Título: Baixo custo destaca indianos no mundo
Autor: Olmos, Marli
Fonte: Valor Econômico, 16/04/2007, Empresas, p. B8

Um homem de semblante tranqüilo, fala mansa e idéias ordenadas, como todo o ocidental imagina que um indiano deva ser, Pawan Goenka, trabalhou 14 anos para a General Motors nos Estados Unidos. Quando a indústria automobilística indiana começou a se destacar entre os emergentes, o engenheiro não resistiu e decidiu voltar ao país de origem. "Eu acho que nós aprendemos com as empresas americanas tanto o que elas fizeram de bom, quanto o que fizeram de ruim", diz Goenka, hoje presidente mundial da Mahindra & Mahindra, a primeira marca de veículos indiana a estrear no mercado de brasileiro.

Goenka diz que os indianos ainda não chegaram no nível de produtividade dos americanos. Mas, amparados nos custos mais baixos, estão conseguindo avançar. Segundo ele, na Índia, 6% do custo de produção de um veículo representa os salários dos trabalhadores. Nos países desenvolvidos, chega a 15%.

O mercado indiano, que já está em torno de 1,8 milhão de veículos por ano, tamanho próximo ao do brasileiro, deverá crescer ao ritmo de 10% ao ano nos próximos 10 anos, segundo o presidente da Mahindra & Mahindra.

Além de contar com custo de mão-de-obra mais baixo, as empresas indianas conseguem comprar componentes mais baratos. Segundo conta o executivo, a Mahindra trabalha com uma margem operacional de 10%, índice muito acima da maioria dos fabricantes de veículos do Ocidente.

O custo da mão-de-obra na China é ainda mais baixo. Representa 5% do custo do veículo, segundo Goenka. O executivo prevê que daqui a algum tempo os custos dos chineses vão subir. Mas também a qualidade dos veículos chineses vai melhorar, lembra.

Goenka acaba de negociar com os franceses da Renault a produção na fábrica da Mahindra na Índia do modelo Logan, o mesmo carro que a Renault fabricará no Brasil ainda este ano. Com essa parceria, a Mahindra vai estrear no mercado dos automóveis.

Até aqui, a marca se concentrava na produção de picapes. Três modelos desse tipo de veículo - cabine simples, cabine dupla e um utilitário esportivo -, a preços entre R$ 70 mil e R$ 85 mil, serão produzidos na fábrica que a empresa ergueu no pólo industrial de Manaus (AM).

Mas a montadora indiana pode não ficar apenas nas picapes. Terceiro maior fabricante de tratores do mundo, a empresa está de olho nesse mercado fora da Índia.

Para ter as picapes no mercado brasileiro, a empresa fechou um acordo com a Bramont, uma empresa do grupo gaúcho Bringer, que atua no setor de autopeças e transporte de carga. A Bramont, é responsável pelo investimento de R$ 30 milhões no projeto. Os indianos entram com a tecnologia e vendem as peças que virão da Índia. A Bramont contratou a Usiparts, empresa do grupo mineiro Usiminas, para montar as cabines dos veículos.

Segundo o grupo brasileiro, a produção começa com 200 veículos por mês e os primeiros veículos já terão índice de nacionalização de 49%. A idéia é chegar a algo próximo de 60% de conteúdo local daqui a um ano. Até lá a Bramont pretende chegar a uma produção de 5 mil veículos por ano se a estratégia de venda de veículos indianos no Brasil der resultado.

A Mahindra, empresa que fatura US$ 3 bilhões por ano com 95% das vendas concentradas na Índia, começou a expandir as operações fora do país de origem. As vendas fora da Índia já cresceram 50% no ano passado. O plano é elevar a fatia das operações externas dos atuais 5% para 20% nos próximos três anos.

Goenka diz que em alguns países o grupo vai investir em fábricas próprias. Em outros, como é o caso do Brasil, a empresa prefere começar com parcerias com grupos locais. O executivo não elimina a possibilidade de aplicar recursos no Brasil se a atividade crescer. "Me perguntam, seu eu acho que ganharemos dinheiro com a produção de apenas 5 mil veículos por ano no Brasil. Mas nosso sistema permite ganhar dinheiro mesmo com baixo volume de produção", diz Goenka.