Título: Analistas veem efeito reduzido no IPCA
Autor: Martins, Arícia
Fonte: Valor Econômico, 06/03/2013, Brasil, p. A3

Economistas avaliam como irrisório o efeito de possíveis desonerações do PIS-Cofins sobre os preços de combustíveis na inflação deste ano. A retirada dos impostos federais sobre a cesta básica, por outro lado, teria um efeito diferente e poderia reduzir em 0,3 ponto a inflação do ano medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Economistas e consultorias, no entanto, ainda não trabalham com a possibilidade de alterar suas projeções para o IPCA de 2012 devido às medidas planejadas pelo governo para controlar a evolução dos preços administrados.

Os economistas ponderam que o diesel, além de ter peso muito pequeno no IPCA e impacto indireto e defasado sobre o índice, não é o principal indexador para reajustes de transporte urbano, que levam em conta outros fatores, como os custos de mão de obra. Quanto ao etanol, o argumento de analistas é que o preço do litro desse combustível sempre estará equiparado a 70% do litro da gasolina, já que uma redução levará a um aumento de demanda suficiente para puxar novamente os preços para cima.

A gasolina tem peso de 3,87% no IPCA, ao passo que o etanol representa 0,92% do indicador, e o óleo diesel, apenas 0,13%. Assim, qualquer corte de preços nesses dois combustíveis teria efeito muito mais brando sobre a inflação do que o reajuste já adotado de 6,6% da gasolina nas refinarias.

Francisco Pessoa, economista da LCA Consultores, observa que a oferta de álcool combustível é limitada pela safra atual de cana de açúcar, o que abre espaço para novas altas nos preços caso a procura nas bombas aumente. "Em um primeiro momento, os preços caem e ficam abaixo de 70% da gasolina, mas como a oferta é dada, os preços sobem novamente com a procura maior. Se a ideia do governo é ajudar a inflação, a redução do PIS-Cofins não adianta", diz.

Em janeiro e fevereiro, o etanol subiu 0,23% e 0,84%,respectivamente, na cidade de São Paulo, segundo o Índice de Preços ao Consumidor da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (IPC-Fipe). Na última quadrissemana do mês, a relação de preços entre álcool e gasolina atingiu 69,8% e, segundo o coordenador do indicador, Rafael Costa Lima, está prestes a romper a barreira dos 70%, com o início da entressafra da cana de açúcar. "Mesmo com o aumento da gasolina, ainda podemos ter um etanol desvantajoso", disse.

Pessoa, da LCA, também avalia que a desoneração do diesel não será capaz de segurar os aumentos de transporte público em São Paulo e no Rio, ainda indefinidos. Nos dois casos, o governo federal pediu adiamento das altas. O analista afirma que não há garantia nenhuma de que a redução de impostos será repassada, e, no caso de São Paulo, outras questões irão definir o índice de reajuste, como a inflação acumulada no período sem correção de preços. Assim, a LCA manteve em 5,4% sua estimativa para o avanço do IPCA em 2013.

Para Sérgio Vale, economista-chefe da MB Associados, as manobras fiscais do governo são "irrelevantes" para controlar o IPCA e não têm repercussão no cenário inflacionário de longo prazo. Como exemplo, Vale aponta a redução do IPI para bens duráveis, que provocou queda de 3,4% nesses produtos em 2012, deflação que deve ser devolvida este ano. A recomposição de preços é um dos fatores que explicam sua projeção de 6% para a inflação oficial em 2013. Esse mesmo movimento, diz ele, será observado em 2014, caso a desoneração da cesta básica seja aprovada.

A LCA calcula que a retirada de tributos federais sobre a cesta básica poderia diminuir o IPCA de 2013 em 0,3 ponto percentual, mas não conta com esse alívio em seu cenário-base. Segundo Pessoa, o artifício será usado somente se houver um novo aumento da gasolina aos distribuidores.

O impacto mais relevante da política de controle de inflação com corte de impostos e tarifas, segundo os analistas ouvidos, se dá sobre as contas públicas, e não sobre os preços. Vale afirma que a meta de superávit primário, de 3,1% do Produto Interno Bruto (PIB), não será cumprida este ano às custas de "amplas desonerações". Para 2013, a MB projeta que a poupança que o setor público faz para pagar o serviço da dívida ficará em 2,4% do PIB, resultado igual ao de 2012.