Título: Aliados de Lula à frente de 14 dos 27 Estados
Autor: Felício, César
Fonte: Valor Econômico, 30/10/2006, Política, p. A11

Aliados no primeiro ou no segundo turno do presidente Luiz Inácio Lula da Silva irão governar 14 dos 27 Estados. Esta base inicial de sustentação regional do segundo mandato de Lula é formada por cinco dos sete novos governadores do PMDB, os cinco governadores do PT, os três do PSB e o governador reeleito do Mato Grosso, Blairo Maggi, em processo de saída do PPS. Atualmente, Lula conta com o apoio de governadores em treze Estados. A base de apoio presidencial está desigualmente distribuída: seis destes governadores estão no Nordeste e quatro no Norte.

Distantes do presidente, estarão os seis Estados governados pelo PSDB, os dois do PDT, os governadores pemedebistas André Puccinelli (Mato Grosso do Sul) e Luiz Henrique Silveira (Santa Catarina) - que concorreram coligados ao PSDB e ao PFL -, o governador pefelista José Roberto Arruda (Distrito Federal), o de Rondônia, Ivo Cassol (PPS) e o de Goiás, Alcides Rodrigues (PP).

No núcleo central da oposição ao Planalto, contudo, estarão apenas três destes governadores: os tucanos José Serra (São Paulo), Aécio Neves (Minas Gerais) e Yeda Crusius (Rio Grande do Sul). São os governadores com projeto de poder presidencial para 2010, casos do paulista e do mineiro, ou com um antagonismo direto em relação a todas as siglas que apóiam o presidente, caso da gaúcha.

Há situações em que o alinhamento do novo governador com a oposição é meramente formal, como o do Amapá, onde Waldez de Góes (PDT) só não apoiou abertamente Lula em razão da verticalização das coligações.

No Maranhão, o outro pedetista vitorioso, o governador eleito Jackson Lago, conta com uma proximidade histórica do presidente. Seu afastamento se deu por questões locais e o pedetista chegou a ter o apoio da seção maranhense do PT.

A frente dos aliados de Lula também está longe de ser consistente. O eixo orgânico do situacionismo nos Estados está ancorado fora do Sul e do Sudeste: é formado por três governadores nordestinos e um nortista: os petistas Jaques Wagner (Bahia) e Ana Júlia Carepa (Pará) e os socialistas Eduardo Campos (Pernambuco) e Cid Gomes (Ceará). Blairo Maggi poderá se juntar ao grupo, dependendo de sua nova opção partidária.

Um dos maiores plantadores de soja do mundo e à frente do segundo maior Estado em produção de grãos do país, Maggi é uma possibilidade estratégica para o governo de estabelecer uma ponte com o agronegócio.

Entre os restantes, há situações em que o apoio entre o eleito e o presidente foi circunstancial e pode não permanecer. No Rio de Janeiro, o alinhamento do novo governo estadual é dúbio: o eleito Sérgio Cabral (PMDB) não teve o apoio de Lula no primeiro turno.

O presidente aliou-se ao senador Marcelo Crivella (PRB) e ao ex-deputado Vladimir Palmeira. No segundo turno, o PMDB fluminense dividiu-se, com a governadora Rosinha Garotinho e seu marido, o ex-governador Anthony Garotinho, apoiando o candidato tucano à Presidência, Geraldo Alckmin. No Senado, Cabral votou alinhado com a oposição na maioria das ocasiões entre 2003 e este ano.

O PT terminou as eleições regionais este ano com o melhor resultado de sua história em número de governadores (elegeu cinco, ante três em 1998 e 2002 e dois em 1994). O desfecho desta eleição deve provocar um deslocamento do poder dentro do partido, com as derrotas petistas em São Paulo, Rio Grande do Sul e Minas Gerais, que eram as bases tradicionais da sigla.

O PFL obteve seu pior resultado em disputas estaduais desde 1986, quando só ganhou em Sergipe. A vitória isolada de Arruda no Distrito Federal neste ano contrasta com as quatro vitórias de 2002, as seis de 1998, as duas de 1994 e as sete de 1990.

Filiado ao partido desde 2001, o novo governador do Distrito Federal não faz parte do núcleo de decisões da sigla, composto pelo senador Marco Maciel (derrotado em Pernambuco ao apoiar a reeleição de Mendonça Filho), o senador Antonio Carlos Magalhães (perdedor na Bahia com a tentativa de Paulo Souto de se reeleger), o prefeito do Rio de Janeiro, Cesar Maia (derrotado ao apoiar Denise Frossard, do PPS) e pelo senador Jorge Bornhausen, presidente nacional da sigla, que não se recandidatou para renovar o mandato em Santa Catarina. Presidenciável do partido em 2002 e pivô do rompimento pefelista com o PSDB naquela eleição, a senadora Roseana Sarney, surpreendentemente derrotada no Maranhão, deverá ir para o PMDB.

O PSDB numericamente recuou em relação a 2002 de sete para seis governadores, mas avançou em importância: dirigirá agora Estados que somam 51% do PIB nacional e 42,9% do eleitorado. Torna-se entretanto um partido com poder desigualmente distribuído. Está fora do comando no Centro-Oeste e só ganhou no Norte e Nordeste em Estados pequenos em eleitorado e expressão econômica: Roraima, Alagoas e Paraíba. Durante 16 anos o partido comandou o Ceará e durante 12 anos o Pará, perdidos nesta eleição.

O PMDB sobe de cinco governadores em 2002 para sete este ano, com sua vertente governista reforçada. Da safra de eleitos, três entraram no partido pelas mãos do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL): Paulo Hartung (Espírito Santo), Marcelo Miranda (Tocantins) e Eduardo Braga (Amazonas). Mas o resultado esteve longe das ambiciosas projeções que a cúpula pemedebista fazia no início do ano, quando previa a eleição de dez governadores. Os pemedebistas aliados de Lula não conseguiram reverter situações adversas na Paraíba e em Goiás. No Paraná, o governador Roberto Requião reelegeu-se com apenas dez mil votos de margem.

Os caciques da sigla aliados ao Planalto também jogaram um papel estratégico na eleição tanto de oposicionistas quanto de situacionistas. No Pará, o apoio do deputado Jader Barbalho foi essencial para garantir a vitória de Ana Julia. Em Alagoas, o tucano Teotônio Vilella Filho dificilmente se elegeria sem a aliança com Renan. A ala do partido anti-petista enfraqueceu-se no Rio Grande do Sul, em Pernambuco e no Rio Grande do Norte.

O instituto da reeleição mais uma vez marcou o processo eleitoral. Dos 20 governadores que eram candidatos à reeleição, 14 conseguiram um novo mandato e seis foram derrotados. Desde que o mecanismo foi introduzido, em 1997, houve 87 candidatos a um novo mandato a presidente, governador ou prefeito de capitais de Estado. Em 71% dos casos, ou 62 ocasiões, a tentativa de conseguir um novo mandato foi bem sucedida.