Título: Aécio encontra PMDB e sinaliza aos tucanos que tem alternativa em 2010
Autor: Costa, Raymundo
Fonte: Valor Econômico, 10/05/2007, Política, p. A10

Jantar com a cúpula do PMDB numa das tratorias mais requisitadas da cidade foi a maneira que o governador de Minas Gerais, Aécio Neves, encontrou para dizer aos tucanos que tem alternativas ao PSDB para se candidatar a presidente em 2010. Aécio defende que o processo de escolha do candidato tucano seja ampliado, talvez até mesmo por meio de uma prévia partidária, o "resgate das bandeiras" do PSDB e é categórico ao afirmar que a unidade é o "pressuposto fundamental" para o sucesso eleitoral em 2008 e 2010.

O namoro de Aécio com o PMDB é estimulado pelo Palácio do Planalto, que não descarta a hipótese de o governador mineiro, se não conseguir a legenda do PSDB em 2010, mudar de partido. O jantar com o presidente pemedebista, Michel Temer (SP), e o líder do partido na Câmara, Henrique Alves (RN), anteontem em Brasília, ocorre justamente no momento em que assessores de Lula sugerem que o presidente pode apoiá-lo à sua sucessão e que o governador José Serra, principal adversário de Aécio no PSDB, ensaia uma aproximação com o governo federal.

O próprio Aécio afirma que pode desenvolver "muito bem" seu projeto político no PSDB. "O PSDB tem que ter um projeto para 2010 e eu estou dentro desse projeto". Mas sempre ressalva que, antes de ser tucano, foi filiado ao PMDB. Suas relações com o PMDB nacional são boas, mas Aécio conta com Michel Temer e Henrique Alves para tentar uma melhor convivência com os pemedebistas de Minas.

O pretexto para o jantar com Temer e Aécio foi o apoio do PMDB ao que o governador chamou de "agenda da federação", as reivindicações feitas pelos Estados e que nunca foram respondidas pelo presidente Lula. Basicamente, a partilha da CPMF, o aumento do limite de endividamento dos Estados e a abertura de negociações sobre as compensações da Lei Kandir. Na avaliação de Aécio Neves, como tem a maior bancada, o PMDB pode ser decisivo nessa questão.

"O governo tem maioria na Câmara e no Senado, mas acredito que terá sensibilidade para construir uma agenda que não é de governadores, é de país", disse.

Antes de ir jantar com Temer e Henrique Alves, o governador passou na sede do PSDB, onde ouviu os planos de reformulação do partido. A partir do dia 28, os tucanos realizam uma série de seminários sobre temas diversos, como combate à pobreza, violência e gestão, que se estendem até setembro. Em novembro, será eleita a nova direção partidária.

"O PSDB tem que fazer sua auto-crítica", disse Aécio, "e esses seminários serão uma grande oportunidade" para reciclagem, atualização do discurso, "e para estabelecer uma estratégia de resgate de bandeiras que são nossas". Entre elas, o governador citou a estabilidade econômica, a a modernização da economia, os programas sociais - "nós estamos na origem desses programas" e as próprias privatizações, entre as quais destacou as das áreas de telefonia, mineração e siderurgia. "Nós não temos que ter receio dessa discussão".

Na avaliação de Aécio Neves, o PSDB elegeu duas vezes o presidente da República e os governadores dos maiores Estados, porque tinha "mensagem nacional", que passava para a sociedade a imagem de "um partido moderno, com visão de mundo, disposto a fazer reformas". Perdeu duas eleições presidenciais seguidas - e em 2006 não elegeu deputados federais em sete Estados -e "essas coisas foram ficando lá atrás". Agora seria o momento do esforço de recuperação. "Se nós não fizermos isso quem vai fazer por nós"?

"O que é o PSDB e o que pretende ser o PSDB" deve começar a ser dito já na próxima campanha municipal, na opinião do governador. Defende que uma parcela dos programas eleitorais do PSDB nos municípios - um terço ou 20% - seja dedicada a esse esforço de "resgate" das bandeiras e de exposição do que os tucanos, revisados, pretendem ser.

"Nas eleições municipais do ano que vem, uma parcela desse espaço deve ser utilizada para criar um amálgama, uma identidade nacional do partido, para criar esse resgate e obviamente uma proposta pra frente, como a questão ética, que é também uma bandeira do PSDB", diz o governador mineiro. "E com um discurso renovado, vamos à luta nas eleições municipais".

Aécio Neves se considera da oposição" sem "xingamentos" ao governo, e pede paciência aos críticos. "Começo de governo que ganha a eleição é assim mesmo. É natural que o governo avance, o momento pós-eleitoral é o momento do governo mesmo", afirma. "Nós temos é que nos reorganizar. Se organizar para continuar sendo a principal a principal alternativa de poder àquele grupo que o derrotou". Acha errado dizer que a oposição não está fazendo nada. Cita o exemplo da CPI do Apagão Aéreo e o dele próprio nas negociações dos governadores com Lula.

"Eu acho que as coisas estão caminhando e é natural que essa oposição fique mais clara e mais consistente com o correr do tempo e com o desgaste natural que o governo vai ter. Com tranqüilidade. Estamos fazendo o que precisamos fazer".

Sobre sua própria atuação, afirma que se movimenta "para impedir que o governo resolva o que lhe interessa do ponto de vista fiscal (CPMF e a DRU) sem que os Estados tenham condições também de ter algum alívio fiscal. Isso é oposição correta".

Na coreografia que desempenha com Serra no tablado tucano, Aécio deu agora o passo mais ousado: se posicionou no jogo da sucessão, embora diga que 2010 está longe. "Na política, administrar o tempo é a maior das artes", diz o governador de Minas.