Título: Ações de bancos saltam com as especulações sobre o Real
Autor: Travaglini, Fernando
Fonte: Valor Econômico, 17/04/2007, Finanças, p. C3

A forte alta das ações de bancos no mercado internacional a reboque da disputa pelo holandês ABN AMRO chegou ao Brasil. As ações dos maiores bancos brasileiros apresentaram forte valorização, ontem. As units do Unibanco (certificados representativos de uma ação preferencial e uma ordinária) foram as que mais subiram, 6,39%, seguidas pelas ações do Bradesco - 5,68% para as ações ordinárias e 4,33% para as preferenciais. Itaú e Banco do Brasil também avançaram acima do mercado, que subiu 2,08%. Até o Banco Pine teve alta.

As explicações dos analistas vão desde a expectativa de que o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central manterá o ritmo de corte tímido do juro básico na reunião desta semana até boatos da abertura de capital da Redecard, desmentidos pela empresa. Mas a preferida foi o ajuste de preços dos bancos brasileiros. Os bancos não quiseram comentar o desempenho de suas ações nem rumores de mercado.

Para o analista da Corretora Socopa, Daniel Doll Lemos, a possibilidade da venda do Banco Real em separado do restante do ABN Amro pode motivar uma melhoria dos preços das ações de todo o setor bancário. "Falam até em um múltiplo de 20 vezes o P/L para a compra da operação brasileira", explica.

Ele lembra ainda que a queda do risco-país, uma das formas de se avaliar os bancos, ainda não está totalmente precificada. "Pela análise fundamentalista, os preços estão mesmo defasados", avalia. Enquanto o Ibovespa subiu 10% desde janeiro, alguns caíram.

O analista da Win, home-broker da Corretora Alpes, Fausto Gouvêa explica ainda que a diferença entre os preços das ações dos bancos e do índice não é comum, já que são papéis com baixa volatilidade e que acompanham o mercado (tecnicamente, equivale a dizer que possuem beta próximo de 1. "Os grandes players estão fazendo operações de long-short, ou zerando essas posições, comprando ações dos bancos no mercado a vista e vendendo índice Ibovespa no mercado futuro", explica.

Gouvêa lembrou que ontem houve fechamento de opções na bolsa, o que eleva os preços de companhias como Petrobras e Vale do Rio Doce, puxando o Ibovespa e aumentando a diferença. Além disso, hoje tem exercício de índice futuro na Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F).

O governo de Cingapura e o Banco UBS estão entre os investidores que, nas últimas semanas, compraram participações relevantes no Pine, que fez a primeira emissão de ações (IPO) em março. Segundo o banco informou à Comissão de Valores Mobiliários (CVM), as compras não têm por objetivo alterar o controle ou a estrutura administrativa. O Government of Singapore Investment Corporation Pte Ltd (GIC) já tem 3,8 milhões de preferenciais do Pine (8,36% da espécie). O GIC foi criado em 1981 para administrar mais de US$ 100 bilhões em reservas internacionais de Cingapura e aplica em 40 mercados. O UBS comprou 3,75 milhões de preferenciais (8,25%) "em benefício" de clientes, segundo o Pine.