Título: AIE vê demanda maior e oferta menor de petróleo
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Fonte: Valor Econômico, 13/06/2007, Internacional, p. A11

A demanda mundial por petróleo está crescendo mais que previsto, enquanto a produção nos países que não fazem parte da Opep (Organização dos Países Produtores de Petróleo) cresce a um ritmo menor. Os dados são da Agência Internacional de Energia (AIE), em seu relatório mensal sobre o mercado, e indicam que os consumidores vão ficar cada vez mais dependentes do cartel internacional.

A AIE advertiu ainda que a margem de segurança no fornecimento vai ficar ainda mais apertada no segundo semestre do ano, devido à crescente tensão política em países de produção importante, como a Nigéria e o Iraque. Apesar de suas grandes reservas, esses países tendem a se tornar menos confiáveis no que se refere ao fornecimento.

A demanda mundial deve subir 2% este ano, para 86,1 milhões de barris/dia. Essa previsão é 420 mil barris/dia maior que a estimativa de maio. Em 2006, a demanda foi de 84,5 milhões de barris/dia.

Já a estimativa de produção dos países não integrantes da Opep foi cortada em 110 mil barris/dia, ficando em 50,2 milhões de barris/dia. Segundo a AIE, a falta de manutenção de instalações petrolíferas e o adiamento de projetos são os responsáveis por isso.

Para equilibrar oferta e demanda, a Opep teria de elevar sua produção em 500 mil barris/dia. "Precisamos processar mais petróleo", disse David Fyfe, analista da AIE, em Paris. "Se a Opep mantiver a produção em cerca de 30 milhões de barris/dia, haverá um aperto tão grande dos estoques que teremos de encarar a perspectiva de repiques nos preços e de aumento da volatilidade, o que não interessa a ninguém", afirmou.

A estimativa de produção da AIE para os 12 membros do cartel internacional foi cortada em 425 mil barris/dia, para 30,1 milhões de barris/dia. Para isso contribuiu muito a quebra de produção da Nigéria, que chegou a seu mais baixo patamar desde 2003 por causa dos ataques de militantes, das disputas regionais e dos vazamentos em oleodutos.

Na semana passada, a agência tentou acalmar a Opep quanto à produção de petróleo e disse que o fornecimento de biocombustíveis vai suprir apenas uma pequena proporção da demanda mundial de energia nos próximos anos.

Claude Mandil, diretor-geral da AIE, disse que, mesmo no pior cenário possível para a Opep, haverá uma "dramática" necessidade de aumento de sua produção. "A Opep não tem nada a temer. Mesmo nos cenários mais otimistas, a contribuição dos biocombustíveis vai ser muito pequena", disse.

A Opep está cada vez mais preocupada com o aumento dos esforços dos EUA e da União Européia para reduzir a dependência das importações de petróleo. Os governos dos países da Opep ficaram irritados com o discurso sobre o Estado da União feito pelo presidente George W. Bush ao Congresso americano em janeiro, quando ele disse querer "reduzir dramaticamente nossa dependência em relação ao petróleo estrangeiro".

Entretanto, disse Mandil, mesmo no pior caso para a Opep, com os países consumidores implementando políticas para diminuir o uso de petróleo, a demanda mundial em 2015 vai crescer em 10 milhões de barris/dia, quase alcançando o total de 95 milhões de barris/dia.