Título: ABN Amro conquista liderança em volume e total de operações
Autor: Lucchesi, Cristiane Perini
Fonte: Valor Econômico, 12/03/2007, Especial, p. F2

Não foram apenas o empréstimo-ponte à Vale do Rio Doce, de US$ 18 bilhões, e o eurobônus que rolou o empréstimo, de US$ 3,75 bilhões, que garantiram ao ABN Amro o primeiro lugar no "Ranking Valor de Captações Externas" de 2006. O banco liderou nada menos do que 13 operações no mercado internacional no ano passado, o que colocou a instituição financeira na primeira posição também no ranking por número de operações.

O maior destaque de atuação do banco de capital holandês foi o mercado de empréstimos: o ABN foi também o primeiro colocado no sub-ranking de empréstimos do "Ranking Valor de Captações Externas". O banco participou de pré-pagamentos à exportação, empréstimos "stand-by" (que funcionam como um cheque especial), empréstimos para quitação antecipada de dívida mais curta e cara, do maior empréstimo-ponte dos mercados emergentes, para a Vale, mas também liderou emissão de bônus para a Braskem e Cosipa.

"Antes, ganhavam os rankings de captação externa os bancos que participavam das operações da República. Mas, neste ano, isso mudou", comenta João Teixeira, vice-presidente executivo do ABN. "A nossa vitória coroa a consistência da manutenção de nossa estratégia de investimento de longo prazo no país", diz José Berenguer, também vice-presidente executivo. "Nós damos há anos especial atenção também para os clientes não tão grandes, mas conseguimos ganhar as maiores operações do mercado", nota.

O banco realizou operações de captação externa para empresas novatas, como por exemplo a Tecsis, a Internacional Food Company e o frigorífico Independência, mas acabou participando também de empréstimos e bônus para empresas que são grau de investimento - têm o selo de investimento não-especulativo das agências de rating- como a Petrobras, a Vale do Rio Doce, a Votorantim e a Gerdau.

Segundo Berenguer, 2006 foi um ano "de grande avanço para as empresas e para o país". De acordo com ele, não apenas as empresas grandes, que viraram grau de investimento, conseguiram melhorar o perfil de sua dívida. A liquidez internacional chegou às médias e até pequenas, que deixaram o crédito bancário caro e de curto prazo e foram ao mercado de capitais, para emitir ações ou vender papéis no mercado internacional por prazos de vencimento de até dez anos.

"Muitas empresas deixaram de ser devedoras dos bancos e alongaram prazos" comenta. Para isso, essas companhias tiveram de passar por mudanças culturais importantes, uma maior profissionalização, formalização de suas atividades e por um processo de revisão do seu processo de governança corporativa.

Segundo Berenguer, "houve um fortalecimento dessas empresas, o que as torna mais competitivas". As companhias familiares, que não conseguiam se expandir, de repente se tornaram as empresas do futuro, com crescimento exponencial e com um processo importante de melhoria no perfil de sua dívida, comenta Teixeira.

As companhias maiores, as chamadas multinacionais brasileiras, captam a custo menor do que o governo brasileiro e já estão entre os maiores competidores internacionais. "As empresas brasileiras estão muito satisfeitas, pois se tornam competitivas", diz. As maiores companhias brasileiras perdiam de seus competidores internacionais só quando se tratava de custo de capital e agora a diferença de custo de capital foi reduzida e a competitividade, ampliada, o que deve continuar a estimular o mercado de fusões e aquisições.

Neste ano, a queda no custo de captação das empresas não tende a ser tão acentuada, visto que a redução no risco-Brasil deverá ser menor do que os 38,26% do ano passado, acredita Berenguer. Ele vê o risco-país no nível mais próximo de 150 pontos básicos, uma queda de 22,5% em relação aos 194 pontos básicos nos quais começou 2007.

Segundo ele, a diferença para o Brasil está no balanço de pagamentos: a dívida externa líquida acabou. "O Brasil já está vivendo o grau de investimento", acredita Berenguer. Hoje, mesmo se a China reduzir drasticamente o seu crescimento e contiver a expansão econômica no mundo, o impacto sobre o Brasil é menor, de acordo com Berenguer.

Apesar de todo esse céu de brigadeiro, "no que diz respeito ao crescimento econômico, a palavra certa é decepção", diz ele. "Eu esperava mais", afirma. Para Berenguer, a necessidade de estimular novos investimentos é "latente", principalmente em setores de infra-estrutura, e, se isso não acontece, não é por causa da falta de recursos. "Há muito gente querendo investir em infra-estrutura, há capital sobrando, fundos querendo investir, mas faltam projetos", afirma. Para ele, as "condições básicas de crescimento não estão dadas".

Teixeira acredita que as captações externas para a realização de grandes investimento devem acontecer, mas se restringir principalmente aos setores nos quais os altos preços internacionais das commodities mais ajudam. Nesse cenário, o ABN pretende "manter a consistência com nossa estratégia e fazer investimentos pontuais onde perceber necessidade", diz Texeira.

Já em 2005 o banco treinou sua equipe local em Nova York e Londres e ampliou a infra-estrutura no Brasil. Os negócios no mercado secundário de dívida externa de governo, empresas e bancos brasileiros foram trazidos para a mesa de operações no Brasil. O ABN foi o primeiro banco estrangeiro a deixar de operar a dívida brasileira externa de Nova York.

"Temos pessoal trabalhando aqui das 4h30 da manhã até às 9h da noite, por causa do fuso-horário diferenciado na Ásia e Europa", diz Berenguer. Segundo ele, "o pessoal de Londres e de Nova York liga para cá para saber sobre Brasil, pois as informações sobre o país estão concentradas aqui", afirma. A mesa de dívida externa brasileira conta com sete a oito pessoas e há dois analistas especializados em pesquisa de renda fixa para o Brasil.

Diferentemente da estrutura da maior parte dos bancos, o ABN Amro não tem um banco de investimento separado do banco comercial. No banco de atacado, há a equipe de João Teixeira, com cerca de 80 pessoas, que faz atendimento aos clientes, com o time dividido por tipo de indústrias. Sob a responsabilidade de Berenguer, fica a área de produtos de dívida e renda variável. Há um especialista em cada tipo de produto. Para 2007, a estratégia será se fortalecer no mercado de renda variável. Para isso, o banco vai contratar um chefe de pesquisa, um analista sênior e um analista júnior, entre outros.