Título: Alimento pouco saudável é alvo da Anvisa
Autor: Galvão, Arnaldo
Fonte: Valor Econômico, 04/06/2007, Empresas, p. B4

Falta de informação sobre os riscos à saúde dos consumidores, bilionários gastos públicos para o tratamentos de doenças crônicas não transmissíveis e a possibilidade de reduzir sensivelmente os óbitos decorrentes da obesidade, do diabetes, das doenças cardiovasculares e do câncer são motivos suficientes para justificar uma rigorosa regulamentação para a venda e a publicidade de alimentos e bebidas. A explicação é da coordenadora da Política Nacional de Alimentação e Nutrição do Ministério da Saúde, Ana Beatriz Vasconcellos.

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) deve aprovar, até o final deste ano, o regulamento técnico que pode, entre muitas outras exigências, proibir, das 21h às 6h, a veiculação no rádio e na TV de propaganda de alimentos com quantidades elevadas de açúcar, gorduras saturada e trans, sódio e bebidas com baixo teor nutricional. O prazo de consulta pública já foi encerrado. Falta a diretoria colegiada da Anvisa analisar quais são as sugestões que poderão ser incorporadas à nova regulamentação.

Segundo Ana Beatriz, o Sistema Único de Saúde (SUS) gasta aproximadamente R$ 11 bilhões por ano no tratamento de doenças crônicas não transmissíveis: obesidade, diabetes, doenças cardiovasculares e câncer.

A coordenadora sustenta que as políticas públicas direcionadas a uma alimentação saudável da população podem evitar 90% dos óbitos provocados pela obesidade e pelo diabetes. Hábitos mais equilibrados também podem diminuir entre 50% e 70% as mortes decorrentes de distúrbios cardiovasculares e algo entre 30% e 40% dos óbitos causados pelo câncer.

Para piorar o cenário da sociedade brasileira, Ana Beatriz adverte que crianças e adolescentes já vêm apresentando risco precoce. Ao contrário do que ocorria há 30 anos, esse grupo da população também sofre com obesidade, hipertensão e colesterol alto. A Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF), realizada pelo IBGE em 2002 e 2003, mostrou que 18% dos adolescentes do sexo masculino, entre 10 e 19 anos, tinham excesso de peso. No grupo das meninas, a taxa foi de 15,4%.

A coordenadora também alerta para o salto de 400% no consumo de refrigerantes e biscoitos, desde os anos 70, revelador da radical mudança dos hábitos da população brasileira. Cada vez mais as pessoas se alimentam fora de casa e preocupa o crescente consumo de bebidas açucaradas. Para Ana Beatriz, o ponto central é a falta de informação, porque os consumidores, geralmente, não sabem que estão ingerindo calorias em excesso, mas algo refrescante.

Na análise da coordenadora, as pesquisas mostram que as campanhas publicitárias da indústria de alimentos e refrigerantes são voltadas ao público infantil. Ela cita um trabalho da Universidade de Brasília (UnB), feito em 2004, que revelou que 44% dessa publicidade era de produtos ricos em açúcar.

Somada à essa estratégia dos fabricantes, Ana Beatriz, alerta que uma edição da Revista de Saúde Pública, em 2002, já mostrava que os adolescentes ficavam, em média, cinco horas por dia na frente da TV.