão a favor de Delgado. Desde o início, foi contrário à realização de uma prévia dentro da base aliada por considerar a indicação ao TCU suprapartidária.

Os outros votos contrários teriam vindo de aliados de Aldo em diversos outros partidos. Avalia-se também que 10% do PR (ex-PL) não teriam votado em Paulo Delgado.

"Os partidos da base fizeram o dever de casa, mas faltou fechar a votação. Faltou esforço. O governo deveria ter agido. Faltou presença forte do governo na questão", avalia o líder do PR, Luciano Castro (RR). Segundo análise do deputado, a derrota de ontem foi, sim, uma perda governista no Congresso.

"Quando transformamos cinco candidaturas diferentes em apenas uma, criamos um nome do governo. Mas faltou articulação", analisa.

A escolha de Paulo Delgado foi conturbada. Até o início da tarde do dia da votação, cinco nomes estavam na disputa da representação dos governistas. A prévia organizada pelos líderes não resolveu a questão, pois a diferença entre os candidatos foi apertada. Uma tensa reunião definiu o nome de Delgado.

Setores da base avaliaram que o PT queria tudo: o cargo no TCU, a presidência da Câmara, mais ministérios. Teriam dado um recado ao Planalto votando em Cedraz. Fontana interpretou o movimento como um erro. "Se o recado é de veto ao PT, é um equívoco político grave. O PT não é hegemônico. Há dois anos, o deputado Arlindo Chinaglia abriu mão da candidatura a favor de Aldo", disse o petista. E completou: "O PT não pode vetar nem ser vetado".

O recado da base, se foi considerado um erro por Fontana, foi recebido como um alerta por outros líderes. "Se o governo quiser a presidência da Câmara, precisa dizer não só que quer como também quem quer na Presidência", disse Luciano Castro. Para o líder do PR, o anúncio da candidatura de Chinaglia pode abrir precedentes para outros anúncios de levar à mesma situação da disputa pelo TCU, quando havia diversos candidatos e o governo não se posicionou. O líder do PTB, José Múcio Monteiro (PE), concorda. "O governo tem que chamar para conversar. Não pode deixar que a base pratique autofagia na disputa pelos cargos", afirmou.

Fontana garante que a derrota de Delgado não se repetirá na disputa pelo controle da Câmara. "A derrota de quarta-feira mostra um problema real que temos de enfrentar e trabalharmos com uma candidatura única para a presidência da Câmara. No dia 1º de fevereiro, os equívocos não se repetirão", disse o líder do PT.