Título: CPI das Sanguessugas pede dez indiciamentos
Autor: Jayme, Thiago Vitale
Fonte: Valor Econômico, 15/12/2006, Política, p. A8

A CPI das Sanguessugas aprovou ontem, por unanimidade, o relatório final que pede o indiciamentos de dez pessoas, dentre as quais seis dos envolvidos na compra do dossiê contra o PSDB, apelidados pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva de "aloprados". Gedimar Passos, Valdebran Padilha, Hamilton Lacerda, Jorge Lorenzetti, Osvaldo Bargas e Expedito Veloso tiveram seus nomes incluídos no pedido de indiciamento por formação de quadrilha.

O relatório foi apresentado em dois volumes e tem 981 páginas. Em agosto, a CPI já havia aprovado o indiciamento de 69 deputados e três senadores por suposto envolvimento com a máfia das ambulâncias. Apesar de indiciar os envolvidos diretos na compra do dossiê, o senador Amir Lando (PMDB-RO), relator da CPI, não pediu nenhuma punição ao presidente afastado do PT, deputado federal Ricardo Berzoini (SP), e ao assessor especial do presidente Lula, Freud Godoy.

Os dois eram suspeitos de participar do esquema. O pemedebista também não aponta a origem do R$ 1,7 milhão apreendido nas mãos de Gedimar e Valdebran, que confessaram que o dinheiro seria usado para a compra do dossiê.

Lando aponta para o caixa 2 de campanhas petistas como possível origem do dinheiro. "Na hipótese de surgir provas que os valores destinados à aquisição do dossiê originaram-se do caixa de campanha ou de recursos partidários, configurar-se-ia infração eleitoral de abuso do poder econômico", escreveu. A conclusão foi diferente daquela do subrelator e deputado federal Carlos Sampaio (PSDB-SP). "Um laudo da Polícia Federal nos faz ter a convicção de que o dinheiro foi levado pelo Hamilton Lacerda dos diretórios estadual de São Paulo e nacional do PT para a compra do dossiê. Mas essa prova não foi suficiente para convencer o relator", disse o tucano.

Lorenzetti era o coordenador do setor de inteligência da campanha de Lula. Gedimar, Oswaldo Bargas e Expedito Veloso trabalhavam com ele. Hamilton Lacerda era assessor da campanha do senador Aloizio Mercadante. Valdebran seria a conexão entre a máfia e os petistas.

Com relação ao funcionamento da máfia das ambulâncias, a CPI isenta os ex-ministros da Saúde José Serra (PSDB), Barjas Negri (PSDB), Humberto Costa (PT) e Saraiva Felipe (PMDB). Lando afirmou que não há provas concretas da participação desses políticos. "Não tive provas. A família Vedoin nunca apontou para participação direta deles. Eu não podia presumir que eles soubessem dos esquemas. Nem sempre um ministro sabe tudo o que acontece em seu ministério", explicou o senador.

Os empresários Abel Pereira, Raimundo Lacerda Filho, José Caubi Diniz e o deputado federal eleito José Airton Cirilo (PT-CE), porém, não tiveram a mesma sorte. Lando pediu o indiciamento de todos eles. Foram enquadrados em crimes de tráfico de influência e corrupção ativa.

Pereira é apontado por Luiz Antonio e Darci Vedoin, chefes do esquema, como o "liberador de emendas" no Ministério da Saúde na gestão de Barjas Negri. Com a eleição de Lula, ainda segundo os Vedoin, Abel deu lugar a Airton Cirilo. O deputado federal eleito agiria, segundo as investigações, em parceria com seu sobrinho, Raimundo Lacerda, e Caubi Diniz. Todos os indiciados negam qualquer participação no esquema escuso.

O texto ainda aponta fortes indícios de irregularidades em 58 das 600 prefeituras acusadas de envolvimento com a máfia.

O relatório foi aprovado por unanimidade depois de um acordo costurado na madrugada de quarta para quinta. A senadora Heloísa Helena (P-SOL-AL) e os deputados Raul Jungmann (PPS-PE) e Fernando Gabeira (PV-RJ) pretendiam apresentar um voto em separado.

Eles pediriam o indiciamento de Berzoini e Freud, além de apontar o caixa 2 das campanhas de Lula e Mercadante como a origem do R$ 1,7 milhão. Mas o prazo para o encerramento da CPI termina em uma semana e poderia não haver tempo para aprovar nada. "Ficar sem um relatório, ainda que insatisfatório, seria o caos. Como não haveria tempo para pedidos de vista e debates, preferimos recuar", disse Jungmann.

Amir Lando ainda fez sugestões para evitar a atuação de máfias semelhantes no futuro. A principal delas foi a adoção de um financiamento público de campanha, aliado a uma alteração na legislação eleitoral. "O aporte de recursos privados ilegais terminará apenas quando estes deixarem de influir, decisivamente, no resultado da eleição. Ou seja, no momento em que os candidatos disponham de alternativa de não recorrer a eles sem perder a possibilidade de vitória eleitoral", escreveu Lando. A CPI também propôs a imediata suspensão das transferências do Orçamento para organizações não-governamentais (ONGs).