Título: Apoio de Garotinho pouco afeta resultado
Autor: Magalhães, Heloisa
Fonte: Valor Econômico, 31/10/2006, Política, p. A14

O apoio no segundo turno da governadora do Rio de Janeiro, Rosinha e seu marido Anthony Garotinho (PMDB) a Geraldo Alckmin (PSDB), independente de ter se tornado ou não o "beijo da morte", como definiu o prefeito do Rio, Cesar Maia (PFL), trouxe resultado pouco expressivo na comparação entre os votos que o tucano recebeu no primeiro e segundo turnos das eleições presidenciais.

Neste domingo, a votação em Alckmin foi reduzida em todos os Estados, com exceção do Rio de Janeiro, Alagoas, Amazonas, Rio Grande do Sul no exterior. Nas urnas fluminenses os votos no tucano cresceram muito pouco. Foram 4.411 a mais na comparação com o primeiro turno. Já Luiz Inácio Lula da Silva conquistou mais 1.439.636 novos votos no Estado.

O apoio do casal Garotinho, que tem penetração no interior mas enfrenta alta rejeição na classe média, em especial na Capital, pode ter contribuido na migração de votos para Lula dos candidatos derrotados no primeiro turno Heloísa Helena (P-SOL) e Cristovam Buarque. Em paralelo, Lula contou com apoio da aliança que se formou em torno de Sérgio Cabral, vitorioso domingo com 68% dos votos na disputa para governador. Cabral entrou na campanha do segundo turno fortalecido. Formou aliança com nove partidos. Recebeu o apoio do PT, PCdoB, PRB e de parte do PSDB, PDT e de políticos do PV.

Mas outra interpretação possível é a de que, sem o casal Garotinho, Alckmin poderia ter perdido mais votos no Rio, como ocorreu em 23 Estados . As perdas mais significativas foram em Minas Gerais, Bahia, Goiás e Paraná. O apoio do governador mineiro Aécio Neves (PSDB) deixou a desejar. No segundo turno seu companheiro tucano perdeu em Minas 516.279 votos, enquanto Lula conquistou novos 1.615.978 na comparação com o primeiro turno na disputa.

Alckmin venceu no Rio Grande do Sul. Já tinha sido vitorioso no primeiro turno mas Lula conquistou novos 759.002 votos a mais neste segundo turno e Alckmin 25.186. A máquina tucana pró-Yeda Crusius (eleita governadora no domingo com 53,94% dos votos) funcionou mas em paralelo Olívio Dutra (PT) veio crescendo nos últimos dias (ficou com 46,06%)

A máquina dos partidos e as alianças em geral têm peso fundamental, em especial se for contaminada pelo bolso, a percepção de melhora do poder aquisitivo da população, avalia o professor Cesar Romero Jacob, da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC/RJ). Ele e a professora Dora Rodrigues Hees desenharam mapas identificando a capilaridade dos candidatos pelo País afora. Com dados do primeiro turno os mapas demonstraram que Heloisa Helena e Cristovam são conhecidos nos grandes centros urbanos, o que reforça a teoria que caem muita as chances dos candidatos sem atuação nacional da máquina, seja ela partidária, governamental ou religiosa, diz ele. Além disso, lembra que Lula foi mais rápido na formação de alianças assim que terminou o primeiro turno.

Na Bahia, o efeito Jaques Wagner (PT) eleito no primeiro turno com 52,89% dos votos válidos, acabou puxando a máquina para fortalecer o presidente Lula. Neste segundo turno, Alckmin perdeu 220.067 votos na comparação com o primeiro. Lula, por sua vez, na mesma comparação, conquistou novos 895.114 votos.

No primeiro turno, Alckmin ganhou em dez Estados, no Distrito Federal e nas urnas do Exterior. No segundo turno, Alckmin ganhou em sete Estados e no Exterior. Os Estados em que o tucano venceu no primeiro turno e perdeu no segundo foram: Acre, Distrito Federal, Goiás e Rondônia.