Título: Atrelamento político contém renovação de metalúrgicos da CUT
Autor: Agostine, Cristiane e Olmos, Marli
Fonte: Valor Econômico, 15/06/2007, Política, p. A10

Berço político do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o movimento sindical dos metalúrgicos vive seu momento político e econômico. As diretrizes para os próximos três anos, discutidas no 7º Congresso da Confederação Nacional dos Metalúrgicos da CUT, que se encerra hoje, mostram o alinhamento dos dirigentes sindicais com o governo e apoio total a programas como o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).

Na estrutura interna desse setor do movimento sindical, os paulistas do ABC continuam dominando as discussões. O atual presidente da confederação, Carlos Alberto Grana, ex-operário de uma fábrica de autopeças de Diadema, no ABC, deverá ser reconduzido ao cargo hoje, numa eleição em que não houve chapa de oposição.

Há pouca renovação da direção e as lideranças do movimento mantêm estreito relacionamento com Lula. "Nossa relação com o governo é de apoio", resume Valter Sanches, secretário-geral da Confederação dos Metalúrgicos. "Mas não temos alinhamento total", diz. Os pontos de divergência com o governo federal apontados pelos sindicalistas concentram-se na questão da Previdência.

Mesmo assim, não há forte ênfase nessas divergências, pois os dirigentes sindicais contam com o apoio do ministro da Previdência, Luiz Marinho, ex-presidente da Centra Única dos Trabalhadores (CUT) e ex-presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC.

No documento final que será divulgado hoje no congresso, o governo será poupado de críticas. As queixas estarão voltadas aos "patrões" e , principalmente, ao Congresso Nacional. A idéia dos sindicalistas é pressionar os parlamentares a derrubarem o projeto da emenda 3 que regulamenta a prestação de serviço de pessoas jurídicas. "Se não fosse Lula o presidente, é muito provável que a emenda 3 já tivesse sido aprovada. O problema não é com o governo e sim com o Congresso", resume José López Feijóo, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC.

A pauta do movimento sindical dessa categoria concentra-se hoje em dois pontos: o fator previdenciário e a concessão dos benefícios da aposentadoria especial. "No governo Fernando Henrique, foi alterada a forma de cálculo do benefício da Previdência, o fator previdenciário. Queremos que volte ao que era antes. Isso também aconteceu com a aposentadoria especial. Criaram tantas regras que ninguém consegue mais ser beneficiado", reclama Sanches.

Para Feijóo, os sindicalistas devem pressionar por uma nova forma de financiamento da Previdência. "A contribuição patronal não deve ser recolhida na folha de pagamento. Isso torna a folha muito pesada e o empregador acaba contratando menos mão de obra", disse. "O desconto deve ser sobre o faturamento."

Para o deputado federal, Vicente Paulo da Silva (PT), o Vicentinho, que também surgiu do movimento sindical do ABC, não há motivos para embate com o governo. "Nunca havíamos antes conseguido aumento salarial acima da inflação", justifica. Para ele, o movimento sindical continua forte. "As táticas é que mudaram", completa.

Os metalúrgicos dizem que pretendem também pressionar pela ampliação de seus direitos, com a votação da reforma sindical. Como o congresso define as diretrizes para os próximos três anos, a intenção dos sindicalistas é tentar ampliar ao máximo a conquista de benefícios dentro do governo do presidente Lula, com Luiz Marinho, da CUT, como ministro.

"Esse é o momento para fazer com que as bandeiras históricas estejam na pauta do Congresso e do governo", diz Feijoó. "Ter Marinho na Previdência facilita o diálogo. Temos com ele empatia pessoal e acesso fácil", comenta Sanches.

"Até 2002 ficamos na retaguarda para não perder direitos. Agora está na hora de ampliarmos nossas conquistas. Esse é um período bom para avançarmos", afirma José Wagner Morais de Oliveira, da executiva da Confederação Nacional dos Metalúrgicos. "Agora a agenda mudou".

O cenário político e econômico é positivo. No primeiro mandato do presidente Lula, os metalúrgicos conseguiram aumento salarial real acima da inflação. A trajetória de queda dos empregos no setor foi invertida. De 1994 a 2002, foram fechados 91,7 mil postos de trabalho no setor metalúrgico.

Entre os fatores que ajudam a explicar a conjuntura, estão a reestruturação produtiva, com o corte de vagas e a automatização das indústrias, a contenção da demanda interna, para conter a inflação e a valorização do real. Em 2002, o cenário econômico mudou e com uma situação mais favorável, o setor criou 423,8 mil empregos até 2007. "O governo tem gerado crescimento econômico e isso favorece o ambiente metalúrgico. Saímos da defensiva e começamos a negociar de uma forma menos desigual", pontua Valmir Marques da Silva, o Biro Biro, diretor executivo da confederação dos metalúrgicos da CUT.

O repasse às centrais da parte arrecadada pelo governo com o imposto sindical também é considerada como um avanço pelos sindicalistas. "Essa tem de ser uma medida temporária. Queremos o fim do imposto sindical e a reformulação do sistema. Queremos que o próprio trabalhador pague às centrais, diretamente, sem que esse recolhimento seja feito pelo governo", defende Feijóo, do sindicato dos metalúrgicos do ABC.