Título: Moody's vê notas da América Latina estáveis
Autor: Machado, Daniela; Pacheco, Filipe
Fonte: Valor Econômico, 11/03/2013, Finanças, p. C11

Os ratings de países da América Latina têm grande chance de estacionar no patamar atual. Após um ciclo de elevações nos últimos quatro anos, galgar posições melhores na escala de risco dependerá de reformas mais complexas que as necessárias até agora, segundo a agência de classificação de risco Moody"s Investors Service.

O desafio vale principalmente para os 10 países que ingressaram na categoria "Baa" - a primeira a ser alcançada na faixa considerada grau de investimento e na qual está o Brasil ("Baa2").

"As questões que precisam ser enfrentadas para dar suporte a melhoras adicionais dos ratings serão mais desafiadoras. E, assim, o ritmo de "upgrades" vai provavelmente desacelerar de maneira significativa", aponta a agência em relatório sobre as perspectivas para a América Latina e o Caribe, que será divulgado hoje ao público.

O tema é particularmente relevante para o Brasil, que celebrou a entrada no clube de países "grau de investimento" apesar da crise mundial de 2008, mas ainda está empatado com as notas de Panamá e Peru e atrás de nações como Chile e México.

No fim do ano passado, quando chegou o momento de a Moody"s se posicionar sobre a perspectiva positiva atribuída ao país, havia expectativa de que o rating brasileiro pudesse ser elevado. Mas, numa decisão pouco comum, a agência reafirmou o "Baa2" e manteve a perspectiva positiva, ganhando um novo período de 12 a 18 meses para analisar os pontos de dúvida e promover, ou não, a nota de risco da dívida brasileira.

Nos últimos anos, os "upgrades" foram motivados, em grande parte, por maior resistência das economias latino-americanas a choques externos, melhora do perfil de dívida do governo e desempenho econômico acima da média de outras partes do mundo. Agora, as demandas serão mais desafiadoras. "Será chave o fortalecimento da instituições em geral, com particular atenção a arranjos institucionais críveis que reforcem a gestão fiscal", cita a agência, dando como exemplo a existência de leis de responsabilidade fiscal, fundos de estabilização e fundos soberanos. Além disso, a Moody"s espera reformas estruturais que pavimentem o caminho para o aumento das taxas de investimento e de poupança interna.

No Brasil, especificamente, são importantes as reformas tributária e da previdência, além de uma simplificação de regras de modo a estimular investimentos. "A interferência no setor de energia, por exemplo, teve uma resposta negativa e gerou frustração e preocupação [quanto à atuação do governo]. Percebemos que o governo está aprendendo à medida que faz. Está indo na direção correta e sabemos que leva tempo. Agora vemos mais medidas sendo tomadas que no passado. Vemos mais ações sendo tomadas no governo Dilma do que vimos durante a gestão Lula", disse Mauro Leos, analista sênior da Moody"s.

No ano passado, ao reafirmar a nota do Brasil, a Moody"s também citou que, entre os pontos positivos que poderiam levar a uma melhora da nota brasileira, estava a redução consistente da taxa básica de juros. O cenário, nesse quesito, continua favorável, a despeito das sinalizações recentes de um aumento da Selic pelo Banco Central, segundo a Moody"s. "Pelas estimativas, a Selic poderia ir a até 8,5% ou 8,75%, no máximo. Agora esse é o patamar máximo que pode alcançar, enquanto no passado era o mínimo que poderia ser almejado", afirmou Leos. "Isso valida nossa visão de que o Brasil consolidou um ambiente de juros menores."

A Moody"s também destaca no relatório um processo de "redolarização" da dívida de países da região, dada a farta liquidez internacional e a possibilidade de captar recursos no mercado externo pagando taxas em níveis recorde de baixa. Tal situação ainda não é considerada fonte de problema, segundo a agência, porque a maioria dos países da América Latina reduziu drasticamente a exposição cambial oriunda da dívida dos governos nos últimos anos, em especial no Brasil, e gerou espaço em seu balanço para absorver maior endividamento corporativo em moeda estrangeira. "Estamos de olho nisso. Mas até agora não vimos mudança significativa [que indique risco soberano]", diz Aaron Freedman, responsável pelo rating de parte dos países da América Latina.