Título: Agronegócio mobilizado para nomear ministro
Autor: Zanatta, Mauro
Fonte: Valor Econômico, 31/10/2006, Política, p. A10

Marcado como um setor de clara oposição ao governo Lula, o agronegócio está mobilizado em busca um nome de consenso para indicar para o Ministério da Agricultura no segundo mandato petista. O objetivo é contrapor o poder dos movimentos sociais no Ministério do Desenvolvimento Agrário e evitar o enfraquecimento com a eventual nomeação de um político sem força e sem ligação com o setor.

Entre os favoritos, desponta o atual ministro das Cidades, Márcio Fortes de Almeida. Filiado ao PP, ele atende aos critérios técnicos e políticos para seguir na equipe ministerial. Nos bastidores, Fortes tem o aval do único interlocutor do presidente Luiz Inácio Lula da Silva no setor, o governador reeleito de Mato Grosso, Blairo Maggi (PPS), que anunciou apoio ao petista contra a vontade da maioria quase absoluta das lideranças ruralistas.

Apesar de não admitir publicamente um acordo com Lula para indicar o novo ministro, Maggi reconhece ser o "fiador" do setor junto ao governo reeleito. "Sou fiador, sim. Mas ainda não conversamos sobre isso (indicação) com o presidente", afirmou ontem ao Valor. "Primeiro, tinha que mostrar trabalho para depois discutir alguma coisa". Maggi ganhou espaço ao reduzir a desvantagem de Lula no Estado, que caiu de 15 pontos percentuais no primeiro turno para 1,5 ponto no domingo.

Fontes próximas de Maggi admitem as conversas em torno de Márcio Fortes, que foi secretário-executivo da Agricultura no governo Fernando Henrique Cardos e do Desenvolvimento sob o governo Lula. Apontado como administrador experiente, Fortes contaria ainda com o apoio do PP, que elegeu 42 deputados e um senador - Francisco Dornelles (RJ). Contra ele, constaria apenas a ligação íntima com o ex-ministro Pratini de Moraes, hoje no PFL. Procurado pela reportagem, o ministro não se manifestou.

Principal referência no agronegócio e maior produtor individual de soja do mundo, Blairo Maggi tentou credenciar-se como um novo Roberto Rodrigues, que assumiu a Agricultura sob unanimidade geral no setor em 2003, deixando o cargo para evitar desgastes na campanha.

A aproximação de Maggi com Lula também abriu a possibilidade, segundo as fontes, de acomodar seu braço direito, o suplente de senador eleito Luiz Antonio Pagot (PPS), na diretoria ou na presidência de uma estatal. Maggi quer o Departamento Nacional de Infra-Estrutura de Transportes (DNIT), mas aceitaria a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) ou a Centrais Elétricas do Norte (Eletronorte).

Apesar do "poder de veto" de Maggi, um grupo de lideranças ruralistas gostaria de ver o atual ministro Luís Carlos Guedes Pinto, sucessor de Roberto Rodrigues, na Agricultura a partir de 2007. A seu favor, pesa o conhecimento do setor e o alinhamento às políticas de consolidação do agronegócio, além do apoio do PT e seu Núcleo Agrário. Contra Guedes, está a insistência em defender a revisão dos índices de produtividade para fins de reforma agrária, o que contraria os ruralistas. No PMDB, o ex-ministro Delfim Netto aparece como um eventual postulante, já que pemedebistas de Minas e de Goiás, favoritos a pleitear o cargo, perderam as eleições. Derrotado nas eleições para deputado, Delfim só aceitaria participar do governo, segundo aliados no setor, em posto de comando da economia.

No Ministério do Desenvolvimento Agrário, o favorito a ocupar o cargo é o atual secretário de Agricultura Familiar, Valter Bianchini. Próximo de Lula da época das caravanas da cidadania, tem apoio em todos os setores dos movimentos sociais. Mas pode haver também uma realocação do ministro Guedes Pinto, que tem uma história identificada com os movimentos sociais ligados à reforma agrária, como o MST. O atual ministro Guilherme Cassel também está no páreo e tem entre seus trunfos a criação de um seguro rural contra flutuações de preços (hedge), uma velha reivindicação tanto de ruralistas como de movimentos de agricultores familiares.