Título: Ações para a aposentadoria
Autor: Fariello, Danilo
Fonte: Valor Econômico, 18/06/2007, EU & Investimentos, p. D1

Uma das últimas fronteiras do conservadorismo nos investimentos pessoais no Brasil começa a ser ultrapassada. A procura pela previdência privada, tradicional reduto das aplicações menos arriscadas, tem sido tomada pelos investimentos em ações. Pela primeira vez na história dos planos de previdência, em maio, as carteiras do tipo Plano Gerador de Benefícios Livres (PGBL) e Vida Gerador de Benefícios Livres (VGBL) com uma parcela dos recursos investido em ações receberam mais depósitos do que aquelas de renda fixa, segundo dados do site Fortuna. Atualmente, 93% dos recursos em previdência privada aberta estão em fundos de renda fixa.

Os profissionais de mercado costumam dizer que, para investimentos tipicamente de longo prazo, como os planos de previdência, as teorias financeiras mais consagradas indicam que as ações tendem a apresentar melhor retorno. No entanto, dado o crescimento explosivo das aplicações em planos multimercados e balanceados - que contêm ações -, teme-se que os participantes tenham embarcado na euforia das ações, minimizando o risco e a volatilidade da aplicação em bolsa. O dinheiro da previdência é, naturalmente, conservador, porque vai bancar a sobrevivência do aposentado.

Se as pessoas intuitivamente estão mirando o longo prazo, será justo que tenham mais dinheiro em bolsa para a previdência, diz André Oda, professor de Finanças da FEA/USP. "Mas, se ele não tiver essa noção, poderá estar embarcando na euforia e ter dificuldades em diferenciar o grau de risco que está correndo."

Por lei, os planos são limitados a aplicar até 49% dos recursos em ações. Portanto, qualquer participante que opte por um plano mais agressivo necessariamente diversificará sua aplicação com uma parte maior em renda fixa. Segundo levantamento do site Fortuna, os planos que mais receberam recursos em maio foram aqueles com parcelas acima de 30% em ações. Um sinal de que os participantes estão optando pelas maiores exposições a risco.

Mas não são apenas os planos com ações que têm apresentado forte captação. Os depósitos totais em previdência privada aberta batem, neste ano, todos os recordes já registrados. De janeiro a maio, segundo dados do Fortuna, os planos de previdência captaram R$ 3,97 bilhões, valor 35% maior do que os R$ 2,94 bilhões aportados no mesmo período do ano passado.

Os fundos com ações se destacam no ano não apenas pela captação elevada, mas pela rentabilidade. Segundo o levantamento do Fortuna, as carteiras balanceadas rendem, em média, 8,61% no ano, até maio, e os planos de renda fixa avançam 5,22%. No ranking do mês, com exceção de um fundo, os planos mais rentáveis têm ações.

Oda lembra, porém, que, apesar da tendência de as ações apresentarem melhor retorno em longos períodos e passarem atualmente por um bom momento, não é regra que elas ofereçam melhor rentabilidade do que a renda fixa no longo prazo. Há um potencial maior de ganho, porém com mais risco, ratifica. Ainda assim, ele diz que as ações são pérolas dentro desses investimentos. "Muitos fundos de pensão fechados - com características de investimento de longo prazo similares - já têm parcelas consideráveis de seus patrimônios em renda variável."

O especialista em finanças lembra ainda que os planos de renda fixa não são livres de risco. "Eles podem sofrer, por exemplo, em um período de inflação mais alta, com menor rentabilidade real." A princípio, as ações têm maior probabilidade de embutir o valor da inflação em suas cotações, por exemplo, diz Oda. Apesar do momento atual de inflação reduzida, deve-se ter em mente que os planos de aposentadoria são investimentos de décadas, portanto, podem, em algum momento, enfrentar períodos mais adversos.

André Oda diz ainda que a aplicação de parte do plano de previdência em ações deve ser ponderada quanto à idade do participante. "Quanto mais velho, menor deve ser a exposição a riscos e, portanto, menor deve ser a parcela de ações na carteira." O inverso é verdadeiro, diz ele. Seguindo essa tese, a Icatu Hartford lançou, no ano passado, os planos Minha Aposentadoria, que ajustam a parcela de ações em carteira conforme o participante se aproxima do fim do período de trabalho.