Título: Alta do consumo de energia em abril eleva risco de aumento de preço
Autor: Santos, Chico
Fonte: Valor Econômico, 08/05/2007, Brasil, p. A4

O crescimento de 8,1% do consumo de energia elétrica, medido pela carga disponibilizada pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), em abril, acendeu uma luz amarela entre consumidores e especialistas do setor. O crescimento foi acima do esperado e muito maior do que os 5,4% de março que já havia também considerado alto.

O temor não se deve ao aumento do risco de faltar energia no curto prazo, até porque os reservatórios das principais hidrelétricas do país permanecem cheios, alguns ainda vertendo água, apesar da estiagem que predomina desde março no Sudeste do país. O risco, por paradoxal que seja, é de que o aumento do consumo esteja associado a uma forte aceleração da atividade econômica, o que poderia acirrar as pressões sobre o sistema elétrico e, no mínimo, elevar o preço da energia.

"É complicado. Se a economia crescer a 4% ou mais e São Pedro jogar a chuva para outro lado, vai ficar difícil. Ou seja, o crescimento está na dependência de São Pedro e de Evo Morales (presidente da Bolívia)", disse o analista Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infra-Estrutura (CBIE).

Pires destaca que o fato de os reservatórios estarem cheios agora representa garantia apenas no curto prazo. E argumenta que se o regime pluvial não permanecer favorável, haverá problema já no segundo semestre de 2008. "Pode até não faltar energia, mas ela ficará muito mais cara", afirmou.

Esse aumento de preço viria pela necessidade de recorrer a fontes de energia termelétricas mais caras do que as hoje disponíveis no mercado, incluindo o gás natural liqüefeito (GNL). Para o analista, o fato de a Petrobras ter firmado, no mês passado, acordos para importar GNL com o Omã e a Nigéria não garantem nem a disponibilidade do produto, nem o preço.

"O GNL está hoje de US$ 10 a US$ 11 por milhão de BTU (unidade de geração de calor), muito mais caro do que o gás natural que compramos hoje (cerca de US$ 5 por milhão de BTU). Então, se houver GNL, quem vai pagar a conta?", pergunta.

A preocupação com o crescimento econômico e as perspectivas de a energia ficar muito mais cara também estão incomodando os grandes consumidores. "Você quer saber se achamos que vai faltar energia em 2008 ou 2009? A nossa sensação é que não. Se a situação ficar difícil, o ONS vai despachar as térmicas (unidades em stand by). Quando isso ocorrer vamos ter problema de preço. É uma combinação perversa", analisa Adjarma Azevedo, diretor de Meio-Ambiente da Associação Brasileira dos Grandes Consumidores Industriais de Energia e de Consumidores Livres (Abrace).

Para Azevedo, só partindo de vez para a energia térmica, situação na qual o preço da energia pode afetar a competitividade brasileira, o país terá condições de crescer a um ritmo de 5% ao ano, como pretende o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. E a partir de 2010 ele não vê saída se não foram liberados projetos hídricos decisivos, como as hidrelétricas de Estreito, Serra do Facão e Jirau e Santo Antonio, ambas no Rio Madeira.

"Nos últimos quatro anos somente 17 licenças (para construção de hidrelétricas), correspondentes a 4.000 megawatts, foram liberadas pela Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica). E o Brasil precisa de 4.000 megawatts por ano!", avalia o executivo da Abrace.

Técnicos do ONS também concordam que sem a criação de uma carteira de hidrelétricas livre de obstáculos para ser colocada em leilão, a incerteza é grande depois de 2008, embora para 2009 eles esperem que a recente assinatura de um termo de compromisso entre a Petrobras e a Aneel, garantindo combustível para mover as termelétricas, resolva o problema.

Em relação ao consumo crescente nos últimos dois meses, a avaliação desses técnicos é de que ele está mais associado ao calor excessivo verificado na região Sudeste e a fatores estatísticos, não havendo indícios claros de que esteja relacionado com uma aceleração do crescimento econômico. Particularmente em abril, o aumento teria sido decorrente da base de comparação deprimida, uma vez que em abril do ano passado a carga havia caído 1% em relação ao mesmo mês de 2005.