Título: Crise afeta os emergentes e países crescem bem abaixo do esperado
Autor: Watanabe , Marta
Fonte: Valor Econômico, 13/02/2013, Brasil, p. A2

Em 2012, os chamados países periféricos foram os que mais frustraram as expectativas de crescimento, e não as regiões desenvolvidas. Levantamento da LCA Consultores mostra que a média das projeções para os Estados Unidos indicava, no início do ano passado, crescimento de 2,2% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2012, o que, pelas estimativas mais recentes, deve ser cumprido. Para a zona do euro, as projeções apontavam para queda de 0,3%. O recuo deve ser de 0,4%.

China, Brasil, Índia e África do Sul, porém, cresceram, mas todos ficaram aquém das expectativas. As projeções apontavam, por exemplo, alta de 7,3% para a Índia e 8,4% para China. Os dois emergentes devem contabilizar crescimento de 5,4% e 7,8%, respectivamente. O Brasil, para onde se projetava expansão de 3,3%, deve ficar com PIB em torno de 1% em 2012.

Para Bráulio Borges, economista-chefe da LCA, o quadro mostra que os países emergentes foram muito mais atingidos em 2012 pelo cenário internacional do que nos anos anteriores. Em alguns países, como China e Coreia do Sul, a frustração de crescimento é resultado de um aperto na política fiscal e monetária.

Para o economista-chefe da MB Associados, Sérgio Vale, as projeções de crescimento do ano passado para os emergentes se basearam na hipótese de que os Brics e outros países periféricos se isolariam do impacto da crise mundial. Ele avalia, porém, que o crescimento dessas economias não foi apenas resultado de uma contaminação do cenário internacional.

"O fato de alguns países latino-americanos como Peru, Colômbia e México terem cumprido a projeção de crescimento estabelecida no início do ano revela que a frustração do PIB em outros locais aconteceu por razões domésticas", diz. Vale acredita que o crescimento frustrado para Brasil e Argentina é derivado de problemas estruturais domésticos não resolvidos que tornaram os países sensíveis aos humores externos.

A economia argentina, diz ele, tem mantido uma política altamente intervencionista, dirigida pela presidente Cristina Kirchner, e que, na prática, dificulta a expansão, na sua opinião. No Brasil, estima Vale, há menos intervencionismo, mas o país parou de avançar em reformas estruturais importantes que impediram a demanda doméstica de responder aos estímulos ao consumo.

Como um exemplo de país que foi contrário à onda de expansão frustrada de 2012, o México, de acordo com levantamento da LCA, deve superar a estimativa de crescimento de 3,3% em 2012. Os últimos dados disponíveis mostram que o país teve expansão de 3,9%.

Fabio Silveira, sócio da RC Consultores, explica que o México tem uma estrutura própria, com produção industrial voltada aos americanos. Isso faz com que uma melhora na economia dos Estados Unidos se reflita mais rapidamente para os mexicanos. Os americanos não chegaram a surpreender, mas devem registrar crescimento efetivo em 2012 bem próximo ao estimado para o ano. "Mas é preciso lembrar que a economia do México também sofreu muito com a desaceleração americana e agora há uma reposição dessa perda. Além disso, o ponto favorável para o país é que a indústria não chegou a perder tanta participação na composição do PIB, como aconteceu com o Brasil." Para Vale, há outros componentes importantes para a expansão mexicana, como um otimismo político com o novo presidente Enrique Peña Nieto, que marca a volta do Partido Revolucionário Institucional (PRI) após 12 anos na oposição e promete fazer mudanças estruturais.

Silveira, da RC Consultores, reconhece que os diversos países reagiram de forma diferente aos fatores externos. Ele estima, porém, que em 2012 ficaram mais claros os alcances de uma desaceleração da economia chinesa, principalmente em países exportadores de commodities. Em 2011, lembra ele, o comércio exterior contribuiu de forma positiva para o PIB brasileiro, fato que não se repetiu no ano passado em razão da queda de preço de itens importantes da pauta de exportação.