Título: EIA exalta vantagens do nuclear
Autor: Chiaretti, Daniela
Fonte: Valor Econômico, 21/05/2007, Brasil, p. A4

No Estudo de Impacto Ambiental (EIA-Rima) de Angra 3, apresentado pela Eletronuclear, a justificativa socioambiental do empreendimento embala a energia nuclear como a opção mais limpa - o argumento que tem quebrado a resistência ambientalista mundial em tempos de aquecimento global.

Ali se faz uma comparação entre as emissões de uma termoelétrica moderna, a carvão, e uma central como Angra 3. A nuclear, defende o estudo, ganha disparado: evitaria a emissão anual para a atmosfera de 2,3 mil toneladas de material particulado (que causa problemas respiratórios), 14 mil toneladas de dióxido de enxofre (chuva ácida), 7 mil toneladas de óxidos de nitrogênio e 10 milhões de toneladas de dióxido de carbono (o grande vilão da mudança climática).

No viés técnico, a comparação reconhece que "as hidrelétricas são as únicas opções viáveis técnica e economicamente para a geração de grandes blocos de energia elétrica firme." Diz que luz solar e ventos são "intermitentes" e que biomassa requer áreas "de extensão considerável." A vantagem da nuclear em relação à hidrelétrica, diz o estudo, está no fato de que as fontes hídricas mais econômicas e próximas do Sul-Sudeste já estão sendo utilizadas. E as novas, na Amazônia, exigem gastos "consideráveis na implantação e construção de linhas de transmissão", o que significa custos maiores.

A área de influência indireta das usinas de Angra atinge 14 municípios paulistas e fluminenses - uma população de 686 mil habitantes, segundo dados do censo de 2000 do IBGE. Há três áreas indígenas num raio de 50 km de distância e um remanescente de quilombo. Angra 3 ficará na Ponta Grande, na praia de Itaorna, dentro dos 1.250 hectares da Central Nuclear Almirante Álvaro Alberto, a CNAAA, onde estão Angra 1 e Angra 2. Durante o pico da obra, a previsão é de contratar 9.100 trabalhadores; na média, no período de implantação, serão 3.600.

A entrada em operação de Angra 3, garante o estudo, significará disponibilidade imediata de 10,8 TWh/ano de energia elétrica na área do Rio, e ampliará a oferta para o Sudeste e Centro-Oeste. O reator PWR é utilizado em 27 países, sendo que 60% dos reatores nucleares hoje em funcionamento no mundo são deste tipo.

Sobre os rejeitos radioativos, o ponto frágil de qualquer nuclear, o estudo reconhece a necessidade de um processo de gerenciamento "inclusive após a sua disposição final". O lugar definitivo ainda não foi escolhido. Um capítulo detalha o sistema de segurança operacional mencionando desde a seleção de materiais, controle e supervisão, ao monitoramento, avaliação e treinamento dos funcionários. (DC)