Título: Inchaço do DF é desafio extra
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Fonte: Correio Braziliense, 08/11/2010, Opinião, p. 14

Ao antecipar dados do Censo 2010 e apresentar um resultado prévio da situação demográfica do país, o Correio Braziiense revelou, na sexta-feira passada, indicadores preocupantes para o Distrito Federal. A densidade populacional desta unidade federativa é excepcionalmente maior do que a dos estados: 425,63 habitantes por quilômetro quadrado. Em segundo lugar aparece o Rio de Janeiro, com 347,41hab/km². Em terceiro, São Paulo tem 160,85hab/km². Não bastasse, o crescimento da densidade demográfica do DF também é, de longe, recordista: mais 72,11hab/km², em relação a 2000, contra 18,62 a mais no Rio, de novo na segunda colocação.

Para piorar, a população dos municípios goianos do Entorno também cresce de forma acelerada, tendo aumentado 25% nos últimos 10 anos. Como são pessoas que, em boa parte, recorrem ao DF em busca de empregos e serviços, a sobrecarga da vizinhança não pode ser desconsiderada quando se pensa em saúde, transportes, segurança e educação na capital da República. E a infraestrutura urbana em Brasília pede socorro não é de hoje. Para começar, 25% dos locais vivem em áreas irregulares, num claro sinal da deteriorização da qualidade de vida, comprometida pela invasão de terras que teve pico nos anos 1980.

O quadro deve servir de advertência para o governador eleito, Agnelo Queiroz. Primeiro, a ação conjunta dos governos distrital, goiano e mineiro, sempre anunciada para a região e nunca concretizada a contento, precisa sair do papel, sem demora. O Distrito Federal não pode negar atendimento a brasileiro algum, mas governadores e prefeitos vizinhos tampouco podem negligenciar suas responsabilidades. Cabe bem mais a eles do que apenas adquirir ambulâncias e ônibus escolares e despachar cidadãos para Brasília ¿ o que não exime o GDF de oferecer serviços públicos de qualidade a todos que aqui os procurem.

A realidade impõe esforços extras mas não serve de desculpa. Até porque a demanda é previsível e só refluirá com anos de prática de políticas públicas coerentes. Dizer que faltam leitos, macas, profissionais e material básico nos hospitais por conta dos moradores do Entorno é uma falácia. O mesmo vale para a frota de ônibus insuficiente, obsoleta, que presta serviços precários, com irregularidades na frequência, na pontualidade e até nos itinerários. Também serve para a ausência de policiamento ostensivo, que abre espaço à livre ação de marginais e ao uso de drogas em espaços de convivência urbana.

Brasília foi concebida para chegar à virada do milênio com 500 mil habitantes. Vinte anos antes, já somava 1,2 milhão. Hoje está com 2,5 milhões e é a quarta capital mais populosa no país, atrás apenas de São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte. Sem dúvida, a origem do descontrole está na indústria das invasões, que prosperou graças a uma situação fundiária caótica. Portanto, urge regularizar as terras do DF e dar combate sem fim às ocupações irregulares. No mais, os governantes devem fazer o que lhes cabe em todo canto do planeta: governar para todos, cuidando do bem comum, com atenção especial para o bem-estar dos cidadãos.